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27/04/2024



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Miran

 Miran

Oswaldo Miranda, mais conhecido como Miran, designer gráfico, artista gráfico, diretor de arte, ilustrador, cartunista, tipógrafo, calígrafo e editor, é o profissional de criação brasileiro mais premiado no mundo. Ganhou mais de 350 prêmios, dos quais a maioria é internacional. É membro fundador do Clube dos Diretores de Arte do Brasil e membro do Type Directors Club of New York (desde 1978) e do Art Directors Club of New York (desde 1975). Seus trabalhos são marcados pela sofisticação e reconhecidos pela versatilidade em suas composições, ora excêntricas ora de humor sutil baseado no cotidiano comum. Percebi isto de cara, quando folheei, maravilhado, seu primeiro livro individual “Miran – Um rapaz de fino traço”, com suas primorosas ilustrações em preto e branco, publicado em 1982. Na orelha, o americano Herb Lubalin elogiava: “Para mim, o especial talento do Miran é a sua cabeça inventiva, sua disposição de aventurar e sua magistral habilidade gráfica. Mas é particularmente raro encontrar alguém que possa deslumbrar com o desenho sem ofuscar o significado”.

 

Nascido em Paranaguá, em 1947, tem seu primeiro contato com conhecimentos sobre a técnica da ilustração e artes gráficas aos 14 anos, pelos livros da Famous Artists School, fundada nos anos 1940 nos EUA. Mudou para Curitiba em 1962. Largou o curso de arquitetura para trabalhar como assistente no estúdio de arte do artista polonês Casemiro Ambrozewicz, elaborando embalagens e cartazes promocionais. Um ano depois, foi trabalhar na agência de publicidade Procepel e, em 1964, integrou o Grifo Estúdio de Zeno J. Otto e Nilson Machado. Quatro anos mais tarde, foi contratado pela agência S. J. Mello e, em 1970, transferiu-se para a Associados Propaganda, de Arnaldo del Monte. Em 1975, firmou contrato com a agência PAZ, onde trabalharam outros artistas, como Solda, Rettamozo e Paulo Leminski. Em 1977, montou seu estúdio voltado para os projetos de design. Da admiração pelos trabalhos do norte-americano Herb Lubalin em U&lc (Upper and lower case), tabloide iniciado em 1974, Miran extraiu a inspiração para, em 1977, criar o tabloide “Raposa”, importante e multipremiada referência do design editorial brasileiro. Do contato entre os dois criadores, resultaram suas viagens aos Estados Unidos. Miran explica: “Sempre fui tímido e tive dificuldades de me relacionar ao vivo. Entretanto sou um bom correspondente. Pouco a pouco fui enviando meus trabalhos gráficos para os nomes que mais admirava nos Estados Unidos e Europa. As respostas vieram, e com ajuda de um amigo que conhece inglês profundamente mantive a correspondência e, pouco a pouco os laços se solidificaram”.

 

No início da década de 80, Miran passou a ser aceito em fechados clubes de criadores gráficos – como Type Club e Society of Publication Designers – e estimulado por Eloy Zanetti, então na agência de publicidade Umuarama, começou a expor na galeria Acaiaca, por três anos, uma síntese dos melhores trabalhos que recebia de mestres como Milton Glasser, Saul Bass, Herber Lubalin entre outros, numa mostra chamada Grafia. Em sua modéstia, explica: “Eram exposições restritas. Achei, então, que deveria tornar mais conhecidos estes trabalhos maravilhosos”. A exposição gerou um catálogo que mais tarde se transformou na Revista Gráfica. Mas esta revista é totalmente feita em Curitiba? “É”.

 

A periodicidade que Miran consegue com a Gráfica – sem favor, a mais sofisticada publicação da imprensa brasileira e que se ombreia a poucas revistas congêneres no mundo – veio provar não só o talento de Miran, mas o alto nível de nossa indústria gráfica. Editado nas mais conceituadas publicações de artes gráficas, como Graphis, Graphis Posters, Gebrauchsgraphik, Modern Publicity, Letter heads anual, 1/2/6/7/8 Illustrators, 20/23 Creativity , artigos especiais no UL & C , Graphis 210 , Miran tem um portfólio que ocupa vários volumes. Tudo isto foi conseguido com a mesma timidez, agravada por um toque de síndrome do pânico, de quando chegou a Curitiba, e da enorme genialidade de um dos nossos mais importantes artistas.

