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28/04/2024



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O futuro de Coppola

 O futuro de Coppola

Uma das minhas fontes preferidas sobre Música e Cinema é o FAROL, uma plataforma criada e dirigida pelo meu primo carioca José Emílio Rondeau, um dos mais experientes e talentosos jornalistas culturais do Brasil. Em 24/11/23, o Farol publicou uma matéria chamada “O futuro, segundo Francis Ford Coppola”, que me interessou bastante. Eu já tinha escrito, no ano passado, um artigo sobre a passagem marcante de Coppola por Curitiba e agora surgiram novas informações sobre “Megalopolis”, o filme que ele pretendia rodar parcialmente por aqui.

 

Tudo começou com uma palestra do diretor americano para uma plateia reunida no auditório da IE University, escola de negócios em Madri, na Espanha, em novembro passado. Liderado pelo CEO da escola, Diego del Alcázar Benjumea, o encontro — denominado The Next 50 — centrou-se nas mudanças que nos aguardam nas próximas décadas, sendo discutidos os possíveis caminhos na educação, nas humanidades, na Inteligência Artificial e na sustentabilidade.

 

“Abraçar o futuro é não se preocupar em ter que vestir meias de um mesmo par”, disse o homem de 84, vestindo uma meia azul e outra verde, como se pode ver na foto acima. “Sempre misturei minhas meias”, admitiu ao público espanhol. “Faço isso há décadas. Mas agora é moda. Nunca se sabe”. Engraçado saber isto, nos anos 80 eu fazia a mesma coisa, mas tinha 20 anos.

 

A IE University havia realizado uma pesquisa junto a oito mil cidadãos dos países do G20 para saber o que anteviam para daqui a meio século, e 80% disseram que a Inteligência Artificial teria participação essencial na sociedade futura. Mais de um terço dos respondentes acredita que a IA dominará todos os aspectos da nossa vida – saúde, trabalho, educação, por exemplo. Importante ressaltar que este artigo não foi escrito com auxílio de IA.

 

Coppola também vislumbra um futuro com forte predominância da Inteligência Artificial, mas garante que sempre haverá uma arbitragem por parte das ciências humanas. Ele falou de “uma revolução em direção a algo que não é completamente de carne e osso, mas ainda é humano”.

 

“Há uma tendência para apostar nas competências práticas e técnicas, […] mas acredito que as artes e as humanidades são também essenciais para o desenvolvimento humano e para a formação de cidadãos informados e reflexivos.”

 

As novas ferramentas tecnológicas que já existem e que surgirão daqui para a frente entusiasmam Coppola, cujo trabalho no cinema sempre buscou expandir as possibilidades de sua arte. Foi ele, por exemplo, um dos primeiros a usar a edição não-linear em filmes, como fez em O Fundo do Coração, de 1981. E foi ele que, 30 anos atrás, numa entrevista, predisse que a internet seria o futuro. O cineasta que ganhou cinco Oscars como diretor, roteirista e produtor, falou com otimismo sobre a tremenda capacidade transformadora das ferramentas tecnológicas que estão apenas começando a mostrar o seu potencial. “Contar histórias é algo que se reinventa constantemente. Diria que os filmes que meus bisnetos verão serão muito distantes do que sou capaz de imaginar”, admitiu para a plateia.

 

No entanto, “há que haver regulamentação”, e o uso da Inteligência Artificial, se não pudermos deixá-la “guardada numa caixa”, não deve deixar de lado o elemento humano, jamais. “Precisamos educar a IA como se fosse mais um filho nosso”, exemplificou. “Se pudéssemos construir uma IA com consciência, teríamos que tratá-la como se fosse um descendente nosso”, argumentou Coppola. “Precisamos entender que nossos descendentes não serão apenas de sangue”. No entanto, para ele é preciso manter esse novo tipo de familiar na rédea curta. “Se não controlarmos a IA, ela se tornará muito mais inteligente que nós e pode vir a desenvolver um software que não nos inclua!”. “Já temos computadores que aprendem com sua própria experiência e são capazes de escrever código”, alertou. “Isso é aterrador”.

 

Mas o homem não vive só de arte. No ambiente da escola de administração, Coppola também falou sobre seu papel como empresário fora da indústria cinematográfica. Ele foi dono de vários hotéis em diferentes partes do mundo, como na vizinha Argentina, e também administrava um grande vinhedo na Califórnia, onde vendia vinhos da marca Francis Ford Coppola Winery. “Tanto o vinho como o cinema têm três momentos: a vindima, a preparação e depois o acabamento”, explicou.

