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03/05/2024



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Mário Bortolotto

 Mário Bortolotto

Era 4 de dezembro de 2009 e eu estava num hotel no litoral do Pará, Estado onde era Superintendente Regional do Banco do Brasil. Lá pelas 20 horas, para meu espanto, o Jornal Nacional anuncia tragicamente que o dramaturgo e escritor Mário Bortolotto tinha sido baleado e estava nas últimas numa UTI em São Paulo. Foi a primeira vez que ouvi o nome de um cara que considero amigo na boca sinistra do William Bonner. Fiquei abalado e escrevi um texto em sua homenagem, como se Marião já tivesse morrido, pra publicar no meu Facebook. Mas o homem é um touro e escapou dessa com quase nenhuma sequela. Procurei então me lembrar de quando o conheci.

 

Nascido em Londrina, em 1962, legítimo representante de nossa geração cultural, Bortolotto morou um curto período em Curitiba. Chegou causando com seu puta talento e carisma. Logo ficou amigo do Marcos Prado e outros de nossa turma, como o Thadeu Wojciechowski e o pessoal do Beijo AA Força. Eu não morava aqui na época e só fui conhecê-lo pessoalmente em algum bar da Praça Roosevelt anos depois, quando já tínhamos mudado para São Paulo. Nos entendemos à primeira vista e fiquei impressionado com sua falta de estrelismo: ele estava no auge da popularidade e não parecia dar a mínima para isso. Recentemente, durante a pandemia, nossa banda Orquestra Sem Fim teve a honra de convidá-lo para um show no Teatro do Paiol e pudemos conversar bastante entre os ensaios e o espetáculo, onde leu várias de suas poesias tão particulares.

 

Mário nasceu numa típica família brasileira – o pai, descendente de italianos, era caminhoneiro e a mãe, dona de casa, uma pessoa simples que veio do Nordeste. Ele estudou nos seminários (Congregação dos Oblatos de São José) de Ourinhos e Apucarana por cinco anos. Foi expulso em 1979.

 

Em 2016, Bortolotto deu uma longa entrevista para a ótima revista Cândido, da Biblioteca Pública do Paraná. Ao longo desta matéria citarei algumas de suas declarações, como esta sobre o seminário: “Já fazia teatro no seminário. E tínhamos um grupo de teatro. Descobri que atuar era relativamente fácil. Eu tinha certa facilidade para inventar histórias, sugerir ideias para o grupo. Sempre partia de mim. Comecei a sacar que também levava jeito para escrever. Na verdade, foi lá dentro que eu descobri isso. Era gostoso, porque me divertia muito fazendo teatro. Então quando eu saí do seminário, já sabia que de alguma maneira iria trabalhar com isso. Mas também queria muito escrever, fazer rock and roll. Queria fazer tudo, como faço até hoje. Na verdade eu sempre me interessei por tudo. Foi no seminário que aprendi a tocar violão, comecei a compor, foi lá que aprendi a datilografar… Então, na verdade, o seminário me ofereceu todas essas possibilidades. Foi o grande start para tudo. Devo muito aos cinco anos que passei lá.”

 

Depois da expulsão do seminário, ficou um ano vagabundeando em Londrina – frequentando bibliotecas e bares e jogando futebol com amigos. Em 1980 se mudou para São Paulo pela primeira vez e foi morar com os tios na Vila Joaniza. Trabalhava em uma fábrica de tintas e frequentava a Contemporânea Escola de Artes na Rua 24 de Maio. Seus professores nesse período foram os atores Genésio Barros e Ednaldo Freire. Ficou seis meses em São Paulo e voltou para Londrina. Passou a frequentar o curso de teatro do Professor Antonio Saperas Espasa no Departamento de Cultura de Londrina. Trabalhou em três peças sob a direção de Antonio Saperas.

 

Morou por um curto período em Curitiba, de onde tem esta lembrança: “Eu não tinha dinheiro, então sempre entrava na livraria e roubava os livros que queria. Aqui em Curitiba roubei bastante. Tínhamos uma gangue de garotas que roubava livros pra gente. Fazíamos uma lista dos livros que gostaríamos de ler e elas roubavam. Mas nunca roubei de biblioteca, porque é uma sacanagem roubar em biblioteca pública. Devo muito da minha formação literária a essa pilhagem cultural que minhas amigas cometiam.”

