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26/04/2024



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Vivienne Westwood

 Vivienne Westwood

O melhor acessório de moda é um livro

 

Uma estilista que profere esta frase só pode ser, a meu ver, a melhor de todos os tempos. No dia da morte de Pelé houve outra que senti mais: a de Vivienne Westwood, aos 81 anos, em sua casa, no sul de Londres. Era de se esperar que sua história ficasse marcada por contribuir com a popularização do estilo punk. Na foto acima vemos Vivienne conversando com Sid Vicious, um dos ícones do movimento. E é a pura verdade: ao lado do ex-marido, Malcom McLaren, a estilista, professora, joalheira treinada e ativista mudou a maneira como muita gente se vestia e se comunicava por meio das roupas. Porém, não é exatamente o punk que define sua visão criativa. Na verdade, o punk é só uma das muitas manifestações de pensamento radical e críticas à civilização moderna que permeiam seu trabalho e vida.

Segundo o historiador Jon Savage, o repertório da britânica é essencialmente “uma reação a qualquer coisa ortodoxa”. Vivian Whiteman também escreveu sobre como a recusa à conformidade de como muitas coisas nos são dadas – impostas, na real – foi traduzida em roupas. Roupas rasgadas, carregadas de referências históricas, com proporções exageradas ou diminutas, caindo do corpo ou o definido num eterno questionamento e desafio libertário das definições de gênero, sexualidade, classe, etiqueta e padrões de todos os tipos.

Outro ponto de destaque é o seu feminismo particular. Não que Vivienne tenha trabalhado só com mulheres. Seus principais colaboradores e parceiros eram homens: Malcom McLaren, Carlo D’Amario (executivo italiano do ramo têxtil que ajudou a financiar a marca da estilista após o fim da sociedade com o ex-marido), Andreas Kronthaler (parceiro na vida e nos negócios e diretor criativo da etiqueta). Ainda assim, a palavra final, era e sempre foi sua. “Eu tenho minha própria empresa, então nunca tive um executivo me dizendo o que fazer ou se preocupando com algo que não vende”, disse em entrevista ao jornal The Times, em 2009. Quando Vivienne engravidou de McLaren, ele suplicou por um aborto, mas ela gastou o dinheiro num twin set de cashmere. Em um post no Instagram, a modelo, musa e amiga Naomi Campbell fala sobre isso: “Sua força era admirável em um negócio dominado por homens. Você era uma força da natureza, que sempre me encorajou a seguir em frente e não desistir das coisas pelas quais sou apaixonada para além de modelar”.

Vivienne chegou a estudar moda e ourivesaria na Harrow School of Art em Londres, quando tinha 17 anos. Só que cursou apenas um semestre e abandonou o curso dizendo que uma pessoa da classe trabalhadora jamais conseguiria ganhar a vida no mundo da arte. Ela passou a trabalhar numa fábrica, depois como professora, até conseguir abrir sua boutique Sex, em 1974, que se tornou o centro da moda punk no Reino Unido. Malcolm McLaren trouxe dos Estados Unidos o conceito do movimento: no tempo em que foi empresário dos legendários New York Dolls pôde ver, ao vivo, shows dos Ramones, Television, entre outras bandas que estavam revolucionando a cena local. De volta a Londres, Malcolm virou sócio de Vivienne na Sex. Ela estava à frente da criação de todas as peças, que tinham como marca o uso de elementos fetichistas e chocantes, como roupas de couro com adereços que remetiam à violência. Estas roupas foram fundamentais na consolidação do estilo punk.

Sobre a estética criada pelo movimento, Barnard (2003) aponta que o punk pode ser explicado como uma reversão das estimativas dadas a cores, texturas e tecidos convencionais. Objetos que até então eram desvalorizados, ou considerados feios, ou ambas as coisas, passaram a ser usados, e em partes do corpo que não costumavam ser adornados. Segundo Hebdige (1979), citado por Barnard (2003, p. 194): “ Materiais baratos, vagabundos (PVC, plástico, lurex, etc.), em desenhos vulgares (por exemplo, imitação de pele de leopardo) e cores ‘indesejáveis ‘, como verde-limão e rosa, passou a fazer parte da indumentária punk.” Nesse sentido, o movimento pode ser visto como uma tentativa de reverter o privilégio concedido a estilos, tecidos e cores. O que era considerado de bom gosto pelas classes dominantes é contrariado pelo uso do que elas consideravam de mau gosto.

A loja Sex, em parte pelo grande impacto causado na mídia, durou pouco e fechou em 1979. No seu lugar, Vivienne abriu outro empreendimento, chamado The World’s End, uma loja de chão torto que ainda existe, administrada pela sua poderosa marca.

A estilista teve dois filhos. Benjamin Westwood nasceu do casamento com seu primeiro marido, Derek Westwood, em 1963. Já Joseph Corre, seu filho com Malcolm McLaren, é de 1967. O mais curioso é que ambos os rebentos parecem ter seguido o estilo artístico controverso da mãe. Benjamin é um fotógrafo erótico e Joseph (que usa o nome de Joe Corre) é o fundador da marca de lingerie Agent Provocateur.

 

 

Seu primeiro vestido de noiva, uma das marcas fortes de suas coleções, foi criado para seu casamento com Derek Westwood em 1962. Muita gente conheceu o nome de Vivienne Westwood depois que ela concebeu o vestido de noiva usado pela personagem Carrie Bradshaw no filme Sex and the City, que foi copiado por mulheres no mundo todo. O vestido chegou a ser posto à venda em sua loja virtual, e os exemplares esgotaram em poucas horas.

Em 1992, Vivienne recebeu um prêmio da Ordem do Império Britânico (o famoso OBE). A entrega deste reconhecimento foi feita no Palácio de Buckingham, pelas mãos da própria Rainha Elizabeth II. Por conta de uma fotografia indiscreta, foi revelado depois que ela estava sem calcinha no momento em que recebia o prêmio. Mais tarde, ela repetiu o feito em 2006, quando recebeu uma láurea do Príncipe Charles. Vivienne se orgulhava de dizer que a rainha teria se divertido muito com a foto.

É ou não é a maior estilista de todos os tempos?

 

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