 

Coppola preencheu a lacuna entre a criatividade necessária para escrever roteiros e produzir filmes e a demanda por inovação do lado empresarial. Ele também reconhece a importância de ter uma boa equipe de trabalhadores e um bom elenco. “O elenco é importante em todos os aspectos da vida. Até no casamento”, brincou.

 

E aí chegou o ponto da palestra que mais me interessou. Francis aproveitou a ocasião para falar um pouco sobre um de seus projetos mais ambiciosos, o longa “Megalopolis”, orçado em mais de 120 milhões de dólares e com Adam Driver, Aubrey Plaza, Forest Whitaker, Jon Voight, Shia LaBeouf, Dustin Hoffman e Giancarlo Esposito no elenco. No novo filme ele deseja mostrar uma “história moderna dos Estados Unidos” com toques clássicos. “A América de hoje está sofrendo as mesmas dificuldades por que Roma passou, 2.500 anos atrás. Então, pensei em fazer uma epopeia romana”. A liberdade para criar um projeto tão pessoal vem da capacidade de Coppola de financiar ele mesmo seu trabalho, embora também tenha mencionado seu início não tão próspero: “Quando comecei não conhecia ninguém na indústria cinematográfica.” Desde o início de sua carreira, quando comeu macarrão com queijo de 50 centavos no almoço, até seu investimento de US$ 120 milhões no “Megalopolis”, foram tantas obras lendárias que o cineasta chegou a prever, brincando, o fim do dinheiro: “Não aconteceu por enquanto, e chegará um momento no futuro em que isso deixará de ter importância.”

 

Encerrada a interessante palestra sobre o Futuro de Coppola, colhi mais informações sobre o seu próximo filme.

 

 

Francis Ford Coppola começou a escrever “Megalopolis” na década de 1980, como um projeto pessoal. O ator Rob Lowe disse que Coppola estava falando sobre o projeto quando estavam filmando “The Outsiders” em 1982. Em uma entrevista, de maio de 2007, para Ain’t It Cool News, Coppola declarou que seus acordos para dirigir “Drácula” (1992), “Jack” (1996) e “The Rainmaker” (1997), foram feitos para se livrar das dívidas e financiar “Megalopolis”. Jim Steranko, que anteriormente criou ilustrações de produção para “Drácula de Bram Stoker”, produziu uma dúzia de trabalhos coloridos para “Megalopolis” em meados da década de 1990, a pedido do diretor, para criar “panoramas arquitetônicos de conteúdo e imagens” nítidos. No final da década de 90, ele retomou o filme e chegou a apresentar o roteiro pra Robert De Niro, Leonardo Di Caprio e Uma Thurman, mas aí acontece o ataque às torres gêmeas. Como “Megalopolis” se passa numa época em que a cidade foi destruída por um acidente natural e precisa ser reconstruída, tanto que o personagem principal é um arquiteto, o risco deste filme ser um fracasso naquele momento era enorme.

 

Conforme informei no meu artigo “Coppola em Curitiba”, de 24/08/2023, ele passou aqui por um período em 2003 para fazer pesquisas para “Megalopolis”, que estava orçado então em U$ 60 milhões. Sua pretensão era mostrar que é possível viver numa grande cidade e ter seus problemas urbanos resolvidos por soluções de baixa tecnologia. Sua intenção de rodar uma parte do filme em Curitiba era tão firme que trouxe junto seu diretor de arte favorito, Dean Tavoularis, para buscar locações na cidade.

 

Em 2016, Coppola chegou a publicar um trailer do filme, que pode ser visto aqui. Curioso, o elenco era totalmente diferente das filmagens atuais: Russel Crowe, Angelina Jolie, Robert de Niro, Nicolas Cage e Paul Newman. E mais uma vez, parecia que ele tinha desistido do filme.

 

Mas este é o projeto da vida de Coppola e em 2019 ele anunciou que voltaria a desenvolvê-lo. Além de dirigir, também escreveu o roteiro de “Megalopolis”, cuja trama acompanha um arquiteto, interpretado por Adam Driver, que quer reconstruir a cidade de Nova York como uma utopia após um desastre devastador. Uma mulher (Nathalie Emmanuel) está dividida entre a lealdade ao pai (Forest Whitaker), que tem uma visão clássica da sociedade, e ao amante (Driver), que é mais progressista e pronto para o futuro.

