Na semana que passou, Fernando Diniz fez enfática crítica à forma que os técnicos de futebol são demitidos no Brasil.
Desde que acompanho futebol (e isso já faz ao menos 40 anos) a história se repete. Muito dificilmente um técnico consegue manter-se em seu cargo por muito tempo.
Se formos analisar os que hoje estão à frente dos times das séries A e B do Brasileiro, por exemplo, temos apenas Abel Ferreira, Vojvoda e Tencati com mais de 2 anos no cargo. Diniz se juntará a esse seleto grupo em pouco mais de um mês.
E sabem por qual motivo esses treinadores estão, por todo esse tempo, dirigindo seus times? Por que (dentro das ambições e do tamanho de cada uma das equipes) estão conseguindo trazer resultados no campo. E esses resultados no campo trazem dinheiro. Simples assim.
Paremos com a hipocrisia de citar que o treinador precisa de tempo para consolidar seu trabalho, para impor seu conceito, para mostrar que sua metodologia está correta. Esse tempo, no “negócio futebol”, não existe.
Todo treinador entra em uma equipe para dar resultado imediato. Futebol só vive com dinheiro. Todo executivo de uma grande empresa (para se fazer uma analogia) nela é absorvido para dar resultado financeiro. Tão simples quanto.
Uma equipe que, devido a insucesso em campo, perde sócio torcedor, perde verba de torneio, perde venda de camisas, perde patrocinador, não deve e nem pode insistir com o profissional que lhe causa esse prejuízo. A insistência lhe trará prejuízos ainda maiores.
Futebol é um negócio que difere de todo o resto. O tempo é exíguo. Não há como esperar para colher frutos.
Alguns vão dizer: mas na Europa ou nos EUA é diferente! Será mesmo?
Se os resultados não estiverem sendo alcançados o técnico é substituído na Europa. Lá o prejuízo financeiro é até maior do que no mercado brasileiro pois os valores envolvidos são maiores. Há técnicos longevos lá, mas que que tem resultados impressos em seus currículos.
Nos EUA há uma característica diferente. Lá não existem torcedores. Existem fãs. Futebol é muito mais um passatempo de que uma paixão, como visto no restante do mundo. Aí pode-se até tolerar uma moderada incidência de resultados negativos. Mas, no que esses resultados impactarem nos bolsos dos donos das franquias, os gestores técnicos também serão imediatamente trocados.
Sei que essa coluna é polêmica. Virão alguns defender o dito trabalho a longo prazo. Mas sou totalmente cético quanto à longevidade nessa função. Os exemplos estão aí para comprovar. Resultado gera permanência. Se não se têm resultado, busca-se outro profissional que dê solução ao problema.
Finalizando e, novamente, citando a hipocrisia que circula esse tema. Os técnicos recebem valores absurdos. Totalmente fora da realidade de qualquer trabalhador. Maiores que os executivos de gigantes empresas nacionais ou multinacionais que geram bilhões aos seus acionistas. Eles recebem esses valores justamente por saberem que seu período será curto acaso não apresentem resultados. Ou alguém acha que um técnico de futebol possui mais embasamento técnico, teórico, funcional, vivencial que faça que ele seja merecedor de proventos maiores que um executivo de uma Vale, de uma Petrobrás, de um Itau??
A reclamação do Diniz poderia ser válida se estivéssemos em um ambiente diferente. Se estivéssemos em um ambiente de esporte amador. Se não houvessem aficionados. Se não estivéssemos em um mundo em que milhões de reais transitam.
Aí até seria aceitável reclamar. Mas, no mundo real do “futebol business” a realidade é diferente. Ou o resultado vem ou se está perdendo dinheiro. E até hoje não consegui conhecer ninguém que jogasse dinheiro pela janela…
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