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28/04/2024



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Figurazzas no 92 Graus

 Figurazzas no 92 Graus

Aviso aos navegantes do Underground Curitibano: o mitológico bar 92° fechará definitivamente as portas no final deste ano de 2023. Fundado em 1991 pelo empresário e músico JR Ferreira, já mudou de endereço seis vezes, mas sempre carregou um acervo cultural imenso, além de ser famoso por ceder seu palco às bandas de rock’n roll autoral. No local há vários itens de artistas plásticos em exposição, coleção de fitas cassete, fanzines, cartazes de shows que aconteceram lá e discos que ajudam a contar a história do rock alternativo curitibano.

 

 

Numa entrevista pra Alex Silveira da Tribuna do Paraná, em 06/02/2023, JR disse que: “Vou fazer outra coisa. Um ramo completamente diferente. Pode ser até que essa seja a última entrevista que darei sobre o assunto. Quando abri o 92 Graus, eu tinha 24 anos. Acho que cumpri um sonho de vida. Contribuí para colocar Curitiba no mapa da música underground, com a cara da capital do rock no Brasil. Pensa! A média sempre foi de 500 espetáculos por ano, entre 48 e 50 bandas autorais por mês. Em 2022 foi isso”.

 

Passaram pela casa nomes como Relespública, Pinheads, Crápulas e Boi Mamão. “O público sempre veio aqui para escutar o que não estava acostumado a escutar. Fora do comercial”, destaca o empresário. Na geração anterior de Curitiba, bandas como Blindagem e Beijo AA Força já faziam sucesso. “Mas o boom foi ali, nessa época. Só não teve estouro nacional porque as gravadoras seguravam. Davam preferência para Raimundos, Charlie Brown Jr., Planet Hemp, Chico Science e companhia”, lamenta.

 

Um dos músicos que tocou lá diversas vezes, Luiz Ferreira, deu este depoimento emocionado para nossa coluna Frente Fria:

 

“O underground nunca facilita, todas as coisas ali são milimetricamente funcionais, mas na ponta dos dedos, no fio da navalha. E no improviso, na fita crepe, no nó de arame, tudo acaba dando certo, pois existe uma aura de magia, de traquitana, de solidariedade que não se encontra em toda parte. Existe gente muito competente no underground, gente que conhece muito bem aquele universo do pequeno palco, do pequeno espaço, gente que tem consciência da grandeza do que acontece naquele espaço e naquele tempo, gente que dá tudo de si para que tudo acabe sempre bem. Enfim, é assim que se escreve uma boa história.

 

O 92° é essencialmente um espaço que surgiu underground, em todas as suas sedes, foram umas 4 até hoje, sempre com o pulso e a personalidade de seu proprietário, o Junior Ferreira, uma grande figura da cena curitibana, empreendedor de atos “mégalo-nanicos”, por serem pequenos em comparação com grandes festivais do mainstream, mas enormes no alcance, na mobilização, no número de bandas e pessoas envolvidas e na influência exercida em cada uma delas, do garoto que dá duro pra comprar um ingresso e ver a banda de algum brother tocar, do jovem músico que trabalha de dia pra poder tocar à noite, tentando se manter no life style fora do sistema, aos mais velhos, que no fundo até prefeririam estar no mainstream, mas o underground não sai deles, por isso não saem do underground, continuam malditos e trovejando contra as crueldades e caretices do mercado pra sempre chegarem à mesma conclusão: FODA-SE O MERCADO, ISSO É UNDERGROND.

 

Por outro lado, é dali que vem a novidade, aquilo que interessa a quem se preocupa com a criação fora do lugar comum, em quebrar paradigmas, enfim, em tentar fugir das tendências. O underground é rock and roll, mas não exclusivamente, e o 92° sempre cedeu espaço para as novas bandas, apesar das velhas bandas nunca terem abandonado o palco do 92°: sempre voltam para lembrar às novas gerações que o mais importante é não deixar a roda parar de girar. Por isso temos em Curitiba, ainda, uma quantidade imensa de novas bandas, embora já tenham sido muitas mais, e o 92° teve sim uma influência enorme na escolha de muitos músicos que acabaram por se profissionalizar e outros que, mesmo fora dos palcos, ainda hoje retornam para ver como anda a cena e constatar que a fúria da garotada ainda é muito forte e a vontade é grande.