 

Megalopolis conta com Dustin Hoffman, acusado de assédio sexual por várias mulheres em 2017, Adam Driver (Casa Gucci), Aubrey Plaza (Alguém Avisa), Laurence Fishburne (John Wick 3: Parabellum), Nathalie Emmanuel (Velozes & Furiosos 9), Jon Voight (Ray Donovan), Giancarlo Esposito (Breaking Bad) e Forest Whitaker (Godfather of Harlem).

 

O cineasta não conseguiu financiamento de estúdios de cinema para bancar esta superprodução, então ele colocou o próprio dinheiro no projeto. Para fazer isso, vendeu muitas propriedades, como hotéis e suas lucrativas vinícolas da Califórnia, para conseguir pagar o filme, que custou aproximadamente US$ 120 milhões, pouco menos de R$ 600 milhões.

 

A fotografia principal começou no Trilith Studios na Geórgia em 1 de novembro de 2022, com fotos do set de filmagem de LaBeouf e Emmanuel em Atlanta sendo publicadas em 8 de novembro e deveria terminar em março de 2023. O filme foi originalmente rodado usando tecnologia OSVP no Prysm Stage, Trilith Studios, mas “à medida que os desafios e custos dessa abordagem aumentaram, a produção está tentando migrar para uma abordagem de tela verde mais tradicional e menos dispendiosa”.

 

Em janeiro de 2023, o filme estava na metade das filmagens quando relatórios indicaram que o orçamento ultrapassou seu preço original de US$120 milhões, que vários jornalistas compararam com os problemas de produção do filme de Coppola de 1979, “Apocalypse Now”. Devido ao relatado “ambiente de filmagem instável”, foi revelado que vários membros da equipe saíram do filme, incluindo a designer de produção Beth Mickle, o diretor de arte David Scott e o supervisor de efeitos visuais Mark Russell, junto com o resto da equipe de efeitos visuais. Coppola e Driver contestaram o relatório, afirmando que embora houvesse alguma rotatividade na equipe, a produção estava dentro do cronograma e do orçamento e avançando sem problemas. Coppola ainda disse que as filmagens tinham acabado em 12 de março de 2023 e agora está na fase de pós-produção. Esclareceu também que ainda não tinha fechado com nenhuma distribuidora. “Do meu ponto de vista, cumpri o cronograma, o que, em um filme grande e complexo, é difícil de fazer”, disse Coppola. “Eu amo meus atores e não há nenhum deles que eu mudaria. O filme tem um estilo que superou minhas expectativas. Sinceramente é assim que me sinto. O mais importante é a vida que o filme poderá ter quando eventualmente se formar e florescer.”

 

Paralelamente, Mike Figgis dirigiu um documentário de bastidores da produção de “Megalopolis”. Ele descreveu o filme como “Júlio César encontra Blade Runner” e que a duração seria de cerca de 2 horas.

 

Adam Driver encerrou as filmagens de seu papel no início de março, declarando: “Como ele mesmo financiou, o processo de filmagem foi uma das melhores experiências, se não a melhor, que já tive. Não houve conversa excessiva, não houve gente roubando de Pedro para pagar a Paulo. Parecia que ele estava no controle do filme que queria fazer e pronto. Parecia: ‘Oh, é assim que os filmes deveriam ser’. E ele é a pessoa mais generosa e filosófica que conheço. Eu adorei esse processo e adoro conversar com ele.”

 

A expectativa da indústria do Cinema sobre o lançamento de “Megalopolis” é tão grande, que Coppola, recebeu permissão do sindicato dos atores (SAG-AFTRA) para seguir trabalhando na produção, em meio a grande greve em Hollywood do ano passado.

 

Recentemente, Coppola exibiu 30 minutos de “Megalopolis” para Spike Lee em Atlanta, que anunciou a reunião no Instagram. A reação de Lee: “Meu Deus, incrível!”

 

Em 5 de janeiro deste ano, Coppola anunciou: “Vai demorar apenas alguns meses e será lançado. Tudo o que posso dizer é que adoro os atores. É incomum e nunca é chato. Fora isso, espere e veja.”

 

Em novembro último, Curitiba foi agraciada com o prêmio de Cidade Mais Inteligente do Mundo, justamente em Barcelona, onde Coppola deu sua conferência sobre o Futuro. Será que faremos ao menos uma ponta no esperadíssimo “Megalopolis”?

 

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