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28/04/2024



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Museu dos Relacionamentos Rompidos

 Museu dos Relacionamentos Rompidos

Pra quem conhece o Mundo todo e anseia por descobrir novas experiências fora do comum, eis o lugar: o Museu dos Relacionamentos Rompidos. Ele fica situado entre as Igrejas de São Marcos e Santa Catarina, na parte alta da cidade de Zagreb, capital da Croácia. Aos sábados, noivos e noivas se revezam para tirar fotos em frente a esses templos, enquanto convidados dos casamentos, paradoxalmente, tomam um café no terraço do Museu para comemorar o dia feliz neste espaço inovador que expõe a dor no coração. Ele tem uma localização perfeita: dentro do antigo palácio do pintor abstrato croata Count Kulmer, do início do século XX, onde o funicular de hoje chega desde a parte baixa da cidade até o topo da colina cercada por outros locais culturais da cidade. Cerca de cem mil pessoas visitaram o estranho Museu no ano passado.

 

A ideia de reunir objetos pessoais de fins de relacionamentos veio de um ex-casal de artistas croatas — Olinka Vištica, produtora de cinema e Dražen Grubišić, escultor— ao encerrarem sua união de quatro anos. Os dois enfrentavam o drama de não saber o que fazer com os objetos que tinham em comum e que carregavam uma série de lembranças. Naquele momento, a dupla poderia ter entrado em uma discussão amarga – mas, em vez disso, eles tiveram uma ideia: “Não seria maravilhoso ter um lugar onde todos no planeta pudessem enviar objetos após uma separação?” Seria como uma espécie de “despedida definitiva e criativa” do amor que se foi. “É um espaço metafórico para deixar as coisas para trás, mas ainda deixar um vestígio de que a relação existiu e que era importante para mim”, explica Vištica sobre a coleção que abriu em sua residência em 2010, para se tornar o primeiro museu privado de Zagreb. “É uma experiência íntima em um espaço público, e isso é muito raro”, completa ela.

 

Quando eram namorados, os dois croatas tinham um ritual fofo: quando um deles chegava em casa, o outro dava corda num coelho de pelúcia e o mandava correndo pela casa para dar boas-vindas. E quando viajavam para o exterior em uma viagem de negócios, levavam o coelho branco e tiravam fotos com ele em pontos turísticos. Era um símbolo tão importante do tempo que passaram juntos, que Vištica achava que nenhum dos dois deveria ficar com ele. Então, o coelho de brinquedo foi a primeira contribuição dos fundadores para o suprimento dessa dor global: ele fica parado em frente à sua foto de férias em um deserto de Teerã sob o cartaz: “O coelho deveria viajar pelo mundo, mas nunca foi além do Irã”.

 

O Museu dos Relacionamentos Rompidos exibe objetos doados anonimamente por pessoas do mundo todo e que simbolizam amores passados, cada um acompanhado de um cartaz com uma história ou uma explicação pelas palavras originais de quem teve o coração partido. Um gnomo de jardim aparece sob a descrição de seu voo furioso pelo ar no dia que marca o divórcio de um casamento de 20 anos. As lembranças variam do mundano – como um par de sapatos brancos, que veio com uma nota dizendo: “Ela tentou me impor suas sensibilidades sobre moda” – ao emocionalmente carregado. Um dos itens é um paraquedas doado por uma mulher cujo amado morreu em um acidente de paraquedismo. Há outros objetos, como: um disco da Alemanha nazista, um retrato e uma caixa do amor secreto de judeus perseguidos, uma pasta para guardar papéis e agulhas de crochê de uma refugiada da Síria. O ultimo talão de cheques com os nomes dos ex-parceiros está em um pedestal perto de um salto fino representando um encontro clandestino entre uma prostituta e um cliente. Uma carta de despedida de um primeiro amor em Sarajevo, que estava à beira da guerra que dissolveu a Iugoslávia, simboliza mais um romance que nunca teve chance de acontecer. Uma bandeira esfarrapada, sem a parte de baixo, tremula na entrada enquanto a pequena loja de presentes oferece trabalhos de designers locais como borrachas para más recordações, lascas de joias e cacos de porcelana quebrada. “Transformamos o conceito de museu. Um museu pode ser sobre mim ou sobre você. Acrescentamos algum tipo de valor democrático e introduzimos o amor como uma ferramenta para aprender sobre o mundo”, filosofa Vištica.

 

Dražen Grubišić e Olinka Vištica

 

Além disso, o Museu fornece um lugar muito necessário para a cura. Uma pesquisa feita com ressonâncias magnéticas descobriu que o cérebro de quem teve o coração partido pode se assemelhar ao cérebro de quem sofre com abstinência de cocaína. Outro estudo que monitora os métodos de enfrentamento de vários grupos afetados por términos de relacionamentos, descobriu que, deixar-se levar muito tempo pelo sofrimento não é uma boa ideia, mas refletir sobre um rompimento recente pode ajudar a acelerar o processo de cura. Na saída, qualquer um pode tentar se reabilitar deixando uma mensagem no livro de visitas do Museu, colocado bem em frente a um espelho, já que a pessoa deve encarar a si mesma. Como Vištica diz: “Você sempre pode fazer alguma coisa com o fim de um relacionamento”.

 

A coleção agora inclui mais de 4.000 objetos e cerca de 70 são expostos por vez. Talvez o mais estranho seja uma casca de ferida de 30 anos em uma placa de Petri. Charlotte Fuentes, curadora do Museu, contou sua história: “diz-se que uma bióloga a coletou de seu primeiro namorado para poder cloná-lo em caso de acidente”. Ela disse que semanalmente novos objetos chegam pelo correio. Recentemente, alguém lhe enviou um pedaço de bolo de casamento de 37 anos. Ela o colocou no freezer. “Estou impressionada com o que as pessoas fazem para tentar manter o amor vivo”, disse Fuentes.

 

O que mais motiva Dražen Grubišić a continuar mantendo o Museu e as exposições são as reações de muitos doadores. Para uma matéria do jornal The New York Times ele disse que:”alguns afirmam ter vivido verdadeiras catarses depois de doarem um objeto do amor fracassado. Além disso, os visitantes se reconhecem nas histórias, na dor, nas situações engraçadas e nas emoções dos outros expostas. Não é raro ver um visitante emocionado, abraçando a si mesmo ou um dos funcionários do Museu”, revelou. No site, o “www.brokenships.com”, é possível enviar fotos, mensagens e gravações das suas últimas palavras sobre uma relação fracassada. Em 2011, o espaço recebeu o Prêmio Kenneth Hudson de mais inovador da Europa e em 2016 ganhou o Prêmio International Design Communication Award de museu com a melhor página da internet.

 

O Museu não recebe muitas partes de corpos pelo correio, disse Grubišić, mas acrescentou que uma vez uma apresentadora da TV croata doou uma pedra da vesícula. “Seu parceiro a estava deixando tão nervosa que ela disse que contribuiu para a formação da pedra”, disse ele. “A história dela dizia: ‘Isto é o que ele me deu.’” Ela acabou pedindo a pedra de volta, disse Vištica, e eles devolveram. Agora, o museu tem a política de nunca devolver nada, mesmo que um doador se reconcilie com seu ex.

 

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