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GLENN-CABECA-COLUNA

O absurdo custo de um técnico de futebol

23/04/2025

Minha experiência no mundo do futebol pode garantir: ninguém contrata um técnico com a intenção de que não dê certo e que tenha que o demitir em curto intervalo de tempo.

Nesse Brasileirão escrevo ainda na quinta rodada. Início de tudo. E 4 técnicos já foram mandados embora!

Mano Menezes no Fluminense, Gustavo Quinteros no Grêmio, Ramón Diaz no Corinthians e Pedro Caixinha no Santos. Mano, inclusive, já está reempregado no Grêmio.

Temos ideia de quanto isso impacta negativamente no caixa dos clubes?? Vou fazer aqui um exercício bem superficial.

A lei determina que os “profissionais da bola” tenham seus contratos quitados na integralidade, mesmo que rescindidos de forma antecipada. Suponhamos então que estes treinadores tivessem contratos curtos. Até o final de 2025 apenas. E que seus contratos ditassem vencimentos na casa de 1 milhão de reais por mês (esse valor não é absurdo, infelizmente, nos parâmetros atuais de mercado). Cada um receberá SEM TRABALHAR algo em torno de 9 milhões (pelo prazo de abril até dezembro).

Posso ter errado acaso os contratos tivessem maior tempo, não acabassem em 2025. Também nada garante que os vencimentos não fossem superiores ao milhão que expressei de forma hipotética. Ou seja, o passivo gerado pode ser bem superior à simulação acima.

Fato é que a conta que fica para o clube é gigante. Um prejuízo fora de propósito!

O imediatismo por resultados, em clubes tradicionais, é o maior fomentador desse ciclo vicioso. A pressão por resultados vinda de torcida, de imprensa, faz com que os dirigentes (na maioria amadores e não preocupados com a perpetuidade da instituição) façam as mudanças. Os empresários, sagazes e ávidos por dinheiro, também sabem “jogar o jogo”. Por vezes, quanto mais o técnico agenciado por ele rodar de clube, mais ele terá comissionamentos e percentuais.

Quem perde? O clube! Seca parte de seus recursos pagando por profissional que nem mais presta serviços ali. Secando os recursos, fica com menos capacidade de investimento e seu polo passivo vai aumentando. Novamente afirmo: nesse caso específico não vejo os dirigentes como culpados. Eles não querem errar. Eles não querem a pressão sobre eles por resultados não atingidos.

O sistema que rege o negócio futebol no Brasil hoje é cruel demais para as instituições. A Lei Pelé foi um marco. Mas hoje distorce a equação. O produto (no caso citado hoje – os técnicos) é trabalhado da melhor maneira possível por quem mais ganha dinheiro com eles. E esse alguém nem sempre preserva os interesses do clube para o qual o profissional está prestando serviço.

Realidade dura. Necessária imediata mudança na Lei. Rever conceitos e quebrar paradigmas. Dar maior valor aos clubes e não ao ecossistema que gira em torno e suga suas receitas.

Claro que técnicos também são trocados, substituídos, na Europa. Mas façamos breve analogia. Lá as Ligas são organizadas, muito mais profissionalizadas, ninguém quer perder dinheiro no Velho Continente. Vemos por lá essa ciranda de treinadores?? Posso afirmar que não. Lá eles respeitam o antigo ditado que diz: “dinheiro não aceita desaforo”!

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