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Novo Ensino Médio: aprimorar sim, revogar não 

27/05/2023
ensino

Por mais de três décadas fui um crítico contundente do modelo de Ensino Médio vigente até 2021. Hermeticamente dividido em 13 componentes curriculares (as conhecidas disciplinas) desconectados entre si e do interesse da maioria dos alunos, era um modelo único no mundo, uma jabuticaba vencida, responsável pela maior mazela da já combalida educação brasileira. Caso o antigo Ensino Médio fosse um aluno em uma escola, não teria passado de ano – e não apenas uma vez, mas continuamente ao longo das décadas pelas quais perdurou, pois o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) sempre ficou abaixo de 5,0 (numa escala até 10). No último IDEB (2021), o Estado com melhor resultado (Paraná) não passou dos 4,6 pontos.

 

Esse modelo anterior, além de ampliar desigualdades em relação à parcela mais vulnerável socialmente da população, gerou gigantescos índices de abandono escolar. Estudos recentes patrocinados pela Federação das Indústrias do RJ (Firjan) demonstram que, anualmente, meio milhão de adolescentes brasileiros abandonavam a escola, a um custo de 135 bilhões de reais por ano. Convivemos com uma das maiores tragédias sociais, uma vez que há cerca de 7 milhões de jovens brasileiros de 15 a 29 anos que não frequentam a escola e não trabalham, conforme o Dieese, com base em dados do ano de 2021, com o agravante de que “a proporção feminina desses jovens é de 27,7%, quase duas vezes mais que a taxa registrada entre os homens jovens”.

 

Ademais, dada a oferta limitada e grade curricular que priorizava o preparo para o vestibular, não mais que 10% dos nossos estudantes estavam matriculados em cursos técnicos profissionalizantes,  conquanto o índice médio da maioria dos países é de 40%.  A Formação  Profissional tem a sedução do ingresso mais rápido no mercado de trabalho ou mesmo de melhorar a capacitação para uma função laboral já exercida. Por essas razões, em 2017, durante o governo Temer, a lei nº 13.415 alterou a LDB e deu legitimidade a uma nova organização curricular, denominada Novo Ensino Médio, aprovada pelo Congresso Nacional.

 

Finalmente, o Brasil passou a contar com um modelo de Ensino Médio bem mais flexível, que permite à escola equilibrar competências e habilidades cognitivas com as socioemocionais. Temos  ainda uma BNCC (Base Nacional Comum Curricular) aprovada após cerca de 7 anos de consultas públicas e muitos debates entre educadores e estudiosos do tema. Uma BNCC democrática, com diligente elaboração dos Conselhos Estaduais de Educação das 27 unidades federativas do Brasil e implementação pelas suas Secretarias de Educação, com ampla reorganização curricular, em geral onerosa e que exigiu capacitação de docentes e gestores.

 

Evidentemente, o atual governo sabe disso tudo, porém pressionado especialmente por alguns sindicatos de trabalhadores da educação,  por parte dos estudantes e por alguns partidos, deu azo e ressonância às manifestações políticas pela revogação do Ensino Médio em vigor. Em decorrência, teve de suportar manifestações contundentes de repúdio dos secretários estaduais de educação, dos Conselhos Estaduais de Educação, da Federação e da Confederação das Escolas Privadas do Brasil, bem como de outras entidades da sociedade civil. Foram semanas de algaravia e todo esse frisson gerou incertezas e angústias para 7,9 milhões de adolescentes do Ensino Médio, além de professores,  pais, gestores escolares e secretários de educação.

 

Atitudes como essa, que sobejam no Brasil, são ervas daninhas de difícil erradicação: a prevalência de ideologias e de polarizações, independentemente do direcionamento político, que campeiam no meio educacional. Nesse cenário, me utilizo da analogia de uma locomotiva a percorrer os trilhos com direção e propósitos, embora contivesse avarias que durante o percurso podem e devem ser ajustadas, mas eis que uma tormenta a desgoverna promovendo paralizações e insegurança. Técnicos e bombeiros do MEC entraram em ação e, finalmente, foram explícitos: ”revogação do Ensino Médio não está mais em discussão”.

 

Evidentemente, nem tudo são flores na nova arquitetura curricular. Além de termos passado por uma pandemia e o Brasil ter sido um dos países que mais mantiveram os prédios escolares fechados, uma reformulação do Ensino Médio representa um desafio complexo, quer pela faixa etária que atende, quer pelas aspirações, desejos e sonhos desses adolescentes. Afinal, parte deles almeja o ingresso em faculdades concorridas e outra parte está sob o fetiche de um certificado profissional e da sua autonomia financeira, sem falar daqueles sequer afeitos aos estudos. Não há bala de prata! O arcabouço teórico do Novo Ensino Médio aponta para um direcionamento mais universal e contemporâneo, pois prima por uma organização curricular por áreas de conhecimento, ampliação de carga horária de 2.400h para 3.000h, estimula a interdisciplinaridade e uma variada oferta de escolha profissional.

