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frente fria sergio viralobos SERGIO VIRALOBOS

Exposições Brasil afora

15/08/2024
exposições

Em fevereiro de 2022, o Grupo Hoje lançava seu primeiro portal de notícias: o HOJEPR. Dois anos e seis meses depois, e acumulando quase 15 milhões de leitores nesse período, está abrindo o HOJESC, em Santa Catarina. Dia primeiro de abril de 2022 iniciamos este espaço denominado Frente Fria para um público ávido por uma coluna cultural. Dito isto, quero falar de duas exposições que estão ocorrendo em São Paulo e Londrina, onde, certamente, também temos muitos leitores. E que podem ser visitadas por curitibanos em viagem pelas duas cidades.

A primeira exposição ocorre em São Paulo e foi uma dica de milha filha Flávia Ribas, header da Index, empresa de assessoria de imprensa da Inspirar-te, associação sem fins lucrativos que promove impacto social e cultural e concebe, de 3 de agosto a 22 de dezembro de 2024, a mostra “Anne Frank: deixem-nos ser”, na Unibes Cultural. A iniciativa é inédita no Brasil e estabelece um diálogo sensível entre temas contemporâneos, tais como a valorização da diversidade, direitos humanos, questões indígenas, de gênero e raciais — apresentados por meio de obras de relevantes artistas nacionais e internacionais. Celebrando a vida de Anne Frank, constrói-se um percurso de contextualização histórica e reprodução fiel do famoso Anexo Secreto (foto acima).

A construção da narrativa foi baseada em três momentos, conectando contextualização histórica, vivência de Anne Frank e os dias de hoje. Em um percurso expositivo imersivo, a mostra utiliza O Diário de Anne Frank (1947) como obra fundamental para reconstrução da trajetória da luta pelos direitos humanos e combate ao racismo e antissemitismo. Marcando 80 anos após o último registro de Anne em seu diário, no dia 1º de agosto de 1944, e poucos dias antes do esconderijo ser descoberto e invadido, quando a família Frank foi presa, demonstra-se a força de sua memória e o compromisso em transmitir seu legado às próximas gerações. A última frase escrita no Diário, pela adolescente que sonhava em ser escritora e jornalista, foi: “Tento achar um modo de me transformar no que gostaria de ser e no que poderia ser se… se não houvesse mais ninguém no mundo.”

A reprodução fiel do Anexo Secreto é uma iniciativa inédita no cenário brasileiro, e conta com materiais exclusivos fornecidos pela Anne Frank House Amsterdã, museu que preserva a casa habitada de Anne e sua família durante o Holocausto. O ambiente é um convite à imersão num espaço de memória reconstituído, com objetos e marcas pessoais mencionadas em passagens do Diário. A subida para a representação do sótão é cheia de simbolismos. Em um corredor escuro há uma obra do pintor Lasar Segall e outra de Marc Chagall, ambos judeus. Ao fundo, vê-se a “Pomba da Paz” de Pablo Picasso.

Com curadoria liderada por Carlos Reiss, curador-chefe e coordenador-geral do Museu do Holocausto de Curitiba (um dos museus mais impactantes que já visitei), Eduardo Duíque, curador, e a idealizadora Priscilla Parodi, a mostra reúne 18 obras originais de grandes nomes do cenário cultural nacional, como Claudia Andujar, Leonilson, Flávio Cerqueira, Nino Cais, Eustáquio Neves, Anna Bella Geiger, Erich Brill, entre outros — em empréstimos do MAM (Museu de Arte Moderna), Pinacoteca de São Paulo e galerias de arte.

A Unibes Cultural foi escolhida para receber a exposição de Anne Frank devido à sua dedicação em promover a educação, a cultura e a memória histórica. Com sua arquitetura em forma de Torá, localizada ao lado da Estação Sumaré da Linha 2 do metrô, e infraestrutura moderna, a Unibes Cultural, que tem nove anos, oferece o ambiente ideal para homenagear a história de Anne Frank em uma experiência envolvente.

