Dia desses, no grupo de WhatsApp da Academia Paranaense de Letras, discutimos a reedição de autores paranaenses. A conversa incluiu Etel Frota, vivendo na Nova Zelândia, onde tenta traduzir a escritora Janet Frame, enquanto sofre nas mãos da sobrinha da autora, sua executora literária.
Reedições e traduções padecem com suas circunstâncias. Aqui no Paraná há o exemplo da obra de Jamil Snege, ainda não reeditada – com a exceção de Viver é Prejudicial à Saúde – por conta da interminável pendenga entre a viúva e seu enteado Daniel, este interessado na reedição da obra paterna. Pelo menos, sua obra está sendo estudada nos meios acadêmicos, como reporta a escritora Luci Collin.
Já com a produção de Paulo Leminski, seu legado é bem administrado por Alice Ruiz e suas filhas. Catatau, a obra magistral do poeta, já recebeu uma bela edição da Travessa dos Editores, com curadoria de Marta Morais da Costa. Sua obra poética, as biografias que escreveu e as canções compostas também estão no mercado.
Agora a Academia Paranaense de Letras, sob o comando de Paulo Vitola, se prepara para publicar de Leminski, em edição fac-símile, o muito falado, mas pouco conhecido, livro de poemas Não Fosse Isso e era Menos, Não Fosse Tanto e Era Quase. O livro foi publicado no início dos anos 1980 com patrocínio da Zapp Fotografias, de Dico Kremer e Márcio Santos, reproduzindo fotograficamente os poemas escritos em máquina de escrever manual.
Em 2018, a mesma APL, em parceria com a Biblioteca Pública, reeditou pelas mãos de Marcio Renato Santos a obra de Ernani Reichmann, A Noite do Absoluto. Escritor com forte influência kierkigaardiana, Reichmann publicava livros para poucos amigos. A Noite do Absoluto é um grande livro, que o trouxe de volta à cena literária, muitos anos após ter falecido.
Emiliano Pernetta (com dois “t”, por favor, como grafado à época) acaba de ganhar a reedição de sua obra graças aos esforços de Claudecir Rocha, da Editora Anticítera, e do poeta Ivan Justen Santana. Excelente registro, recuperando a produção do poeta simbolista, que Dalton Trevisan, em meio aos arroubos da juventude, desconsiderava.
O mesmo Dalton renegou seus livros dos anos 1940, embora há pouco tempo, de forma surpreendente, tenha concordado com uma nova edição de Sonata ao Luar, na exígua tiragem de 150 exemplares pela Arte&Letra – a editora que conseguiu reeditar o livro de Jamil Snege. Trabalho admirável dos irmãos Tizzot.
Fábio Campana, falecido em 2021, não chegou a ver impressa a edição de sua novela A Última noite de Cabeza de Vaca, produzida pela Editora Almedina, com direção editorial do também escritor Deonísio da Silva.
O já mencionado Claudecir Rocha agora se debruça sobre a obra poética de Rodrigo Júnior, esquecido desde que Wilson Bóia publicou ensaio sobre ele em 1991.
Existem, ainda, muitos outros a publicar em edições modernas e bem cuidadas. Por exemplo, Emílio de Menezes, poeta, boêmio, debochado, membro da Academia Brasileira de Letras e patrono da Cadeira nº 31 da APL. Seria um excelente presente para qualquer estante literária.
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