 

Ajustes, melhorias, adequações são imprescindíveis, tanto sob o prisma pedagógico quanto social e econômico. Mas sem vieses ideológicos, sem voltarmos ao deletério modelo anterior e sem polarizações que tanto comprometem o futuro do nosso Brasil, que da educação de qualidade depende para progredir, formar capital humano e promover inclusão social.

Leia outras colunas do Jacir Venturi aqui.

26 Comentários

  • Eu sou professora do novo Ensino Médio e te digo: é uma porcaria essa reforma, ela foi feita por pessoas assim como esse senhor do artigo que não sabe o que e sala de aula , bom vou encurtar o meu depoimento , os alunos no terceiro ano têm duas aulas de língua portuguesa e duas de matemática (pensa) às outras disciplinas foram trocadas por itinerários ( é o maior projeto de exclusão com aval que nós vivenciamos) pergunta para algum aluno o que ele aprende no itinerário, e aí o senhor pode enaltecer essa exclusão o quanto quiser . Exclusão mesmo.

  • O Novo Ensino Médio é uma fábrica de semianalfabetos. Não tem o que aprimorar, só se for pra decorar merd*.
    Foi construído de forma autoritária, sem participação dos estudantes e dos professores e sem dialogar com os órgãos de controle social.
    É UM PROJETO DE EMBURRECIMENTO ALTAMENTE LUCRATIVO PARA ESCOLAS PARTICULARES.

  • Então coloca seu filho pra estudar em escola pública, já acha essa merda de Ensino Médio bom.
    Meu filho ficou 6 APRENDENDO FAZER RECEITA DE SABÃO NA ESCOLA ESTADUAL por causa de porcaria de reforma no ensino. E ISSO QUE VC CHAMA DE UMA VASTA OPORTUNIDADE PROFISSIONAL QUE ESSE ENSINO TROUXE?? IDIOTA!!

  • Revoga já !
    Queria saber quem é Jacir Venturi e qual é o contato dele com a educação para dar uma de especialista e vir disseminar esse programa nefasto de ensino médio que foi plantado como uma “granada no bolso” do povo brasileiro (alusão a conversa uma conversa vil do Guedes com os membros do governo anterior).
    Esse programa só aprofundou ainda mais as desigualdades educacionais e escancarou a ferida da educação básica pós políticas de exclusão de Temer e Bolsonaro.
    Gente seria de verdade desaprova totalmente esse modelo; posso citar conselhos de especialistas de verdade como membros da Anped, Anfope entre outras renomadas instituições defensoras da ciência e da pesquisa na educação brasileira.

  • O nem só é defendido por uns poucos, cujo o interesse está distante do processo de ensino aprendizagem.

  • O VELHO novo Ensino Médio só não exclui o rico que tem a opção de escolher esse leque de disciplinas em escolas adequadas a esse fim….

  • Revogar sim

  • O ensino médio é feito para os alunos terem contatos com todas as disciplinas para depois escolher um caminho para aprofundamento na universidade.Se quiser ter ensino profissionalizante basta apenas colocar como optativa no turno da tarde.O currículo com todas as disciplinas tradicionais+ computacao e robótica com optativa de disciplinas profissionalizante é o melhor caminho.
    O novo ensino médio apenas retira a oportunidade dos alunos estudarem todas as disciplinas (formando mão de obra barata e alienada).
    O que tem que mudar é a qualidade do ensino médio com mais infra estrutura e valorização do professor.

  • Estou cansado de ouvir opiniões de pessoas que não pisam no chão da sala de aula. Só para exemplificar as desgraças do Novo Ensino Médio vou citar algumas das minhas experiências com ele. Em primeiro lugar, sou professor de Sociologia, com licenciatura, bacharelado e especialização. Depois do NEM dou aulas de mais 7 disciplinas, além de Sociologia. Claro que tenho de preparar aulas (“a voz do anjo…” nao sussurra ao meu ouvido o que vou dizer nas aulas. Isto significa muito mais trabalho em casa. Além disso, nossos alunos, de treze disciplinas, agora têm trinta e oito. E uma das consequências é vermos alunos responsáveis e estudiosos que não dão conta e começaram a atrasar a entrega de atividades, outrora pontuais. A superficialidade de nossas aulas é óbvio demais: como professores de Sociologia poderiam ensinar Robótica e/ou Empreendedorismo com a mesma desenvoltura com a qual ensina aquilo que é sua formação? E o estresse causado pela sobrecarga de trabalho? Nossos colegas já começaram a adoecer eo caos não vai demorar a se instalar por conta da grande quantidade de atestados médicos, associado à falta de professores gerada pelo novo currículo que multiplica por três a quantidade de disciplinas e não contratou um professor sequer. Aliado a isto some os cortes de 56% feitos no governo Bolsonaro. Mesmo sem as mudanças introduzidas pelo NEM, já seria necessário um acréscimo de cerca de 50 bilhões de reais para melhorar minimamente a educação brasileira. Temos o País escolas sem banheiro, sem água potável, sem merenda e até sem teto. É muito fácil falar sem conhecer a realidade, apenas defender o interesse de empresas como o Ifood que quer formar mão de obra barata para continuar escravizando os brasileiros.