É neste momento que seu legado se une às demais lutas, em um diálogo entre as artes, os direitos humanos e a essência de seu Diário, onde distintas temporalidades e territorialidades se encontram: a Europa do século 20 e o Brasil do século 21. “A conexão com o presente é justamente o que torna os diálogos que visamos construir mais potentes nessa exposição. Esse vínculo nos permite discutir, por meio da arte, as diversas formas de intolerância e preconceito, unindo vozes contemporâneas à de Anne e clamando pelo direito de ser.” destaca Priscilla Parodi.

O curador-chefe Carlos Reiss reforça que falar sobre Anne Frank e sobre o Holocausto demandam sempre uma responsabilidade social. “Nossa experiência mostra que a educação sobre esse genocídio e a luta contra o antissemitismo precisam ser feitas de forma conjunta e dentro da lógica do racismo. Quando falamos ‘Holocausto nunca mais’, na prática, estamos renovando um pacto coletivo de que vamos identificar os sinais e atuar contra toda e qualquer forma de ódio contra qualquer grupo, principalmente os que estão próximos de nós”, explica. Sábias palavras neste momento de guerras genocidas e irracionais.

“Como objeto, o Diário é uma descrição da vida, dos sentimentos, dos projetos de uma menina. Além de documento histórico, é literatura, é imaginação, sentimento, projeção e sonho”, descreve Eduardo Duíque, curador da exposição.

Destaca-se na mostra a obra de Flávio Cerqueira (São Paulo, 1983), ”No meu céu ainda brilham estrelas” (2023). A escultura em bronze de uma menina negra segurando um livro cravejado de balas acima da cabeça: uma homenagem a uma Anne Frank brasileira e uma memória de todas as meninas e mulheres que, como Anne Frank, foram e são vítimas da violência — e, ainda assim, abrem livros e miram o céu e o brilho das estrelas.

E Claudia Andujar (Suíça, 1931) compõe a mostra com a fotografia da série “Marcados”, que apresenta um diálogo direto com as perseguições da Segunda Guerra e entre o documento oficial e a prática poética, traz outro significado para “listas” de seres humanos. A artista judia de origem suíça, refugiada e que perdeu a família durante o Holocausto, Andujar é referência desde os anos 1970 ao chamar atenção para as mazelas enfrentadas pelas populações indígenas no Brasil.

Minha filha Flavia Ribas me contou que a Inspirar-te é uma ONG que tem como objetivo aliar arte e educação. Eles vendem projetos educativos nos museus, conforme currículo escolar, para poder manter um trabalho social em Heliópolis, a maior favela de São Paulo, para crianças em situação de vulnerabilidade social. Criada há 8 anos, se utiliza de ferramentas educacionais e culturais para o enriquecimento individual e coletivo, trilhando o caminho para a construção de novos hábitos culturais já na infância. A cada criança de escola particular atingida pela Inspirar-te é também beneficiada uma criança de escola pública, com a mesma experiência cultural. Mais de 30 mil pessoas já foram impactadas pela experiência Inspirar-te até hoje.

Serviço

  • “Anne Frank: deixem-nos ser”
  • Abertura para o público: 03/08/2024 (sábado)
  • Horário: 13h30 às 19h, de quarta a domingo
  • Unibes Cultural (1º e 2º andar)
  • Endereço: R. Oscar Freire, 2500 – Sumaré, São Paulo – SP, 05409-012
  • WhatsApp: 3065-4333
  • Compra de ingressos: Plataforma Fever
  • Classificação indicativa: Livre
  • Ingressos: R$ 15,00 (inteira) R$ 7,50 (meia-entrada)
  • Entrada gratuita às sextas-feiras com reserva de ingresso (ingressos liberados às segundas-feiras)
  • Até 22 de dezembro de 2024

 

Orquestra didática

A segunda exposição de que falarei hoje é mais um empreendimento cultural dos infatigáveis Samuel Lado e Rodrigo Barros: a Orquestra Didática, que aporta em Londrina (PR) no período de 16 a 27 de agosto.

