Esse assunto é bem bacana de ser discutido. Principalmente por quem não tem interesse comercial, não recebe seus salários de algum clube que tenha gramado sintético, ou por quem não tenha nenhuma benesse concedida por clubes que mantenham seu “tapete” não natural.
Primeiro vamos citar alguns fatos. Nada de suposições.
– O gramado sintético é muito melhor que o natural sob o aspecto financeiro. Indiscutível.
– O sintético (se de boa qualidade) não tem irregularidades que o natural possui.
– O sintético proporciona a flexibilidade que o estádio ou arena precisam ter para rápidas instalações que permitam shows ou eventos sobre sua superfície.
– O natural tem manutenção mais difícil.
Dito tudo isso, podem pensar que vou dizer que o sintético é a melhor opção. Errado!
Aí vem a maior das discussões: qual dos 2 proporciona maior incidência de lesões em atletas?
Quem tem interesse no aspecto comercial que o sintético viabiliza, defende prontamente que não há estudo científico que demonstre que há mais ou menos lesão por se jogar em campo que não tem gramado natural. Ademais a Fifa permite…
Aqui faço um adendo. A Fifa, a CBF, as federações permitem tantas coisas sem sentido que as suas permissões nem sempre deveriam ser levadas em consideração.
Para não divagar, para não utilizar do “achômetro”, busquei 10 sinopses de artigos científicos publicados e que tratam o tema. Artigos de 2007 até 2023. Divulgados no American Journal of Sports Medicine (USA), British Journal of Sports Medicine, Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, Elite Saudi National Team Footballers. Confesso que não os li na íntegra, mas li e reli a conclusão de todos.
A conclusão é uníssona. O campo de futebol com grama sintética, proporcionalmente, causa maiores acidentes ou problemas com ligamentos no joelho e no tornozelo, bem como nas suas articulações. O campo de futebol com grama natural causa maior incidência de lesões musculares. O número total de lesões se equivale entre ambos. Mas o “x” da questão é que as lesões articulares ou de tendões são exponencialmente mais lentas para se tratar e impactam mais no retorno desportivo do atleta ao mesmo nível que desempenhava em fase anterior à lesão. Lesões musculares tem tratamento mais rápido, dificilmente demandam tratamento cirúrgico e proporcionam ao atleta que volte à sua normalidade em tempo menor.
O número total de lesões se assemelha. E aí os defensores do sintético fazem o maior auê para provar que não se machuca mais na grama de plástico que na grama de verdade. Mas isso é meia verdade. Não se machuca mais na quantidade, mas os problemas que ocorrem no gramado sintético, preponderantemente, são mais difíceis de se tratar e atrapalham muito mais a carreira do atleta.
Sempre nossas conversas buscam mostrar o modo de se tirar mais dinheiro do negócio futebol. Mas hoje vou correr na contramão. Se olharmos só para o dinheiro, para as facilidades que o campo sintético proporciona, logicamente que todos os campos deveriam ser de plástico. Mas o futebol precisa de seus atores principais, os jogadores. E os jogadores não precisam ser expostos à riscos maiores.
Lamento que esteja se fazendo uma corrente negativa por parte dos clubes, fazendo os atletas que jogam por suas cores não expressarem ou até desdizerem o que já disseram acerca da preferência pelo campo natural. Ao invés de buscar calar a opinião dos jogadores, deveriam estar providenciando melhorias e isonomia qualitativa dos campos onde jogam suas partidas.
Finalizo com uma frase divertida, mas que eu gosto bastante, dita pelo nosso capitão do tetra, o Dunga: “se grama sintética fosse boa, a vaca comeria”!