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JACIR-CABECA-COLUNA

Perrengues de um professor de Matemática (2)

05/03/2025

Dizíamos em nossa crônica anterior, que ao encontrar muitos ex-alunos, somos em boa parte das vezes relembrados especialmente pelos causos cômicos, pelos perrengues, pelos motejos, sem desmerecer as menções às exigências das provas ou à profundidade dos conteúdos, bem como aos ensinamentos de vida (o artigo anterior você encontra ao final deste artigo, clicando em “aqui”). Sempre a graça maior é quando o professor não se sai bem e essas invertidas, pilhérias, ditos jocosos enlevam de alegria a mente e o espírito, pois, nas oportunas palavras de Umberto Eco, “o riso aproxima o homem de Deus”.

E a glória maior é a vingança sobre o professor de Matemática, pois a Matemática é tida como uma ciência sisuda, sinistra, lúgubre, abstrata e tem cara de poucos amigos ― pensam muitos que por ela foram humilhados. No entanto, sendo a Matemática a rainha e serva de todas as ciências, uma das joias da coroa de Sua Majestade é lúdica, bem-humorada, divertida, e o mais importante: desenvolve a o raciocínio lógico.

Dando continuidade, presenteio o amigo leitor com mais três causos hilários:

Sono perdido, hoje me divirto

Nas décadas de 1970 e 1980, as provas de Geometria Analítica e Álgebra Linear dos cursos da Área de Exatas eram aplicadas aos sábados, às 7 h da manhã, na chamada “câmara de gás” do Centro Politécnico. Como eram muitos, de 500 a 700 alunos, incluindo todas as engenharias e licenciaturas, a prova era comum a todos os cursos.

Sob o comando do temível Leo Barsotti, éramos em cinco professores, que mais parecia um pelotão da polícia, olhos de lince, pois “quem não cola não sai da escola” era o mote, mas a bem da verdade boa parte deles passava a noite em claro, preparando-se para aquela prova dantesca.

Às 4 h da manhã do dia da prova, tocou o telefone (fixo) na minha residência. Acordei assustado, atendi e do outro lado escutei:

– Alô… O Napoleão está?

– Aqui não tem nenhum Napoleão! – respondi, sonolento e irado.

– Mas então por que o cavalo dele está dormindo aí?

 

O urologista vingador e zombeteiro

Em meados da década de 1970, fui professor de Matemática do então denominado 2º grau (atual Ensino Médio) do Colégio Estadual do Paraná. Exigente e com fama de “ferrador”, tinha ciência de que, quando pudessem, os alunos dariam o (talvez merecido) troco. Um dia da caça, outro do caçador.

O tempo passa, o tempo voa e, ao se avizinhar os meus 50 anos, fui indicado a um urologista bastante conceituado, para o primeiro e inesquecível “toque”. A consulta rolava amena e agradável e ele me olhava de esguelho, com um sorriso maroto, e até então eu não lembrava que ele tinha sido meu aluno. Mas, chegado o momento apoteótico, segui as orientações do ritual: deitei-me na maca, encolhi as pernas, enquanto o médico empunhava caprichosamente a luva no dedo indicador. Foi quando o urologista quebrou o silêncio com uma tirada magistral:

– É, professor, eu vou fazer com você o que muitos alunos gostariam de ter feito!

 

O homem que calculava

Certa feita, fui comprar bezerros, duas cargas de caminhões, sendo de costume separar os melhores, desde que a gente se propusesse a pagar mais. O fazendeiro vizinho era um tremendo gozador, zoava de tudo e de todos, sem falar de suas divertidas gabolices – em tom de chacota dizia-me que preferia vender os animais por hora e não ficar perdendo tempo contando um a um.

Mas, enfim, o gerente dele e eu nos posicionamos sobre as tábuas do curral para a contagem do lote, e a manada (tocada por peões a cavalo) passava acelerada por uma porteira, o que dificultava a contagem.

Então, veio a hora do veredito, e eu já imaginava o pior:

– Jacir, contou quantos? – perguntou o fazendeiro.

– Contei 146. – respondi.

O fazendeiro perguntou ao gerentão, que tinha estudado até a 4ª série. Ele respondeu 147 bezerros. O fazendeiro, que também havia contado 147 (ou fingiu que contou), foi espirituoso:

– Jacir, é muito fácil saber quantos bezerros: basta contar o número de patas e depois dividir por 4! Você não é professor de Matemática?

Leia outras colunas do Jacir Venturi aqui.

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