Depois de temporadas bem-sucedidas em Curitiba, Ponta Grossa, Foz do Iguaçu e Cascavel, chegou a vez de Londrina receber o projeto de uma instalação artística que mostra em telas de TVs e caixas acústicas de alta fidelidade o som de cada instrumento em uma orquestra, separadamente, ao mesmo tempo em que apresenta conteúdos didáticos sobre música orquestrada nas telas. A música executada é a Sinfonia nº 3 de Ludwig van Beethoven, conhecida como Eroica.

O público do Norte do Paraná poderá apreciar a Orquestra Didática a partir da semana que vem na AML Cultural, localizada na Rua Maestro Egídio Camargo do Amaral, 130, Centro (em frente a Concha Acústica), com entrada franca.

Em suas primeiras etapas de apresentações em Curitiba, Ponta Grossa, Cascavel e Foz do Iguaçu, a iniciativa recebeu mais de 10.000 visitas, entre turistas, famílias, alunos de escolas públicas e privadas, músicos e demais interessados em aprender mais sobre a música orquestrada de uma forma diferente.

A vontade de mostrar como é criada uma orquestração, com o som individual de cada instrumento durante uma sinfonia (música composta para ser tocada por uma grande orquestra) foi a ideia que deu origem ao projeto, segundo o idealizador Samuel Ferrari Lago. “Ao ouvirmos uma sinfonia como a Eroica, temos a ideia da música como um todo. Por meio desta instalação, é possível perceber não só a sonoridade, mas a importância de cada instrumento”, comenta Samuel. Além do conhecimento proporcionado, a Orquestra Didática é também um significativo passo para a valorização da música clássica, formação de público para música instrumental e incentivo ao estudo musical”, completa.

O projeto também é idealizado por Rodrigo Barros Del Rei, que junto de Samuel Ferrari Lago, são responsáveis pelo Radiocaos, programa cultural que está há 26 anos no ar, com atividades que ultrapassaram a esfera radiofônica para se tornar uma central de disseminação de arte, cultura e memória. “A Sinfonia nº 3, de Ludwig van Beethoven, é uma obra bastante popular, o que contribui para uma aproximação do público de todas as idades. Recebemos muitas excursões de colégios e vemos as crianças interessadas, interagindo com os colegas sobre o que aprenderam”, relata.

Os conteúdos didáticos exibidos nos monitores de TV foram desenvolvidos pela professora Liana Justus, Mestre em História pela UFPR, especialista em História da Música pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná, pesquisadora e licenciada em Educação Musical e Curso Superior de Piano e autora de 11 livros sobre música (dois deles finalistas do Prêmio Jabuti de 2008 e 2011). “Eu trabalho com formação de plateia em música clássica há quase 30 anos. Sinto-me honrada e gratificada em participar da Orquestra Didática, esse projeto pioneiro e inovador. Os conteúdos que desenvolvi estão voltados para a finalidade de levar conhecimento sobre todos os instrumentos de uma orquestra. Isso enriquece a escuta e a sensibilidade musical”, avalia.

Depois de Londrina, o projeto seguirá para as cidades catarinenses de Joinville e Florianópolis (datas a confirmar), terra de nosso HOJE SC. A Orquestra Didática é uma realização da Mediacaos via Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet) do Ministério da Cultura, com patrocínio do Colégio Positivo e apoio da AML Cultural.

Serviço

  • Orquestra Didática em Londrina (PR)
  • Datas: de 16 a 27 de agosto
  • Horários: de segunda a sexta-feira das 9:00 às 12:00 e das 13:30 às 16:30. Sábados das 9:00 às 13:00
  • Local: AML Cultural
  • Endereço: R. Maestro Egídio Camargo do Amaral, 130 – Centro (Londrina – PR)
  • Entrada gratuita
  • Agendamentos de visitas em grupos podem ser feitas pelo telefone 41 98882-1853
  • Redes sociais:
  • www.facebook.com/orquestradidaticacuritiba
  • www.instagram.com/orquestradidaticacuritiba

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