 

Em 1982, fundou o seu próprio grupo, o “Chiclete com Banana” com os atores Edson Monteiro Rocha e Lazaro Câmara. Em 1983 voltou a residir em São Paulo frequentando novamente a “Contemporânea Escola de Artes” enquanto dividia com mais cinco amigos uma quitinete na Rua Maria Antônia. Depois de seis meses voltou a Londrina retomando o trabalho com o seu grupo de teatro. Em 1985 foi morar com a namorada, a estudante de jornalismo Rosi Guilhen com quem ficou por três anos. Em 1987, mudou o nome do seu grupo para “Cemitério de Automóveis”.

 

Aqui Bortolotto conta como foi essa mudança de Chiclete pra Cemitério: “Eu e alguns amigos fundamos um grupo de teatro em 1982, em Londrina. Chamava-se Chiclete com Banana, e era uma homenagem às tiras do Angeli. Esse grupo foi o embrião do Cemitério de Automóveis. É engraçado, porque o Angeli na época era um cara meio underground, trabalhava na Folha de S.Paulo, mas só tinha aquela tirinha. Era como se fosse o Allan Sieber hoje, ou o André Dahmer. Quis fazer uma homenagem para ele colocando o nome do grupo de Chiclete com Banana. O que foi um tiro no pé, porque logo depois ele ficou muito famoso e lançou a revista Chiclete com Banana, que foi um sucesso no Brasil todo. Ficou parecendo que a gente estava querendo pegar carona no sucesso dele. Eu sou amigo do Angeli e conto isso para ele, que dá risada. Fiquei muito chateado com a história e também porque havia um grupo de frevo do Nordeste que também se chamava Chiclete com Banana. Era muito ruim porque a gente, como grupo de teatro, ia se apresentar na cidade e o pessoal achava que nós tocávamos frevo. Por isso mudamos para Cemitério de Automóveis em 1987.”

 

Em 1990 começou a namorar a atriz Christine Viana com quem teve sua única filha Isabela Viana Bortolotto. Em 1996 passou a morar em São Paulo a convite do Diretor Fauzi Arap que o incluiu no elenco da peça “Frida Kahlo”. Em 1998 passou a namorar e a morar com a atriz Fernanda D´Umbra. Juntos produziram a “I Mostra Cemitério de Automóveis” com 14 peças no Centro Cultural São Paulo. Essa Mostra lhe rendeu o Prêmio APCA pelo “Conjunto da Obra”. Em 2002 produziram juntos a “II Mostra Cemitério de Automóveis” com 26 peças em três meses no Centro Cultural São Paulo. Em 2003 amparado pelo Projeto Fomento da cidade de São Paulo, administrou durante um ano o “Teatro Cemitério de Automóveis” na Rua Conselheiro Ramalho. Em 2000 ganhou o Prêmio APCA pelo conjunto da obra e o Prêmio Shell de melhor autor por sua peça “Nossa Vida não Vale um Chevrolet”. Desde 1996 mora e trabalha em São Paulo.

 

Com um estilo calcado em histórias em quadrinhos, cinema, blues, rock e o universo beatnik, o escritor cria espetáculos com características próprias. “Como eu aprendi a ler com história em quadrinhos, quando escrevo já vou visualizando tudo. Quando vou dirigir a peça, sei exatamente onde vou colocar os atores, a disposição do cenário. Acho que isso vem da leitura de história em quadrinhos. HQ é como se fosse cinema. O desenhista dispõe os personagens de uma maneira que parece filme. Acho que isso me ajudou muito para trabalhar com teatro, tanto para escrever como para dirigir. Escrevo muito pensando no diálogo o tempo todo. Tenho essa facilidade. Tudo isso eu devo à história em quadrinhos. Porque a prosa é tão diferente. Escrever poesia, então, é muito diferente. Por isso grandes romancistas tentam escrever para teatro e se fodem, porque eles não sabem fazer uma coisa básica: colocar a palavra na boca do ator. Quando se escreve, é preciso “ouvir” o ator falar”, diz Mário.

