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Kult – rock polonês em Curitiba

17/10/2024

Quem acompanha a coluna Frente Fria sabe que dois dos personagens mais assíduos aqui são os músicos e produtores musicais Luiz Ferreira e Rodrigo Barros. Hoje vamos contar uma das histórias mais loucas protagonizadas pela dupla: a excursão brasileira da banda de rock polonesa Kult, em 1989.

Kult foi formada em 1982 em Varsóvia, no mesmo ano em que criamos a Contrabanda por aqui, e continua ainda em atividade como a maior banda de rock da Polônia. Os membros originais eram Kazik Staszewski (vocal principal, saxofone), Piotr Wieteska (baixo), Tadeusz Bagan (guitarra) e Dariusz Gierszewski (bateria). O estilo musical da banda teve origem no punk rock, mas também foi influenciado por outros gêneros como o alternative, progressive e new wave britânico.

O Poland Rock Festival considera o Kult uma banda única que conseguiu capturar a imaginação, os sonhos e a rebeldia de uma nação inteira em suas músicas. A originalidade da banda está associada principalmente às letras fortes de Staszewski e uma seção de sopro distinta (saxofones, trompa). As canções de Kult atacam “o sistema”, entendido como um conglomerado do aparelho estatal comunista, da Igreja Católica e outros.

Antes de formar a banda, todos os membros do quarteto original tocavam juntos na Polônia ou na Novelty Poland, duas bandas lideradas por Staszewski entre 1979 e 1981. O primeiro show da nova banda foi no Remont Club em Varsóvia, em julho de 1982, e vendeu apenas 14 ingressos. No entanto, em 1986 a banda gravou seu primeiro álbum (denominado “Kult”; lançado no ano seguinte), que atraiu muita atenção e incluiu os primeiros sucessos de inspiração punk “Krew Boga”, “O Ani” e “Wspaniała nowina”. Inicialmente, a censura não permitiu o lançamento de muitas canções de Staszewski, claramente dirigidas contra “o sistema”. Também em 1987, um segundo álbum, o levemente psicodélico “Posłuchaj to do Ciebie”, foi lançado. Desde então, a banda ganhou muita popularidade na Polônia, com canções como “Do Ani”, “Arahja” e “Krew Boga” alcançando o primeiro lugar na parada da Rádio 3 polonesa (LP3).

Depois de 1989 e do fim do regime comunista na Polónia, Kult obteve grande sucesso, com cada uma de uma série de álbuns trazendo novos sucessos ao topo das paradas de rádio. O “Generał Ferreira / Rząd oficjalny” do álbum “Your Eyes” de 1991 alcançou o primeiro lugar no LP3 e permaneceu no Top20 por 33 semanas consecutivas. Este General Ferreira é o próprio Luiz Ferreira, que contará como batizou um dos maiores sucessos do Kult. “Dziewczyna bez zęba na przedzie”, “Komu bije dzwon”, “Gdy nie ma dzieci” e “Lewy czerwcowy” (do álbum de 1998 “Ostateczny krach systemu korporacji”) alcançaram o primeiro lugar e permaneceram no Top20 por 37, 38, 30 e 23 semanas, respectivamente. Além disso, “Gdy nie ma dzieci” passou 9 semanas em primeiro lugar, um antigo recorde entre artistas poloneses, superado por “Syreny” de Artur Rojek em 2014.

Embora os álbuns recentes de Kult pós-2000 tenham desfrutado de menos popularidade, Kult continua sendo um dos grupos musicais poloneses mais conhecidos. A banda lançou um total de 13 álbuns de estúdio e dois álbuns ao vivo, incluindo a gravação de um show do MTV Unplugged em 2010.

Agora vamos dar voz à Luiz Ferreira e suas lembranças do projeto Kult:

Fotos da passagem do Kult pelo Brasil

Difícil resumir a passagem da banda polonesa Kult por aqui em 1989. Daria um bom livro com diversos capítulos.