  • Uma diversidade de nada. O novo Ensino Médio só é defendido por quem nunca entrou em uma sala de aula! Não conheço um professor ou um aluno que defenda essa atrocidade.

  • Revogação já, o novo ensino médio é horrível, o modelo antigo atendia sim e muito bem , e está sobrecarregando muito os professores e alunos com essa carga horária exagerada e fora também que as escolas não tem estrutura e muito menos alimentação adequada pra oferecer aos alunos que passam horas lá dentro, sou mãe de aluna de ensino médio e estou insatisfeita com esse tipo de ensino que não está atendendo em nada aos alunos, na Vet só está piorando.

  • Concordo plenamente! Muitíssimo jovens hoje em dia termina o ensino médio e não consegue nem entrar na faculdade e nem ter um trabalho. O novo ensino médio vai proporcionar isso à eles.

  • Dizer que o Novo Ensino Médio é Panaceia e que todos os antigos males desta fase de ensino se foram para sempre é no mínimo ingenuidade ou pior, má intenção. Considerando o fato de os conselhos de educação estarem hoje compostos em sua maioria por membros representantes de entidades privadas de educação, não causa estranheza as propostas para a educação girarem em torno de se formar mão de obra barata para o mercado. A grande maioria das escolas hoje no Brasil ainda carece de recursos básicos como água ou instalações sanitárias adequadas, por exemplo. Mas essa é outra história não é mesmo?

  • O Novo Ensino Médio não funciona, não tem como melhorar algo que já nasceu podre, revoga já. Excludente é o NEM, discordo do colocado.

  • O Novo Ensino Médio não funciona, não tem como melhorar altos que já nasceu podre, revoga já.

  • O mano falou falou e nada disse. Não propôs nada que vá que contra a revogação, apenas colocou dados soltos, sem uma contextualização adequada e sem um argumento de fato sólido. O novo ensino médio é uma porcaria, especialmente para estudantes de escola pública. Estudo em escola privada e mesmo assim sofro horrores com esse novo ensino médio, do qual foi implantado de maneira desordenada, matérias sem sentido, pontuações mal colocadas, fora o fato de que atrapalhou a vida de muitos alunos que trabalhavam em turno oposto. No Brasil, a educação de base há de ser revista sim, mas de maneira correta e com a participação de quem de fato vai sofrer com isso.

  • Revogação TOTAL já!!!! UM GRANDE ATRASO PARA A COMUNIDADE ESCOLAR E PARA AQUELES QUE REALMENTE ESTÃO NA EDUCAÇÃO

    • Não tenho palavras para expressar o que vejo na prática. Se com a grade curricular do antigo os estudantes tinhas dificuldades, agora são bombardeados por infinitas inventivas de quem não experimentou o que recomenda. É impossível fazer dar certo. Novo ensino médio não é realidade brasileira. Aqui está longe de educação ser prioridade. Com a busca ativa imposta no Mato Grosso os jovens voltam pra escola como prisioneiros de sistema opressor, não por desejo. Aliás … Fora Novo Ensino Médio.

  • Boa tarde
    Podemos ter o novo ensino médio, mas só se for em turno oposto. No formato em que está aumenta em muito a desigualdade entre particulares e públicas e só cria mão de obra e não pensadores. Jamais deveria ter mexido na carga horária do ensino básico.
    Acredito que precisa de um currículo melhor para ser implantado neste formato é um retrocesso e a falência da educação.

  • Horrível o novo ensino médio. Sobrecarregada mais o processor. Imagina o professor de geografia, por exemplo, tinha 2 aulas semanais para cada turma, e tem de cumprir 16 aulas semanais, ou seja tinha oito turmas. Com oito turmas qual o envolvimento que consegue ter como o aluno, tem em torno 320 alunos, considerando um cargo. Com novo ensino médio esse professor terá uma aula por semana para cada turma e terá que ter 16 aulas, ou seja terá 16 turmas, dobrando o número de alunos, tem agora então em torno 640 alunos (para um cargo). Ou seja o que era ruim, ficou dobro de pior.