 

Além de atuar, escrever e dirigir seus espetáculos, participa como vocalista e compositor da banda Saco de Ratos. Gravou o CD de blues “Cachorros Gostam de Bourbon”, com composições suas. Quase todas as peças escritas por Bortolotto já foram publicadas, pela Editora Atrito, de Londrina, num total de cinco livros. Também publicou dois livros de poesia (Para os Inocentes que Ficaram em Casa e Um Bom Lugar pra Morrer), dois romances (Mamãe não Voltou do Supermercado e Bagana na Chuva), um livro de contos (DJ – Canções pra Tocar no Inferno) e um livro com artigos escritos para jornal (Gutemberg Blues). Tem textos traduzidos e publicados na França, Polônia e Argentina.

 

Em 2006, lançou o livro “Atire no Dramaturgo”, coletânea de textos publicados em seu blog de mesmo nome, hoje extinto. Em fevereiro de 2010, o Instituto Itaú Cultural promoveu a Semana Mário Bortolotto, onde o artista reuniu amigos para debater música, literatura, poesia, cinema e teatro a partir de sua obra. “Iremos usar o meu trabalho como ponto de partida para os debates”, disse Bortolotto, em entrevista ao Jornal da Tarde. “Vamos ler trechos de minhas obras e autores que me influenciaram e então falar sobre eles. Tive bastante liberdade para fazer o que quisesse. Esse formato foi minha sugestão”. Em abril do mesmo ano estreou no Espaço Parlapatões a peça “Música para Ninar Dinossauros”, que, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, “representa muito melhor o seu universo”, tendo como tema as reminiscências da adolescência de três quarentões.

 

Também atua em cinema (“Augustas” de Francisco Cesar Filho, “Ralé” de Helena Ignez, “No vazio da noite” de Cristiano Burlan, “Nove Crônicas Para um Coração aos Berros” e “Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa”, de Gustavo Galvão) e estabeleceu uma parceria com os diretores Francisco Garcia (“Uma pilha de pratos na cozinha” e “Borrasca”) e Cauê Angêli (“Whisky e Hamburguer” e “A Pior das intenções”). Atualmente prepara, com o videomaker Grima Grimaldi, um documentário sobre o artista Paulo de Tharso. Atuou também na série da TV Globo “A Teia”, escrita por Braulio Mantovani.

 

A sua peça “A frente fria que a chuva traz” foi adaptada pro cinema por Neville d’Almeida e Mário conta o que achou da experiência: “Nesse filme faço um personagem, o mesmo que fazia no teatro. Mas essa adaptação também é ruim. Só aceitei fazer porque o Neville é muito meu amigo. Eu adoro ele. Continuo gostando dele, apesar de o filme ser ruim. O longa não funciona porque os atores não decoraram o texto, e ator que não decora texto é horrível. Eles pegaram a ideia e ficaram falando do jeito deles. Isso encheu meu saco. Eu ficava fazendo e sofrendo, porque eles não estavam falando nada do meu texto. E tinha aquela atriz, Bruna Linzmeyer, que é terrível, porque se acha uma atriz foda e tal. E também não decorava as falas, dizia tudo do jeito dela, improvisava, colocava “caco” o tempo inteiro. Fiquei sofrendo naquele set de filmagem o tempo todo. Eles também mudaram o final da história. Sofri duas vezes: no set e quando assisti. Tentava falar pro Neville, mas ele estava meio que na mão da produção do filme. Ele estava tão na fissura de filmar, pois já fazia dez anos que não filmava, que começou a aceitar imposições de todo mundo, da produção, da atriz, do roteirista. E parecia que todo mundo mandava no filme, menos ele.”

 

Outra de suas experiências foi administrar o Teatro Cemitério de Automóveis, com o sócio Carlos Carcarah e integrantes do Grupo La Plongee. O teatro abrigou montagens dos dois grupos, além de shows de música e lançamentos de livros. Antes, o teatro se localizava na Rua Frei Caneca, 384, em São Paulo, onde também havia um bar que funcionava paralelamente ao teatro. Foi lá que lancei meu primeiro livro solo o “Piada Louca”, em 11 de fevereiro de 2014 (dia do meu aniversário e do meu filho Felipe Ribas), com direito a um show sensacional da banda Ferryboat, com Luiz Ferreira, Ângelo Stroparo e Carlos Lins. A vizinha de cima do Cemitério de Automóveis era tão chata que eles tiveram que mudar para a Rua Francisca Miquelina, 155 – Bela Vista, onde continuam apresentando peças e shows, preferencialmente de blues.

