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Roger Waters no Brasil e ‘The Wall’ na tela

10/11/2023

Hey You! Entrando no clima da passagem de Roger Waters pelo Brasil, com sua turnê de despedida “This is Not a Drill”, o filme desta semana não poderia ser outro, senão Pink Floyd: the Wall (1982). E isso não é nenhum problema para a gente, já deu para ver que por aqui gostamos de filmes sobre o universo do rock n’ roll. E The Wall é muito, mas muito rock n’ roll. Tipo um superclipe psicodélico, um terror psicológico de distopia política, uma coisa que envolve música progressiva e consegue não ser chata, o longa é uma dramatização do álbum lendário do Pink Floyd que saiu em 1979, com uma pegada autobiográfica do queridíssimo Mr. Waters.

 

 

Vamos dar um confere na história: Pink (Bob Geldof) é um rockstar deprimido que se tranca em um quarto de hotel em Los Angeles, onde alimenta seu vício em drogas enquanto se isola do mundo. O músico se lembra de sua infância, traumatizado pela morte de seu pai na Segunda Guerra, sua mãe superprotetora e pelo sistema opressivo do colégio; e de sua juventude, com relacionamentos conturbados com as mulheres e a solidão e vazio que vieram com a fama. Cada capítulo é um tijolo que constrói o Muro à sua volta. Se quiser saber mais, é só ouvir o disco.

 

Homens perturbados pela sombra do passado é o que não falta no cinema, aliás, até sobra. O amigo com quem eu vi o filme, inclusive, fez um comentário certeiro que eu vou roubar aqui: o Pink é tipo um Travis Bickle (o maluco do moicano de Taxi Driver) do bem. Mas The Wall é diferente de tudo o que você já viu – eu sei que quando dizem isso geralmente a coisa é exatamente igual a tudo o que você já viu, mas vai por mim, o filme é tudo isso mesmo. Dirigido por Alan Parker, o longa mistura live-action e animação 2D assinada pelo cartunista Gerald Scarfe, em um estilo meio A Caverna do Dragão surrealista (recomendo dar uma olhada no videoclipe de Shine On You Crazy Diamond). A trilha sonora é uma versão adaptada do álbum, com algumas faixas editadas e remixadas. E não vou nem começar a falar das músicas em si, isso rende outro papo.

 

 

Mas só para você saber, o Pink Floyd estava em uma onda bem baixo astral depois do sucesso absoluto de The Dark Side of The Moon (1973) e Wish You Were Here (1975). Roger Waters, maior compositor da banda, relatou diversas vezes que se sentia cada vez mais alienado do público nos shows – e que shows apoteóticos, diga-se de passagem – e engolido pela nova vida de astro do rock. Era hora de olhar para dentro e compor uma parada mais introspectiva, e aí saiu o The Wall. Claro que se tratando do baixista a política não poderia sair de cena – e nem as claras referências ao “Old Pink” Syd Barrett, que saiu do grupo em 1968 e foi substituído por David Gilmour.

 

Com sacadas muito inteligentes, a trama vai tirando o contexto político do segundo plano e trazendo para a superfície da tela – na ressaca do pós-guerra e seus regimes autoritários, bebendo na fonte de George Orwell e Aldous Huxley. O filme denuncia como o sistema reprime os indivíduos e seus sentimentos, alimenta o ódio por minorias, usa seus jovens como buchas de canhão em guerras sem sentido, e por aí vai. É a clássica cena de Another Brick In The Wall (que, ironicamente, todo mundo viu na escola). Uma das sequências finais, com as músicas Waiting For The Worms, Stop e The Trial, é mais que perfeita.

 

 

Enquanto assistia o filme, só conseguia pensar no quanto ia demorar para digerir tudo depois (e quantas vezes ia ouvir The Wall até cansar). Apesar da mistura doida de um monte de recursos e mensagens, o que deixou até mesmo a banda e o diretor confusos quando olharam para a sua criação pronta, o filme cria seu próprio gênero – se tornou um clássico instantâneo e envelheceu super bem. Além disso, é uma produção de médio orçamento, feita com U$12 milhões e atores desconhecidos, o que dá todo um charme diferente a esse projeto multimídia que não poderia ter saído de outra cabeça, se não a de Roger Waters.

 

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