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GLENN-CABECA-COLUNA

Endrick e Vitor Roque. Valem o que custaram?

20/11/2024

Hoje em dia os contratos de venda de jogadores para o exterior não possuem apenas a valoração fixa. Tais contratos têm valores monetários expressivos, mas parte representativa desses valores diz respeito às metas que o atleta poderá e/ou deverá cumprir.

As metas subdividem-se em vários grupos. Gols marcados, assistências, participações em partidas, participações em torneios, títulos conquistados e assim por diante. Cada qual com seu peso e respectivo valor financeiro agregado.

Por qual motivo isso tornou-se importante? Costumo brincar com amigos próximos que quando se compra um celular, sabe-se exatamente quais as funções que ele tem, quais as tarefas que desempenhará e quais os limites que o aparelho possui. Quando se “compra” um ser humano, compra-se um “combo”. Não se compram apenas as características técnicas que o atleta possui. Compra-se a possibilidade de não adaptação ao país, sua cultura, seu clima, seus costumes. Compra-se parte da família do atleta que normalmente o acompanha (e isso pode ser um ponto muito positivo ou pode ser negativo). Compra-se a mente do atleta; mente esse que não se sabe como reagirá às diversas dificuldades que o novo desafio (em terras estranhas) trará. Compra-se a possibilidade do grupo já formado de atletas do plantel não aceitar o recém-chegado. Enfim, compra-se uma série de situações que não são totalmente mensuráveis, que podem ou não dar certo.

Justamente por isso os compradores estabelecem metas e objetivos. Antigamente comprava-se o “passe” integralmente. Se o atleta não desempenhasse, por qualquer dos motivos citados, o prejuízo ficaria integralmente com o clube que o adquiriu. Não são raros os casos em que víamos atletas de nível técnico elevadíssimo saindo do Brasil e sendo uma completa decepção lá fora. É deselegante nominar, mas se fizermos breve reflexão, certamente lembraremos de mais de dezena de casos.

E aí creio que todos nós concordamos que era um processo injusto para os clubes que compravam os jogadores. O próprio jogador poderia deixar a negociação transcorrer, encher os bolsos e, chegando no país destino, não querer jogar. Caráter nem sempre é mensurável antes do fechamento da negociação.

E aí falamos do Endrick e do Vitor Roque. Não sou próximo a nenhum deles, não os conheço. Mas conheço muito bem os empresários de ambos. Tenho convicção que, comercialmente, os valores fixos da negociação foram os mais altos que os empresários puderam “espremer”. Os dois atletas têm muita qualidade, isso é inegável. Mas todas as situações que falamos acima, agregadas a dois fatores muito importantes podem, a qualquer momento, colocar a carreira de ambos em viés de baixa. E quais são esses dois fatores: o deslumbramento com tanto dinheiro (são quantias surreais para qualquer mero mortal) e a pouca idade, que pode fazer com que decisões erradas sejam tomadas.

Enfim, cravar que os dois darão certo ou darão errado é impossível. Se o investimento valeu ou não valeu, só o tempo dirá. Qualidade ambos têm de sobra. Resta saber o quanto o imponderável vai agir (positiva ou negativamente) na carreira de cada um no exterior.

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