A ideia de trazer uma banda polonesa de rock para fazer show aqui em Curitiba veio a partir do contato com o Consul Marek Makowski, um apaixonado pelo rock que ouviu o programa de rádio do Rodrigo Barros e do Wanderson Campos sobre rock polonês, com material enviado pela Meire, uma amiga punk paulistana do Wanderson.

Escolhida a banda, por algum motivo sobrou para mim a função de fazer um convite “formal” à banda, através de uma fita cassete que gravei e enviei para o consulado da Polônia. Na fita eu me apresento em inglês macarrônico, depois de tomar alguns whiskies, e digo que eu e meu pelotão de produtores temos interesse em realizar o show da banda por aqui.

A banda ouviu, gostou da ideia e saiu do inverno polonês de -10°C para o verão curitibano de 30°C. Além de se apropriarem da minha voz na fita e transformarem no sampler de abertura e scratchs da “singela” canção denominada “General Ferreira”. A música é um protesto político contra o totalitarismo e eu gosto muito, aliás é um dos sucessos da banda e você pode ouvir aqui.

Ou ainda uma versão “akustic” muito boa de 2020, veja abaixo:

A música saiu no álbum “Your Eyes”, de 1991, gravado logo que voltaram à Polônia.

Como disse, eu poderia escrever um livro sobre a passagem desses polacos maravilhosos por aqui. Nossos perrengues, quando eles tiveram que ficar mais um mês além do previsto, enquanto lá no leste suas famílias sofriam com a maxi desvalorização do Zloty, de suas bagagens de volta cheias de cachaça, meias e sabonetes e outras desventuras.

A banda, em 2019 havia feito um show para 1.000.000 de pessoas em Varsóvia e tinha programada uma grande turnê europeia que foi cancelada pela pandemia, continua na estrada e o Kazik, vocalista e saxofonista, hoje é uma das grandes estrelas do pop rock polonês . Reconhecidamente um grande performer, além de compositor e poeta.

Irek Werenski, baixista desde a fundação do grupo manda notícias:

Cześć! Wszystko dobrze! Zaczynamy zaraz trasę jak co roku.

Jeśli pamięć moja jeszcze działa, to postaram się pomóc (*)

(*) Oi! Tudo certo! Estamos prestes a começar a turnê como todos os anos.

Se minha memória ainda estiver funcionando, tentarei ajudar

Eu (com a ajuda do translator) :

Powodzenia, moi przyjaciele. Długie życie do polskiego rock and roll.(**)

(**) Trad: boa sorte, meus amigos. Vida longa ao rock and roll polonês.

P.S.: pesquisando um pouco sobre a banda me deparo com uma triste notícia, o ex tecladista e guitarrista e também compositor e arranjador da banda, o exímio dançarino Janiusz Grudzinski, o “Gruda”, ou ainda, o “Príncipe de Varsóvia”, morreu ano passado. Uma grande perda para o rock polonês, o cara fazia a diferença.

https://www.polityka.pl/tygodnikpolityka/kultura/2229828,1,janusz-grudzinski-19612023-kult-bez-niego-brzmialby-inaczej.read

Tradução da matéria via google translator.

Janusz Grudziński, durante décadas o principal músico do Kult, co-criador do repertório e estilo do grupo, e um dos tecladistas de rock subestimados na Polônia, morreu aos 61 anos. Qual é a maneira mais rápida de compreender a importância de Janusz Grudziński no cenário musical polaco? Ouça “Arahja”, a música chave de Kult, com uma parte de órgão tão importante quanto a linha vocal de Kazik Staszewski. Ou “Gdy nie ma Dzieci” (como muitas músicas do grupo, co-composta por “Gruda”) com uma linha simples de piano dando à gravação um caráter rítmico, e mais tarde o jazzístico “Z Archive Polskiego Jazzu” publicado no mesmo álbum “Sistema Ostateczny krach corporat” .

O produtor cultural Samuel Lago me mostrou uma entrevista filmada com o vocalista e compositor Kazik Staszewski feita há dez anos atrás, direto da Polônia. Em inglês, Kazik relembra a aventura em terras brasileiras e promete que um dia levará o Beijo AA Força para uma excursão polonesa. Niech tak będzie!!!

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