Se cada doido tem sua mania, este doido aqui sofre de agorafobia, situação que causa ataques de pânico. Restringe-se a solenidades, shows, casamentos em ambientes fechados. O ato de ficar espremido entre circunstantes causa-me uma incontrolável vontade de fugir. Nos teatros, a Tânia já sabe que a condição para a minha presença é garantir assento nas pontas da plateia, de forma que possa sair a qualquer tempo.
Há algumas condições que são perfeitas para a patologia se instalar: casa de shows pintada de preto e sem janelas, luz estroboscópica, gelo seco e música padrão bate-estaca me levam ao paroxismo. Foi o que sofri em um evento de formatura, há alguns anos.
Já em um casamento no castelo do Batel, o pavor era tanto que fui vítima de uma trágica dor de barriga. Como o estado infecto dos banheiros me impediu de usá-los, chamei um táxi e fui até em casa, para voltar quando o jantar já ia a meio. Não, não houve necessidade de trocar de roupa.
Sobre casamentos, a propósito, o pânico se instala quando chega o convite. Aquele papel-cartão bege, elegante, dentro de um plástico, já é suficiente para me fazer sofrer, por saber que a minha hora vai chegar.
Outra característica interessante da síndrome são os atos falhos. Por exemplo, em viagens que envolvem solenidades ou sessões de autógrafos, costumo esquecer certos itens. Sapatos, de preferência. Em duas ocasiões fui obrigado a comprar sapatos para não entrar de havaianas nos eventos. E se não forem os sapatos, serão outras peças de vestir. Já esqueci até a nécessaire.
Tudo isso alia-se ao desconforto de cuidar de procedimentos exigidos para viagens. A letargia costuma ser confundida com a preguiça, mas os dois defeitos são distintos. Há dez anos recebi um convite para ir ao México, com tudo pago. Meu passaporte estava vencido, razão suficiente para eu desistir da viagem. A trabalheira que acompanha o ato de renovar passaporte era conhecida: melhor, não! Acontece que a Sílvia, jornalista que exerce todos os dias a ingrata função de ser minha assistente, me enquadrou:
– Tu vai, chefe!
Fui. Em primeiro lugar, até a Polícia Federal, para conseguir um passaporte de emergência e viajei para cobrir o evento – lançamento da Fundação Kasparov, com a presença do mítico ex-campeão mundial de xadrez. Tudo o que gastei foi, pasmem, uma Coca-Cola. Uma oportunidade única, que o depoente aqui iria perder.
Pois é, cada doido com sua mania, embora alguns sejam internados por muito menos do que o narrado nestas linhas. Só peço que não me vistam com camisa de força. A visão de estar amarrado àquele traje torturante me dará um ataque de agorafobia instantâneo e fatal.
Mas, como afirmado no título do meu novo livro, a ser lançado no próximo sábado, dia 18, a partir das 11h, no bar Ao Distinto Cavalheiro, são apenas “Pequenas Aberrações de um Sujeito Quase Normal”.
Estão todos convidados, já que o autor ficará sentado ao lado da porta, sem dar chances para o pânico aparecer.
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