Em agosto de 1972 fui contratado por uma agência de propaganda do Rio de Janeiro como terceiro redator e revisor, por indicação de Theo Drummond, amigo de juventude que lá trabalhava no setor de atendimento. A partir de então, a publicidade iria ditar meus passos por mais de 30 anos, período em que fui subindo degraus, até chegar a diretor de criação e, mais tarde, já de volta a Curitiba, sócio de diversas agências.
Às vésperas dos 24 anos, peguei o elevador para o 16º andar, onde funcionava tanto o setor criativo como o administrativo da LM Propaganda, dirigida por Lindoval de Oliveira e Márcio Murgel. A equipe de criação, dirigida pelo roteirista de cinema Leopoldo Serran, era formada por oito pessoas, eu incluído.
O primeiro job a aportar na minha mesa foi sobre um show da fadista portuguesa Amália Rodrigues, patrocinado por um dos clientes da agência. O diretor de arte Antônio Pacot salvou minha pele, criando título (Um amor de Amália), layout e ilustração. Coube-me colocar as informações: data, local (Canecão), horários e valores dos ingressos.
O melhor daquele 16º andar era a vista da Baía da Guanabara. Por quase um ano assisti ao avanço das obras da Ponte Rio-Niterói, embora tenha deixado a LM antes que as duas partes da ponte se encontrassem no meio da baía.
Os horários de almoço eram aproveitados para um sanduíche no Bob’s. Depois, vasculhava os sebos das ruas São José e do Ouvidor ou passava o tempo que me restava lendo no fantástico ambiente do Real Gabinete Português de Leitura.
Lembrei de tudo isso há alguns dias, quando voltei a caminhar pelas ruas do Castelo, a região central do Rio que um dia abrigou o morro homônimo, destruído em 1922 em uma das reformas urbanísticas da cidade. Entrei na Rua México e fiquei surpreso em saber que a livraria Zahar, abrigada no térreo do nº 31, continua lá, agora com o nome de Galáxia, ainda que pertencente à mesma família. Encontrei lá alguns bons livros que tratei de incorporar as minhas humildes estantes.
Andar por onde já andei, em cidades em que vivi ou em que trabalhei, é um dos meus passatempos favoritos. São as referências que formam o meu patrimônio imaterial, este que todos trazemos bem consolidados na memória.
Posso garantir que esses passeios não têm contraindicação, não exigem posologia e podem ser consumidos sem moderação. São santos (e profanos) remédios para o stress.
Texto agradável, ótimo conselho.