 

Do alto de seus 76 anos, encontra-se em plena atividade, como se poder ver nesta ilustração da Capa do livro “Oppenheimer”, com Direção de arte, colagem by Miran para a Art Source Publisher, Inc. ( New York/USA ).

 

 

Pesquisando na internet, achei uma curiosa tese sobre a sua obra: “Aspectos do design de Miran à luz da cartografia poética”, de Magalhães, Leonardo Caldi. Tese apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor, ao Programa de Pós-graduação em Design, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2018.

 

O autor explica: “Nesta tese, adotando o odômeta (propondo a palavra como inversão de método) cartográfico-poético, que desenvolvo baseado em conceitos de Bachelard sobre a fenomenologia da imaginação em convergência com as ideias de Kastrup, Passos e Escossia (estes, por sua vez, apoiados em Deleuze e Guattari), observo o vasto mundo de Miran e sua obra. Rastreando imagens em seus sites de internet oficiais e em seu perfil da rede social Facebook, me conecto com aquelas que, no sentido da imagem poética de Bachelard, me tocam. Em um mar imenso de informações, escolho quatro temas pertinentes à caminhada profissional miraniana de mais de cinquenta anos e discorro sobre eles em ensaios: as alusões feitas aos mestres; os motivos gráficos mais recorrentes em suas obras; seus diálogos gráficos com fotógrafos; e suas combinações de estilos de ilustração.

 

O primeiro destes ensaios, nomeado “Alusões de Miran a quem o constitui”, fala das homenagens que Miran faz a seus mestres em seus trabalhos, principalmente ao mais citado em palavras e evidente nas formas gráficas, nas escolhas de modos de editoração, nos jogos entre imagens em preto e branco e tipografia: o norte-americano Herb Lubalin (1918-1981). “Raposa”, tabloide criado por ele, que teve vida no Diário do Paraná nas décadas de 1970 e 1980, é o suporte principal observado, por sua clara e confessa proximidade projetual com a criação de Lubalin intitulada U&lc (Upper and lower case). Outros grandes nomes do design, referências estudadas nas escolas brasileiras, são citados como fortes influências, reverenciadas e homenageadas por Miran em suas obras. Trago as mais significativas a esta passagem: os norte-americanos Saul Bass e Milton Glaser, e o inglês Alan Fletcher.

 

O segundo ensaio, intitulado “Recorrências na obra de Miran”, traz reflexões sobre elementos gráficos, estilos e formatações que se reproduzem ao longo do tempo. Equilíbrio, simetria e rostos são temas explorados com frequência, através de colagens fotográficas, desenhos, cartuns, pinturas, aplicados em cartazes e em capas e contracapas de catálogos e revistas.

 

O terceiro ensaio, “Diálogos de Miran com fotos”, busca exibir aspectos do trabalho de Miran em interação com outros três criadores que contaram com sua leitura e coautoria, em parcerias formais ou não. Aqui, a fotografia é a poesia que o toca, e a criação conjunta forma a poesia que me toca.

 

O quarto e último, “Combinações: ilustrações e letras de Miran”, foca no modo como Miran tira proveito de seus talentos variados em ilustração. Aqui, suas vertentes de traços, pinceladas e composições de figura e fundo, são exibidos e observados poeticamente. Por sua vez, seu traço caligráfico se faz presente em várias de suas propostas, mesmo quando não há letras na composição gráfica − folhas de árvore ou a vara de pescar de um personagem carregam estas propriedades. Miran é ilustrador quando faz caligrafia e calígrafo quando ilustra”.

 

Tenho certeza que o espírito poético da obra de Mirandinha, como é conhecido pelos amigos, foi o que motivou o grupo de artistas que chamo de FRENTE FRIA a ser seu fã de imediato. Veja a ilustração que ele fez para o poema “O Corvo”, de Edgar Allan Poe, traduzido por Marcos Prado, Thadeu Wojciechowski, Edilson Del Grossi e Roberto Prado:

 

 

Miran: mais um grande artista pouco conhecido aqui, mas de fama mundial.

 

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