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SERGIO-CABECA-COLUNA

Agenda cultural

14/11/2024

O mês de novembro, em Curitiba, está repleto de atrações culturais. Hoje vou dar a dica de uma que vai acontecer e outra que já ocorreu, mas ainda é possível aproveitar.

No dia 6 de novembro, assisti um evento denominado Semana EJA, realizado pela diretora da Escola Municipal Tanira Regina Schmidt com a participação de mais dois colégios: CEI Romário Martins e Cei Lauro Esmanhoto com a seguinte programação:

Exposição de Poemas Traduzidos de alguns dos maiores poetas do mundo, em gigantografia, denominada Beijo de Língua e também em impressos no tamanho A3 como forma de doação para as escolas. No dia houve uma palestra emocionante sobre tradução e leitura de poemas pelo tradutor e poeta Antonio Thadeu Wojciechowski. Depois aconteceu a distribuição gratuita de sacolas da exposição com poemas escolhidos pelos alunos que puderam levar para casa cópias símiles aos painéis expostos, gratuitamente. Esta foi a contrapartida social do projeto “Beijo de Língua” do poeta Thadeu Wojciechowski apresentado originalmente na Biblioteca Pública do Paraná. Mais um fruto da Lei Paulo Gustavo apoiado pela Fundação Cultural de Curitiba.

Em seguida, houve um show gratuito da banda Estação da Música que consiste de um trio de músicos experientes, com Matheus Masioli no piano e baixo, Eli Santos, no sax alto, e Márcio Rosa, na percussão, criada para tocar música de qualidade em locais públicos de Curitiba. Um show à parte foi a participação da intérprete de libras Maria Emília, que cantou muito bem algumas músicas, ao mesmo tempo que realizava seu ofício.

Você terá oportunidade de assistir esta mesma apresentação musical hoje e amanhã no Mercado Municipal de Campo Raso. Segue o repertório de músicas de grande apelo popular do show de uma hora de duração:

1 – Só danço Samba (João Gilberto)
2 – Assanhado (Jacó do Bandolim)
3 – Água de Beber (Jobim e Vinícius)
4 – Wave (Tom Jobim)
5 – O Coco (Henrique Mhao)
6 – Bebê (Hermeto Pascoal)
7 – Xote das Meninas
8 – Esperando na Janela (Gilberto Gil)
9 – Tocando em frente (Almir Sater)
10 – Não quero dinheiro (Tim Maia)
11 – Colombina (Ed Motta)
12 – Sá Marina (Wilson Simonal)
13 – Oceano (Djavan)
14 – Se (Djavan)
15 – Final Feliz (Jorge Vercillo)

Serviço

Apresentação Música Instrumental: Estação da Música (Trio Musical)
Datas: de 13 a 15 de novembro de 2024
Quarta e quinta-feira, às 19 horas
Sexta-feira, às 13 horas
Entrada franca
Local: Praça da alimentação do Mercado Municipal Capão Raso
Endereço: Rua Otto Cabel, 51 – Novo Mundo – Regional Pinheirinho

500 Frases da Música do Mundo

Semana passada foi lançado o livro “500 FRASES DA MÚSICA DO MUNDO”, de Eduardo Mercer. Colecionador de música desde criança e também apreciador do mundo da literatura, Mercer sempre prestou atenção nas letras de música, seja quanto à estética e ao conteúdo. O autor curitibano, que em 2017 publicou “Uma fina camada de gelo: o rock autoral e a alma arredia de Curitiba”, sobre a cena musical de sua cidade, agora contempla os leitores com o livro “500 Frases da Música do Mundo – O humor e a sabedoria dos melhores letristas de todos os cantos”.

Em suas 128 páginas, este trabalho reúne frases, estrofes e trechos de músicas de estilos dos mais diversos (rock, blues, pop, samba, reggae, MPB, rap, músicas tradicionais de vários países, entre outros). Mostra músicos e compositores se expressando de diversas formas sobre sentimentos universais, como amor, alegria, tristeza e faz um interessante apanhado de pensamentos que podem gerar reflexões para o leitor. A origem desta obra é fruto de um hábito do autor, de anotar e citar máximas e expressões retiradas não só de letras de músicas, mas também de livros, filmes, provérbios, ditados, entre outras manifestações culturais. “Há mais de vinte anos, comecei a listar essas frases, sem compromisso. Até que uns anos atrás surgiu a ideia de compilar as que foram retiradas exclusivamente de letras musicais e lançar esta seleta”, relata Mercer. “Quando surgiu a ideia, eu já tinha uma boa quantidade de frases preferidas. Daí entrou o trabalho de pesquisa, para contemplar estilos musicais que não costumo ouvir e encontrar músicas tradicionais de países distantes, como Argélia, China, Macedônia e Sri Lanka, por exemplo”, completa.

