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Por que você deve ir a um empreendimento “deaf-owned”?

02/03/2023
hag

Chegando em Salvador, na Barra, próximo ao circuito de Carnaval, há uma gelateria um tanto diferente. Ao entrar no local, nota-se algo fascinante: aquele é um empreendimento “deaf-owned”, ou seja, é comandado por um proprietário e equipe surdos. Em seu interior, uma televisão apresenta a língua de sinais para aqueles que ainda não a conhecem, revelando uma comunicação gestual agradável e inclusiva. A origem da palavra “surdo” vem do latim “surdus” e do grego “kophós”, ou seja, o homem que não escuta, que não consegue ser entendido. Observando o local citado, é visível que este conceito já pode ser considerado ultrapassado.

 

O Decreto 5.626/05 sobre a Língua Brasileira de Sinais, apresenta em seu ato que “considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso de Libras”. A surdez já foi considerada estritamente como doença, fazendo parte da base da visão clínica. Esta é uma concepção que já não faz mais sentido no contexto em que vivemos. Já a visão sócio antropológica da surdez, diz respeito à diferença na cultura e língua do sujeito, definindo-o como ser social, transmitindo a compreensão de como ele interage com o mundo através de suas experiências. Atualmente, a comunidade surda se enquadra nesta visão, pois, vivemos numa esfera em que há mais respeito às diferenças que antes eram delineadas simplesmente pela visão clínica. Diante da geração de políticas de inclusão, hoje o cidadão surdo se afirma e se valoriza mais. Ações que reconhecem seus direitos e que facilitam a comunicação livre, constroem espaços que agora possibilitam a expressão desse sujeito incorporado na sociedade, para além do seu grupo social próprio. Até então, o contato com a língua de sinais era visto apenas em poucos ambientes familiares, evoluindo agora para escolas, universidades, e espaços deaf-owned, declarando que não é apenas um meio de comunicação, mas um símbolo cultural, de identidade, valores e costumes.

 

Diante do que foi apresentado, ainda há muito o que fazer para que o indivíduo surdo se sinta completamente inserido na sociedade, e é partindo da disseminação do conhecimento acerca dessa comunidade e de sua total capacidade e competência, incluindo a língua de sinais como matéria na grade escolar e disponibilizando intérpretes da língua de sinais em todos os ambientes, que podemos desconstruir a indiferença e edificar o respeito para com o indivíduo surdo, minimizando as distâncias comunicativas para que mais oportunidades possam surgir para esta população, que quer e precisa ser vista.


Referências:

BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, n. 246, p. 28-30, 22 dez. 2005. Disponível aqui. Acesso em 26 fev 2023.

Solé, Maria Cristina. Psicologia da Educação de Surdos. Coleção Letras Libras. Disponível aqui. Acesso em 26 fev 2023.

DEUS, Viviane de Oliveira. Libras: uma língua estrangeira? Revista Arara Azul. Edição nº 22, 2017. Acesso em 26 fev 2023.

Lopes, M. A. de C., & Leite, L. P.. (2011). Concepções de surdez: a visão do surdo que se comunica em língua de sinais. Revista Brasileira De Educação Especial, 17(Rev. bras. educ. espec., 2011 17(2)). Disponível aqui. Acesso em 26 fev 2023.


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