Era final de um dezembro , anos 1990 , em Curitiba.
O telefone toca. A secretária o transfere ao meu ramal.
Ouço: – Seo Gennaro!? É o Seo Rubinho Gennaro? (Rubinho é meu diminuitivo familiar…penso em alguém conhecido).
Respondo: -Sim, sou eu!
A Voz: – Sinhor naum mi conhece, mas eu tenhu uá incomenda pro Sinhor! (É uma voz anasalada, com forte sotaque caipira interiorano).
Eu: – Encomenda? Que tipo de encomenda?
A Voz: – Seo tio qui mandô eu ti intregá essa incomenda , ela procê…uai….(agora com sotaque mineiro acentuado… pareceu-me, mais um , boa gente…).
Eu: – Mas que tio? Que encomenda?
A Voz: – É lá da sua cidade, du interior di São Paulo….mis esqueci o nome do seu tio! Mas você é o Rubinho Gennaro, certo??
Eu: – Já disse sou eu mesmo!
A Voz: – Intão eu truxe a incomenda procê, faiz treis dia que eu cheguei na Redoviária di Curitiba…i tô numa pensão qui perto…com a incomenda e quase sem dinheiro…(ouvi, senti pena do coitado…e pensei, vai me pedir algum dinheiro).
A Voz: – Quar é seu indereço?
Eu: – Aqui na Rua Comendador Araújo. Edificio Adam Smith.
A Voz: – Tá bão , tô levando aí a incomenda. (sotaque caipira mineiro bem pronunciado).
Eu: – Peraí! Vc tem que me dizer que encomenda é essa??
A Voz: – Ela já tá meio azurzinha, tá meio cheirando um poquinho, mais ainda dá pra cumer no Ano Novo!…
Eu: – Pra comer? Que negócio é esse?
A Voz enfática:- É uma leitoinha! De meia arroba….tô levando ela aí no seu Prédio! Seo Tio que mi mandô lhe intregá! Inté falô que Vc deve pagar a minha pensão e a Leitoinha! O dinheiro da passagem pra vortá eu já tenho!
Eu lhe respondi com raiva: – ÔOh Cara ! Não sei quem você é! Você não falou o nome do meu tio! Não pedi nenhuma leitoinha, não vou pagar nada! Nem sua pensão, nem leitoinha…nem porra nenhuma!!!
A Voz: – Naum qué a leitoinha? Naum vai pagá minha pensão?
Eu: – Nem leitoinha. Nem pensão! Já disse e repito! Porra nenhuma! Não insista!!
A Voz (furiosa): – Ah é …é assim… intão vô leva ela aí na porta do seu prédio. Vô jogá ela no chão, vô dizê que você é um caloteiro….vô fazê um escândalo…cê vai vê!…
Eu respondi a altura: – Pode vir tô te esperando…seu F.D.P… não encomendei leitoinha…não pagarei nada!!!
A Voz: – Vô aí jogá no chão essa leitoinha e te enche de porrada seu ingrato! Seu escroto, F.D.P é você!
Eu (já transtornado e pensando em me armar contra esse doido com a leitoinha): – Venha tô te esperando no térreo seu babaca! Vamos sair na porrada! Vou te quebrar… etc… etc… com palavrões….
A Voz: – Longo silêncio… eu já tremendo de raiva. Ouço gargalhadas longas e sonoras do outro lado da linha. Quaquaráqua quá…hahahahaha… Gennarooooo, te peguei, caiu com um patinho…..quaquaqua…aqui é o Mauricio!!!!
Eu: – Quem? Que Maurício?
A voz …agora sem imitações: Mauricio Fruet! Gostou da leitoinha??
Eu: – Putz Mauricio! Me enganou mesmo!!! Genial!!! Parabéns!!! Gargalhei aliviado!!!!! Pô Mauricio que estória essa da Leitoinha!!! Maravilha!!!!
Mauricio: Venha aqui amanhã, beber um chá comigo! Conversar!
Beberíamos ainda alguns outros chás matte. Eu lhe faria alguns desenhos. Ouviríamos outras piadas juntos ao Trevisan, seu assessor a época.
Ali em seu escritório da Rua Des. Westphalen. Defronte a Praça Ruy Barbosa. Até a Praça hoje é mais triste. Inesquecível e bem humorado político Mauricio Fruet.
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