Em muitos casos, as canções tradicionais destes e de outros países citados pelo autor lidam com questões filosóficas e formas de lidar com a vida e suas questões de uma maneira diferente da visão ocidental. Segundo Mercer, a pesquisa realizada recentemente para complementar a seleção feita ao longo de décadas trouxe um colorido interessante à coletânea. “Muitas vezes são formas diferentes de se expressar sobre sentimentos universais: a importância do amor e do dinheiro, frustrações amorosas, fontes de alegria, superação de momentos ruins.”

A variedade de nomes presentes é extensa e eclética, com estrofes de músicas de artistas como Beatles, Jerry Lee Lewis, Madonna, Cartola, Judas Priest, Whitney Houston, Chico Buarque, Odair José, B.B. King, Rolling Stones, Nelson Ned, Rush, Jewell, Paralamas do Sucesso, Caetano Veloso, Dorival Caymmi, Muddy Waters, Teodoro & Sampaio, MV Bill, Noel Rosa, Reverend Horton Heat, Tom Zé, Itamar Assumpção, The Cramps, Zé Ramalho, entre tantos outros. Entre os artistas nacionais, Curitiba está contemplada com frases de músicas de Paulo Leminski, Beijo AA Força, Maxixe Machine e Ídolos de Matinée. Até este escriba está presente com um trecho de “Espírito de Luta” escrito em parceria com Marcos Prado.

Alguns cantores e compositores aparecem com bastante frequência por serem, segundo o autor, letristas que enxergaram melhor a época em que viveram ou souberam sintetizar sentimentos universais. “Essa, por sinal, é a maior qualidade de um escritor ou poeta: colocar em palavras o que você ou eu pensamos, mas não conseguimos expressar. Pode-se não adorar as músicas deles, mas esses caras eram ou são letristas e pensadores extremamente afiados”.

“500 Frases da Música do Mundo” traz não só uma gama variada de estilos musicais e países de origem, mas também de épocas. Isso se mostra interessante para avaliar mudanças de pensamentos com o passar dos tempos. Porém, algumas estrofes de canções mais antigas podem carregar pontos de vista e até maus hábitos do período em que foram escritas. Por exemplo, o livro contém uma frase indiscutivelmente repreensível de uma música da Jovem Guarda. “Está lá porque é útil rever o passado, saber como as coisas eram tratadas e analisar se a humanidade evoluiu em seus costumes, no respeito ao próximo”, justifica o autor.

O livro conta com prefácio do escritor curitibano Roberto Prado, que conecta a ideia da seleção de estrofes com a proliferação dos aforismos, que estão onipresentes de bilhões de maneiras e se multiplicam pelo mundo na forma de posts e mensagens em redes sociais, ajudando as pessoas a se expressarem de forma sintética para um ou muitos interlocutores. Sinta a delícia do texto:

O pescador de pérolas na terra das canções mudas

Roberto Prado

Aforismo é o gênero literário do momento, onipresente de bilhões de maneiras, todas as horas do dia, na imensidão do universo digital. Anteriormente limitado a círculos intelectuais, hoje ele se multiplica pelo mundo na forma de posts e mensagens, ajudando as pessoas a se expressarem de forma sintética para um ou muitos interlocutores. De forma direta ou em recados de sentido oculto, falando do ambiente social ou revelando nossas perplexidades interiores, essas frases lapidares alimentam as redes com ideias, sentimentos, estados de humor, queixas, ameaças, rompimentos, denúncias, declarações de amor, preferências religiosas, esportivas ou ideológicas, enfim, são munições para quem quer ocupar seu espaço no mundo virtual. Originado de uma forma nobre de escrita venerada desde a antiguidade, com expoentes como Sêneca, Cícero, Horácio, Juvenal – isso para ficar apenas na tradição do Ocidente –, o aforismo, sob seus diversos nomes, ressurgiu e se espalhou de forma avassaladora. Agora, até mesmo aqueles que não têm dom, prática, treino e tempo para criarem seus próprios textos lacradores podem terceirizar suas necessidades de comunicação. Existe algo mais prático do que a apropriação temporária de frases concisas e expressivas, capazes de transformar em observações perspicazes, divertidas, emocionantes ou profundas aquilo que você mesmo gostaria de dizer? Para atender a essa demanda, existem inúmeros sites especializados no assunto, com sistemas de busca por autores, temas e épocas. Ali se fornece não apenas a frase desejada, mas o produto final pronto para uso, com tipologia, fotos, ilustrações e a indispensável assinatura, pois a reputação do autor ou autora é chancela e selo de garantia da postagem. Ou, como diz o belo aforismo da dupla João Bosco e Aldir Blanc, “a cada bola tentada existe, além da tacada, a fama do jogador”. Nesse ponto, alguns podem estar se perguntando: “Quando ele finalmente abordará o tema, o novo livro de Eduardo Mercer, 500 Frases da Música do Mundo?” Para os leitores mais inquietos, respondo com um aforismo de Jean-Jacques Rousseau: “A paciência é amarga, mas seu fruto é doce”. Vamos com calma, pois, na verdade, já embarcamos juntos na obra desde a primeira palavra: conhecer os seus contextos a tornará ainda mais saborosa. Por exemplo, essa frase enaltecendo nossa santa paciência. Ela pode muito bem não ser do Rousseau, mas uma citação de Aristóteles utilizada por ele em algum livro e dali extraída por um leitor menos atento – e impaciente. Aliás, é um fenômeno universal a troca de autores em grande parte das postagens na internet – e não apenas nela. Há os casos de se creditar a sabedoria de um a outro. E o inverso também é válido, quando se coloca uma assinatura respeitada em uma frase absolutamente fora do universo do suposto autor, em certos casos beirando a heresia. No Brasil, as principais vítimas são Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Mário Quintana, Millôr Fernandes e Nelson Rodrigues, entre outros. Além desses erros involuntários, há os de caso pensado, quando o autor da postagem (e da frase) resolve assiná-la não com seu próprio nome, mas com o de alguém universalmente reconhecido, para aumentar a credibilidade. E aqui, ufa, chegamos às 500 Frases da Música do Mundo, criteriosamente selecionadas por Eduardo Mercer, um escritor que tem um conhecimento verdadeiramente enciclopédico quando o assunto é o universo da canção. Mais que conhecimento, amor, que o faz extremamente cuidadoso em suas pesquisas. Então, pode ficar sossegado quanto à autoria de todas as 500 pérolas que vai encontrar neste livro. Isso é importantíssimo, pois, na imensa vertente dos aforismos musicais desaguados no mundo, muitos refrões marcantes são creditados a quem os canta (inclusive bandas) e não ao compositor. Outro destaque do livro é a estonteante variedade que se revela nos trechos das canções selecionadas, um trabalho minucioso e feito sem nenhum preconceito de estilo, época, nacionalidade, estrato social de compositores e seus ouvintes. Tanto é que certas frases foram garimpadas de autores e obras que não são comumente colocados no panteão das frases lapidares. É brega? É pop? É underground? É comercial? É tradição? É inovador? Não há mal algum em buscar especialmente o que nos toca o coração e a inteligência, escolher aquilo que nos conforta e compreendemos sem muito esforço. Mas pode não ser uma boa ideia limitar nossa relação com a linguagem a ponto de aprovarmos apenas os grunhidos do nosso bando, por mais melódicos que eles possam soar. Ponto para o Mercer: nas canções mudas desse livro todos estão representados – nivelados por cima. Mas, é claro, faz parte da leitura você sentir falta de alguns autores e desejar a ausência de outros tantos.

Por fim, voltamos em looping ao velho debate: letra de música é poesia? Pode ser – ou não, dependendo da habilidade do compositor –, exatamente como acontece com a forma escrita. Preto no branco da página, tirando a roupagem sonora, o que sobra? A discussão é antiga, mas não custa repetir aqui mais uma vez que a poesia começou como letra de música, muito, mas muito antes mesmo, da invenção do livro. Obras básicas da civilização, como a Ilíada e a Odisseia de Homero, por exemplo, eram poemas cantados e foi assim que atravessaram os milênios, até serem transpostos para a forma de livro. Pausa para louvar a memória desses artistas e lamentar o ouvido absoluto (muito comum na época) e a consequente falta de partituras musicais que nos permitissem conhecer as formas cantadas desses grandes clássicos. Aforismos, adágios, ditados, máximas, motes, gnomas, parêmias, prolóquios, provérbios, apotegmas, sentenças, axiomas, epigramas, epítomes, preceitos, poemas – no que se transformam essas 500 Frases da Música do Mundo quando em contato com a nossa sensibilidade? Isso é com você. Aí reside a graça da leitura. E da vida.

O mais interessante de tudo isto é que se eu, Sérgio Viralobos, fosse escolher 500 frases de letras de minhas músicas preferidas seria completamente diferente deste livro. Viva a diversidade!

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