Os processos de implantação de SAFs, especificamente no Brasil, dividem-se hoje em três grupos que eu chamo de três “ondas”. Importante que saibamos os momentos comerciais e financeiros que cada clube está, estava ou estará inserido no momento da negociação, pois nenhuma será igual. Cada uma terá suas particularidades, suas peculiaridades.
O primeiro grupo mostra a “venda” de clubes que já estavam em avançadíssimo estágio de deterioração financeira, comercial e desportiva. Esses clubes foram adquiridos pelo preço que os compradores quiseram pagar. Alguns casos ainda chegaram ao ponto de sequer terem interessados na compra, ou não conseguirem finalizar os processos, tamanho “buraco negro” que estava sendo apresentado aos interessados compradores. Há clubes no País (e não são poucos) que possuíram passado com títulos e glórias, mas a realidade financeira não traz qualquer conforto para investidores que só entram nesse negócio com o claro propósito de obter receita a médio prazo.
O segundo grupo mostra a “venda” de clubes que apresentam uma situação financeira muito delicada, mas que ainda tem potencial comercial e esportivo. Nesses negócios o “preço final” é mostrado por uma valoração a mercado. Mas entenda-se sempre que a parte “vendedora” não ficará com o bolo todo. Certamente sempre haverá o desconto das dívidas contraídas antes da negociação. Não é o momento mais adequado para se comercializar o clube sob o aspecto negocial; o comprador pode “apertar” mais para defender seus interesses. Por outro lado, se a negociação não ocorrer, o clube perde cada dia mais valor de mercado e chegará ao ponto de ter que aceitar condições parelhas às que são oferecidas ao primeiro grupo.
O terceiro grupo mostra a “venda” de clubes que tem diferenciais. Alguns pela dimensão que possuem (gigantesca e com muita receita ano após ano, independente de possuírem boa gestão). Outros por estarem em estados da federação que, por conceitos culturais, não aceitam que o clube saia do controle dos próprios administradores regionais. Outros por já serem SAFs informais há muitos anos (conseguiram fazer com que seus processos políticos não interferissem na gestão). Esse terceiro bloco, em algum momento, será obrigado a transformar-se em SAF. O mercado fará essa imposição. Só que as condições financeiras e negociais certamente serão melhores se comparadas aos dois grupos anteriores.
Essas chamadas “ondas” por óbvio, dizem respeito apenas aos clubes de massa, em que suas torcidas (que prefiro chamar de fãs) possuem chamamento popular.
Paralelamente a esses processos existe, com velocidade galopante, um movimento de implantação de inúmeras SAFs pelo Brasil. Só que elas ou partem do zero ou adquirem clubes de expressão ínfima, sem repercussão. Isso não quer dizer que não terão sucesso. Pelo contrário. Quem leu minha coluna anterior, viu que de nada adianta a transformação em SAF sem que se tenham gestores competentes à frente delas. Ouso dizer que, em uma década, vários desses nomes hoje desconhecidos ou inexpressivos estarão disputando palmo a palmo com as SAFs maiores e mais conhecidas. Quem gerir melhor, quem souber trabalhar suas receitas com zelo e quem souber transformar o futebol no business que ele efetivamente é, terá muito destaque.
Existem coisas que, apesar de não gostarmos, não temos como combater. Os tempos são outros. Quem não se adequar, ficará muito para trás ou até não existirá. A SAF está aí. O futebol como gerador de receita e maior produto de entretenimento mundial precisa dela.
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1 Comentário
Parabéns pelos textos, sempre esclarecedores!