  • Sou Professor há mais de 25anos. Passei por escolas particulares e agora estou no município, concursado e Estado, concursado. Prefeitura há mais de 20 anos, em fortaleza,e estado há mais de 15anos, também em Fortaleza. O antigo ensino médio era muito melhor do que esse novo ensino médio (NEM). Todos os alunos receberam os livros de todas as matérias. Os livros do NEM não São livros, são revistas. Os itinerários formativos não formam ninguém, falta tinta para tirar xerox do material que as secretárias mandam para as escolas. E as secretárias sabem disso. Só tem Xerox para as avaliações bimestrais. Além disso, a merenda escolar é uma miséria. Na quinta aula os alunos já estão morrendo de fome a espera do sexta aula que vai até às 18:30. Aulas de matemática que eram 5(cinco) agora são 3(três). As de português são duas, eram quatro. A de física, biologia, química, geografia, História são uma aula. Como o aluno da escola pública pode ter conhecimento, sem aulas normais. Só quem não conhece a escola pública concorda em não revogar o NEM. Mas as escolas particulares continuam com cinco aulas de matemática, quatro de português e quatro de História. Então, é essa educação do NEM para os alunos da escola pública? Deixe de piada. Consultem os professores da escola pública e teremos a verdade.

  • Quem não conhece a realidade do cotidiano de uma escola pública localizada no interior do Maranhão pode até defender com afinco o Novo Ensino Médio. Entrementes, quem precisou triplicar a sua carga horária de trabalho além de lecionar componentes com qual não tem afinidade, com certeza não compartilha com o mesmo otimismo as ideias do autor do artigo supra. Na real, o Novo Ensino Médio sobrecarregou professores e alunos aumentando ainda mais o nível de estresse e o desinteresse de ambos. Em um curto espaço de tempo a sociedade brasileira irá perceber que essa nova proposta vai ser a maior tragédia para os alunos de escola pública.

  • O NEM nos faz pensar em nossa educação da década de 1970: preparar mão de obra barata para as diversas atribuições da Indústria, agronegócio e do comércio; ainda assim, poucas instituições contemplavam o Ensino Científico que estimulavam o alunado a prestar o Vestibular para ter acesso a uma Universidade, e apartir daí, buscar não só uma outra formação, mas também a “produção científica” o que, a princípio não só proporciona uma melhoria na qualidade de vida das pessoas, como também, coloca nosso país em outra situação econômica diferentemente da proposta inicialmente. O que estamos a assistir com o NEM, é o que comentamos inicialmente, além do completo sucateamento das instituições escolares públicas em favor das instituições privadas. Sem nenhum cunho ideológico, acredito estarmos a assistir um verdadeiro massacre nos sonhos da população menos assistida. O acesso ás Universidades se tornará impossível, vez que os conteúdos da formação básica foram reduzidos drasticamente, contemplando se com conteúdos sem nenhum sentido e que facilmente são encontrados na Internet. Pura maldade!

  • O modelo antigo não tem nada de ultrapassado e desconectado. O que faltaria seriam melhorias na infraestrutura de todas as escolas, melhorar e desburocratizar os planos de carreiras (isso para os lugares que têm) dos professores efetivos, melhorar (e muito!) o salário base de um professor somente com graduação em licenciatura plena e em início de carreira, reduzir (e muito!) o número de alunos em sala de aula, equipar as escolas com instrumentais de qualidade, como laboratórios etc, e por aí vai. Mudar o ensino médio não vai adiantar nada. Você não sabe de nada! Acha que mudar o ensino médio vai melhorar alguma coisa. Você é um tolo se pensa isso. Pode mudar do jeito que for o ensino médio, mas se não fizer nada disso que falei, de nada adianta.

    • O novo ensino médio é igual a escola padrão do século passado já nasceu morto, nenhum político quer ver um cidadão bem sucedido, por isso nunca aprovam um ensino de boa qualidade, só querem que aprendem ler e escrever para votar e eleger esses políticos que só pensam nos seus interesses próprios.

  • Bom dia

    Gostaria de saber se o Sr. Jaci Venturi já entrou numa sala de escola pública, das dificuldades que os professores enfrentam, das desigualdades sociais e da falta de material em quase todas as escolas, do problema de acesso a internet e de como todo o governo acredita que toda a população tem acesso irrestrito a internet. O Novo Ensino não contempla todos os alunos, para isso as escolas teriam que oferecer todos os cursos, o que não acontece. Os alunos, para não mudar de escola, permanecem na mesma e participam do que é oferecido. Ainda não consegui ver luz!!!!

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