 

Agora, voltemos ao incidente com que abri esta matéria: naquele dia 4 de dezembro de 2009 Bortolotto e seu amigo, o desenhista e ator Carlos Carcarah, foram baleados enquanto estavam em um bar. Segundo a polícia, os dois reagiram e os bandidos disparam quatro tiros contra eles. O incidente aconteceu na Praça Roosevelt e Bortolotto teve de passar por uma cirurgia. Ele teve alta do hospital em 28 de dezembro de 2009. Pouco mais de um mês depois do assalto, em entrevista para o jornal O Globo, Bortolotto disse ter sido criticado por não agradecer a Deus por sua recuperação, mas descreveu sua espiritualidade como algo privado. Ele também brincou que poderia atuar no filme “Nove Crônicas para um Coração aos Berros”, cujas gravações estavam previstas para abril, com a tipoia que está usando no braço esquerdo devido à queda durante o assalto. O jornal Folha de S. Paulo publicou pouco depois uma reportagem em que dizia que a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo teria designado uma equipe inteira do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa para cuidar do caso, supostamente suspendendo 130 inquéritos sob sua responsabilidade para cuidar apenas deste. Para Bortolotto, a matéria seria uma resposta à sua recusa em conceder entrevista exclusiva ao jornal, o que o levou a criticá-lo em seu blog.

 

Cerca de três meses após o incidente, em entrevista ao portal R7, ele disse: “Até agora ninguém conseguiu prender quem atirou em mim. Fiquei dois dias em coma. Quando acordei olhei e pensei: ‘Ainda estou aqui.’ Achei estranho estar vivo, após tudo aquilo. Tomei três tiros, cara. Teve um perto do pulmão, outro do coração e outro na coluna. O médico me disse que vou ficar bom logo e que não terei sequela nenhuma. Mas não vou mudar nada do que eu sou. É claro que eu tive aquela coisa de passar um videotape da vida. Mas não tive essa história de repensar tudo que eu deveria ter feito”. Sobre voltar a frequentar a Praça Roosevelt, em fevereiro de 2010 ele disse, ao JT, que voltaria, mas não naquele momento: “Conheço muita gente lá e, se eu for, eles virão falar comigo, bater nas minhas costas e vou ter de ficar contando sempre a mesma história.”

 

Aliás, sobre a Praça Roosevelt, Bortolotto já questionou o seguinte: “Sempre me falam que contribuí muito para o renascimento da Praça Roosevelt, para a história do lugar. Eu digo que não. Minha contribuição foi ir beber na praça e levar uns amigos que jamais iriam lá assistir a uma peça de teatro. Eles iam para beber comigo. Então ia muito roqueiro, escritor e quadrinista. O grupo Os Satyros, daqui de Curitiba, teve coragem de abrir um teatro no meio da Roosevelt, e isso foi heroico da parte deles. Já a minha contribuição foi levar essa turma diferente para a praça, um público que Os Satyros jamais conseguiria arrebanhar, porque eles são um grupo de teatro.”

 

 

Escritor compulsivo, Bortolotto volta e meia brinda seus seguidores no Facebook com textos como este, de 12 de março de 2024:

 

MAS VOCÊ QUER QUE EU FALE SOBRE SANDÁLIAS?