 

No final do ano, o 92° fechará suas portas definitivamente, é o que diz seu proprietário JR. Pessoalmente eu acho difícil para ele virar as costas para um passado que está impregnado em sua existência. Ele vai ver que não se sai do underground assim tão fácil, ainda bem, pois o fechamento da casa vai deixar uma lacuna enorme, muitos órfãos do underground não terão pra onde migrar, num momento em que a venda de cerveja, mais do que nunca, é o foco principal e a música comercial que agrada à maioria, é prioridade. A novidade vai perder espaço importantíssimo e Curitiba, que já é uma cidade conservadora, carola e pudica, vai ficar ainda mais careta com o final de uma era que se encerra com o fechamento do 92°. Será o fim da ousadia, do original, da rebeldia autoral, será a vitória da chatice e Curitiba voltará a ser uma velha revista desbotada de sala de espera de dentista, uma “Paraná em Páginas” cheia de notícias velhas, só que agora mais bonitinha, camuflada, diagramada e colorizada pela Inteligência Artificial”.

 

FIGURAZZAS

Para renovar a força do underground, nada melhor que lançar uma nova banda. Isto é o que Luiz Ferreira estará fazendo amanhã dia 16 de junho, no próprio bar 92°. Formada a partir da banda ESTACAS (um projeto típico da Pandemia), a banda FIGURAZZAS segura o bastão e vai seguindo na missão de ser uma das bandas mais inovadoras no cenário underground curitibano. Sim, o underground não tem idade, os integrantes dessa banda não são garotinhos, mas veteranos da cena: Luiz Ferreira e Sérgio Viralobos começaram na Contrabanda, que virou Beijo AA Força… O cantor Eduardo de Moraes ainda é a grande voz da cultuada Finis Africae. Completam o time o baixista carioca, ex-Coquetel Molotov, Olmar Lopes; o baterista e multi-instrumentista Marcos “Coelho” Gusso e o produtor/tecladista/sonoplasta/etc… Jeronimo Gonzales.

 

O nome da banda foi sugestão do poeta Thadeu Wojciechowski, parceiro e velho amigo da banda. É uma alusão ao fato de serem todos figuraças da cena musical curitibana e o toque italiano, além da ascendência da maioria da banda, é por causa da recente classificação do vocalista Eduardo de Moraes para o festival de San Remo. Influenciados pelo “Måneskin”, nova sensação do rock italiano, o FIGURAZZAS vai mostrar, em primeira mão, o que é um rock ítalo-brasileiro. Melhor que uma pizza na manhã do dia seguinte.

 

Confira os videoclipes da banda Estacas aqui.

 

 

BANDA THE SEMPRES

Para completar a grande noite de amanhã, teremos a presença da banda THE SEMPRES. O fundador, músico e compositor das lendárias bandas Magog, Bad Folks e Cassim & Barbária, CASSIANO FAGUNDES, o CASSIM, volta a Curitiba para apresentar seu novo projeto. No repertório, algumas canções autorais e versões de suas canções favoritas de bandas como Bauhauss e The Stooges.

 

Cassiano está de passagem por aqui enquanto se dedica a sua atividade principal hoje em dia, o doutor é especialista em tradução, ensino e pesquisa. É um cientista dedicado, embora sua paixão pela música e pelo underground não o deixe afastado dos palcos por muito tempo, fazendo dele um músico experimentado, com passagem pelos palcos brasileiros e americanos Cassiano morou e tocou em Nova York na década de 1990, onde chegou a entrevistar o travesti que vivia com o Joey Ramone.

 

Sua atual residência (temporária) é no litoral paranaense, embora seu QG esteja ainda em Florianópolis, onde conheceu o argentino Jeronimo Gonzales, que o acompanhará no contrabaixo juntamente com Marcos “Coelho” Gusso, na bateria. Uma química que promete dar muito certo, vale conferir. Cassim tem muito o que celebrar por aqui: vem matar a saudade dos velhos amigos e cumprir uma missão, que é a passagem obrigatória pelo palco do 92°, importante espaço cultural que, como já contamos, fechará as portas ao final do ano. Venha também para participar das últimas homenagens.

 

Serviço

SHOWS DE FIGURAZZAS E THE SEMPRES
Local: Bar 92° (Rua Manoel Ribas, 108, Curitiba – PR)
Horário: a casa abre às 20h. Apresentações a partir das 21h.
Data: 16/06/2023 (sexta-feira)

 

Leia outras colunas Frente Fria aqui.

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