Há tempos encontrei em São Paulo um redator publicitário das antigas, com quem eu havia trabalhado décadas antes. Era dono de algum talento, mas as grandes agências tinham-lhe fechado as portas. Restou migrar para o interior paulista, onde assumiu o setor de comunicação de um laboratório farmacêutico. Entre um café e outro me contou a história abaixo.
A empresa fabricava um xarope de alcatrão que andava perdendo mercado na região. Era preciso criar uma estratégia para superar a queda. O meu amigo criativo andava frequentando o estádio da cidade, escolhido como sede de um grupo da Copa São Paulo de Juniores, a Copinha, a começar dali a alguns dias. O Corinthians era o cabeça de chave do grupo. No time local jogava um sujeito franzino, mas muito rápido, apelidado de Torpedo.
Ele pensou em um merchandising ao vivo, a ser veiculado depois do último jogo preparatório da chamada Águia da Mogiana. Criou o script:
Repórter: Torpedo, o Corinthians vem com tudo na Copinha.
Torpedo: Se eles vierem, vão ver o que é bom pra tosse.
Repórter: E o que é bom pra tosse, Torpedo?
Torpedo: Xarope de Alcatrão Virtude.
Repórter: Torpedo sabe das coisas, Xarope de Alcatrão Virtude, o melhor para sua saúde.
Acertaram um cachê de R$ 200 para o Torpedo – que pediu o dinheiro adiantado, o salário andava atrasado – e um contrato com a rádio local para veicular a gravação da entrevista nos programas esportivos da emissora. Um mês de programação.
No domingo, depois do último amistoso da Águia, o repórter abriu o microfone para o jogador:
– Torpedo, o Corinthians vem com tudo na Copinha.
– Se eles vim vão vê o que é bão pra tosse.
– E o que é bom pra tosse, Torpedo?
– Xarope de cartão…xarope de catrão, esqueci a porra do nome…
A campanha naufragou antes de começar. O xarope saiu do catálogo, o time fez um papelão na Copinha e o ex-Torpedo passou a ser conhecido como Torpeidinho. Não foi além do sub-20.
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