Os valores envolvidos com o negócio futebol nem se comparam com os valores de décadas atrás. Isso ninguém discute. Pouquíssimos atletas ou outros profissionais ligados ao esporte ficavam milionários. Hoje todos os que chegam a ter algum destaque, mesmo que mínimo, conseguem fazer o pé de meia necessário para viver com tranquilidade quando encerrarem a carreira.
Mas o tema hoje não vai ser esse. O tema é o quanto hoje a dinâmica, a forma, os instrumentos, a tecnologia tem impactado a forma de ser do nosso esporte.
Nesse modelo moderno, o desenvolvimento de cada atleta é algo extremamente científico. Analisam-se todos os índices que fazem com que o atleta possa ter melhor desempenho. Desde os componentes sanguíneos que podem detectar fadiga, até os aspectos musculares que apontem para eventuais rupturas. Isso sem falar no processo psicológico tão necessário para que os atletas tenham a confiança necessária para desempenharem bem.
E o aparato de equipamentos que cercam esses profissionais é algo surreal. Já tive a oportunidade de conhecer vários departamentos de fisiologia, médico, de fisioterapia e de desenvolvimento muscular tanto no Brasil quanto em alguns clubes europeus. As condições de treinamento, tratamento e acompanhamento que se dão aos atletas beiram à perfeição. Não se pode, hoje em dia, dizer que não houve desempenho devido à falta de equipamentos de suporte.
E pessoas? O tão importante ser humano… Já reparamos quantos assistentes fazem parte do quadro de uma equipe?
Quem ainda não se deu conta, repare no aquecimento pré-jogo dos atletas, já em campo. Ali cerca de 80% dos profissionais ficam dando assessoria. É uma enxurrada de gente. Assistentes do treinador, assistentes do treinador de goleiros, assistentes dos fisioterapeutas, assistentes dos preparadores físicos, assistentes de rouparia, médicos, analistas de desempenho, gerentes e staff de futebol. Isso sem contar os que não sobem à campo como os roupeiros titulares, massagistas, organizadores de vestiário, etc. É muita gente, mais que o próprio número de jogadores que entrarão na partida.
E não esqueçamos da tecnologia. Reparemos, jogo após jogo, todo e qualquer assistente com seu tablet em mãos. Cada qual com sua função de análise específica. Alguns visualizando se as instruções táticas foram cumpridas de acordo com o planejamento daquele jogo, outros medindo desempenho de cada atleta no tocante à explosão, velocidade, força. Outros até fornecendo dados do adversário para que a comissão técnica possa tomar decisões rápidas, imediatas, durante a partida. Não é por falta de informação, de dados, que se perde um jogo.
Obviamente que todo o aparato que falamos deixa o jogo muito mais “mecanizado”. O jogo cada vez mais terá menos improviso, terá menos situações inusitadas. Será mais pragmático.
Gostamos mais do jogo jogado hoje em dia ou dos jogos de antigamente, onde se corria alguns quilômetros durante a semana e se faziam algumas flexões e alguns polichinelos para manter a forma? No vestiário, se a vitória viesse, era até permitido fumar um cigarrinho…
A questão nem é gostar ou não. É aceitar o fato que tudo nesse universo do futebol mudou. O patamar é outro. As exigências são outras. Podemos até lembrar, saudosistas, desse velho futebol. Mas tenhamos a certeza plena que o esporte será cada vez mais trabalhado como uma atividade de altíssimo rendimento, onde busque-se reduzir a incidência de erros, onde busque-se o resultado que traga mais dinheiro aos cofres de cada clube.