PENITENTE DO ESPÍRITO
Todos turvam sua água
Pra parecerem profundos
Assim falou Zaratustra
Assumo a culpa em minha língua
Poetas vivem de moribundos
Vender o impagável não me custa
Talvez por isso fico à míngua
Esmolando uma luz dos olhos lindos
O reflexo na íris me assusta
Sérgio Viralobos
JATO D’ÁGUA
(Charles Baudelaire)
Amante de belos olhos cansados
Vejo lento tuas pálpebras caídas
Nesta pose de tempos parados
Enquanto amor corre por outras vidas
No pátio, o chafariz tagarela
Sem parar, noite e dia
Docemente fico na espera
Mergulhado na que me extasia
O bouquet floresce prosa
Mil flores por páginas
Onde Phoebe goza
As cores brotam mágicas
Caindo em chuva ruidosa
Ou xale de lágrimas
Assim, tua alma acende
O raio do prazer arriscado
E sobe corajosa à frente
Ao vasto céu encantado
Em seguida, chove morta e morna
Num derramamento de intimismo
Pingos infiltrados na caverna
Desabam no fundo de mim mesmo
O bouquet floresce prosa
Mil flores por páginas
Onde Phoebe goza
As cores brotam mágicas
Caindo em chuva ruidosa
Ou xale de lágrimas
Ó tu, que faz a noite linda,
Inclinando os seios em suspense
Para ouvir a queixa infinda
Soluçar na lagoa eloquente
Lua, água sonora, noite pia
Árvores arrepiadas ao redor
Tua pura melancolia
É espelho do meu amor
O bouquet floresce prosa
Mil flores por páginas
Onde Phoebe goza
As cores brotam mágicas
Caindo em chuva ruidosa
Ou xale de lágrimas
Transcriação: Monica Berger e Sérgio Viralobos
AMOR QUEIMADO
Na calada da noite
O silêncio das estrelas
Eu cabisbaixo no asfalto
Quase bebia a água das valetas
Teu reflexo na poça
Me salvou do futuro
A paixão tão apressada
Nos comeu crus
Queimamos à velocidade da luz
Solitário hoje eu vejo
Que o que era pra ontem
Ficou pra nunca mais
Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos
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