Há sempre uma tentativa quase consensual em folclorizar a figura do escritor. Então você coloca a tourada antes de Hemingway, a garrafa de scotch antes de Dylan Thomas e alguém tentou colocar as sandálias de couro antes de Plínio Marcos. Alguém tem feito isso com esmero e dedicação e como um vírus dos mais insistentes, tem se propagado nas redações dos periódicos e ganhado restaurantes da classe teatral, e sendo quase que vulgarizado em escolas de teatro e adjacências. Então você o vê assim como eu, em Presidente Prudente em 85? A gente andando por lá, como galinhos de briga, jovens e selvagens, com nossos crachás pendurados sobre os instrumentos sexuais de trabalho, e então o sujeito passa na nossa frente, ainda mais selvagem e mais prepotente, como se tivesse uma reputação a defender. A gente não. A gente tava construindo uma reputação. E era preciso fazer isso com notável afinco. E por trás de todo o cinismo e toda a narcísica irreverência, a gente não tinha a menor noção do perigo. E então o sujeito passou na nossa frente indo em direção ao palco. O cara de barriga ostensiva, com suas indefectíveis sandálias de couro e seu discurso pronto de camelô de ideias. Quem é o Palhaço? (como se isso fosse realmente um demérito). É o sujeito que escreveu “Navalha na Carne”. É mesmo? E por um momento, diante da figura que se impõe exótica (que alívio!) você quase ignora o homem que nos presenteou com um personagem imortal como Neusa Suely, de fragilidade tão poética quanto uma Blanche Dubois. Ah, mas eu queria falar era desse negócio dele vender seus livros nas portas do teatro. Entenda que me parece uma atitude das mais subversivas. De quem você tá falando? Do cara que desenvolveu um conflito dos mais instigantes a partir de um par de sapatos. Mas você tá falando de quem? Do Mendigo Gordo e cínico? Eu tô falando do escritor que tem que vir antes do folclore. Eu tô falando do talento bruto que mixou sangue, suor e esperma em diálogos dos mais elétricos, antidigestivos e intimidatórios. Eu não quero insistir no negócio do sujeito que deu voz aos excluídos. Esse é o ponto nevrálgico da obra do escritor? Ou é só um jeito canalha “bom moço” de fugir do assunto? Você não sente que tergiversou? (Só pra usar uma expressão que ele jamais usaria). Porque não conversamos realmente sobre isso? Porque não saímos pela porta do Gigetto e entramos logo tocando riffs poderosos no templo sagrado do samba? Você entende o que eu quero dizer ou vou ter que recorrer à fórmula gasta de ficar falando de misticismo, tarô e de todos aqueles anos enfurnado no Copan? Me parece mesmo que não há uma real vontade de descortinar esse universo perverso (numas de usar um termo mais ameno), por isso ficamos por aqui na superfície cômoda e quase asséptica do folclore. Que eu saiba, o Boi Tatá nunca incomodou ninguém, verdadeiramente.

 

Então se você quer falar sobre mergulhos em abismos, então provocou o cara certo. Mas se veio aqui pra falar de sandálias de couro, então é melhor não perder o seu tempo. Tem uma porrada de personagens inquietos, solitários e revoltados arranhando a vidraça lá de casa. Se você queria similaridades e correspondências, então eis algo que sempre tivemos em comum. Nós dois e mais cinco milhões de escritores. O resto é folclore e eu não tenho mais idade pra isso. Posso até te contar a minha história, numas de você entender de onde veio toda a encrenca, como ela foi forjada e aquela coisa toda. Mas depois a gente vai falar de dramaturgia e literatura. Vamos ter uma longa noite pela frente. E sem querer contradizer tudo o que disse até agora, (mas contradizendo totalmente porque tenho certeza que você já entendeu tudo e eu também não quero jogar porra nenhuma de cortina de névoa sobre a verdade) espero que o freezer esteja cheio. Lá pelas duas da manhã deve aparecer uma stripper que é o meu presente de aniversário. Então vou tirar meus coturnos e apreciar o espetáculo. Ou você não sabia que de blues e loiras nuas também se faz uma obra?

 

Para finalizar este artigo, nada melhor que mais uma fala de Marião em que ele demonstra sua despretensão artística, lição para muitos: “Acho que é um pouco presunçoso falar que eu consegui influenciar alguém. Tem uma molecada que decidiu escrever para teatro depois de ter visto peças minhas. Fico muito orgulhoso disso. Mas não sei. Essa coisa de seguidores e tal. Eu odeio seguidores. Mas acho bacana saber que um garoto está escrevendo para teatro porque leu um texto meu, porque assistiu a uma peça minha.”

 

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