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Invasão estrangeira

15/05/2024
estrangeira

Quem acompanha futebol, nas últimas quatro décadas, nota um acréscimo gigante no contingente de gringos que atuam no futebol brasileiro.

Se voltarmos aos anos 80, lembraremos até os nomes e as características físicas e técnicas de todos os jogadores de outros países que atuavam por aqui. Isso é possível pois a quantidade era muito pequena.

Agora façamos rápida análise nos esquadrões que disputam das séries A e B do campeonato brasileiro. Todas as equipes têm 3, 4, 5…9 atletas vindos de outros países. Como tornou-se um procedimento comum, nem se dá muita atenção ao fato. Confesso que até já vi jogador atuando e eu nem sequer sabia que era de fora do Brasil.

Mas qual a razão para isso acontecer? Qual o motivo da invasão? A qualidade técnica deles é superior à qualidade dos nossos atletas? O aspecto físico ou mental deles é mais privilegiado? Nada disso!

O fator qualidade é bastante nivelado (eu diria que numa faixa mediana, com jogadores nota 7 no máximo). A capacidade física de nossos atletas não deixa nada por dever aos de outra parte do mundo. O fator psicológico – por questões culturais – por vezes é até melhor em atletas que vêm de outras culturas, mas isso não chega a diferenciá-los estratosfericamente quando comparados aos nossos.

E vamos, novamente, ao tema que tratamos em quase todas as colunas. Futebol e dinheiro se confundem! Tem-se que ter o melhor resultado com o menor orçamento. Chegar mais à frente, em cada torneio que se disputa, gastando o mínimo possível.

A rubrica mais pesada nessa equação diz respeito ao processo de se trazer atletas e mantê-los (salário e direito de imagem). E aí está o motivo. Só temos essa grande quantidade de atletas estrangeiros pois eles têm características muito próximas às dos nossos atletas, contudo, com um diferencial competitivo gigante: são mais baratos!

Mesmo que todos os valores de aquisição de atletas, da intermediação dos empresários, de salários e direitos de imagem dos jogadores sejam precificados em dólar, o montante final das negociações é inferior ao valor praticado no mercado brasileiro.

Não é difícil adquirir um atleta vindo de fora do Brasil, de razoável nível técnico, com custas totais de 500 mil dólares e proventos na casa de 25 mil dólares. Traduzindo em reais, a negociação ficaria em torno de 2,5 milhões e o salário em torno de 125 mil.

O mercado brasileiro é extremamente inflacionado. Os empresários precificam seus produtos (atletas) em patamares absurdos. Pedem salários astronômicos pois, invariavelmente, ficam com percentual dos salários para administrarem a carreira do jogador.

O fator moeda desvalorizada (acreditem, temos moedas que tem poder de compra menor que a nossa) e as condições político-sociais (acreditem de novo, há países em condições piores que as nossas), fazem com que atleta e empresário facilitem a vinda para o Brasil.

Essa é uma tendência que não deve ser breve. Por muito tempo veremos inúmeros jogadores nota 6.5 ou 7 desfilando pelos nossos gramados.

Meu sonho e minha torcida é que o Brasil reúna condições de trazer também os gringos nota 8.5, 9 ou 9.5. Esses são os atletas que desfilam pela Europa. Se as condições que foram citadas fazem o Brasil ser um mercado atrativo, imagina-se o quanto os atletas (principalmente sul-americanos) custam pouco aos clubes europeus. Esses são dotados de orçamentos muito maiores e possuem moeda muito mais forte e valorizada.

Sonhar não custa. Mas ainda demoraremos a ver atletas estrangeiros em auge de carreira (nota 8 ou mais) disputando o Brasileirão. Por enquanto nos acostumemos com a invasão dos que já estamos habituados a ver.

Leia outras colunas do Glenn Stenger aqui.

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