Velho e desorientado Cabral, bom dia. Hoje este país que você descobriu (depois de já ter sido descoberto, ora pois), comemora 525 anos da sua chegada à região de Porto Seguro, depois do Monte Pascoal ter sinalizado que ali estava um pedaço de terra.
Tanto o monte como o porto não tinham tais nomes, foi você que os batizou. Bem, isso deu certo.
Mas não se vanglorie muito, você tem sido muito criticado. Primeiro, porque não era aqui que sua nau deveria aportar. Você errou de continente e bateu com os costados do lado de cá. Nada elogiável sua desorientação.
Além do mais, o Vicente Pinzón já tinha andado lá pelas bandas de Pernambuco três meses antes da sua chegada. Logo, você usurpou para Portugal as terras que deveriam ser espanholas. Nesse caso, sou obrigado a apoiá-lo. Se fôssemos castelhanos, não seríamos brasileiros, mas partes de inúmeros países – basta a ver a lambança que os espanhóis fizeram no restante da América Latina.
Mas, o pior veio em seguida. Seu escriba, o Caminha, era cobiçoso, tratou logo de pedir ao rei uma sinecura para o genro, às voltas com a justiça lá na matriz. Como você não se tocou, o costume de pedir benesses governamentais foi institucionalizado. Até hoje vigora essa pouca-vergonha. A culpa é sua, Cabral.
Deve ser por essa razão que seu nome nem consta da relação dos Heróis da Pátria. Há dezenas deles no panteão, mas ninguém lembrou de incluir você.
Nem feriado o dia do “descobrimento” é. Você foi superado pelo Tiradentes, dono do feriado de ontem e um dos heróis citados. Bem-feito. Hoje a gente poderia estar de papo pro ar, em um resort lá em Trancoso, pertinho do Monte Pascoal, tomando uma cerveja gelada, degustando uns tira-gostos de camarão, mas não. Estamos no batente, eu batucando esta crônica, o leitor a digerir as minhas divagações.
Cabral, você me lembra o Vasco da Gama. Não estou falando do seu antigo comandante, o que descobriu o caminho da navegação para as Índias. Você estava junto, deveria ter aprendido a olhar à frente para não se perder na estrada. Aquele sabia das coisas, mas não parece ter sido bom professor.
Refiro-me ao time de futebol, eterno vice. Acho que é para esse Vasco que você torce.
Trate de comprar uma bússola decente para se orientar na viagem à Brasília e vá reclamar ao Senado da República sua inclusão entre os heróis, reivindicar um feriado que o homenageie.
Não acredito muito nos resultados. Aqui pra nós, Cabral. Você perdeu!