Em um mundo dominado pela instantaneidade digital, onde fotos são capturadas e descartadas em questão de segundos, a fotografia analógica ressurge como um refúgio para os que buscam um olhar mais atento e contemplativo. O filme, com sua granulação característica e cores singulares, traz uma estética inconfundível que conquistou uma nova geração de fotógrafos e entusiastas da imagem.
O charme da fotografia analógica vai além da aparência. Fotografar com filme exige paciência e planejamento. Cada clique é pensado, pois o número de exposições é limitado. Essa limitação, longe de ser um obstáculo, transforma-se em um exercício de percepção e cuidado. Há uma expectativa quase mágica no processo: após capturar a cena, é necessário aguardar a revelação para ver o resultado. Diferente da fotografia digital, onde a imagem pode ser visualizada instantaneamente, a fotografia analógica ensina a arte da espera, um valor raro na contemporaneidade.
O fotógrafo e escritor Ansel Adams já destacava que “você não tira uma fotografia, você a faz”. Essa citação reforça a ideia de que a fotografia analógica exige um processo artesanal e deliberado. O professor de fotografia e pesquisador Robert Hirsch, em seu livro Seizing the Light: A History of Photography, ressalta que “a experiência tátil do manuseio do filme e a necessidade de compreender a luz e a química tornam a fotografia analógica uma prática sensorial e intelectualmente rica”.
A estética do filme também carrega uma assinatura única. As imperfeições, o grão, os tons suaves ou saturados variam conforme a escolha da película e do processo de revelação. Em tempos de filtros digitais que tentam simular esse efeito, a experiência de trabalhar com filme traz autenticidade e textura que os algoritmos ainda não conseguem replicar com total fidelidade. O fotógrafo e cineasta Wim Wenders observa que “o digital matou a surpresa da fotografia”, destacando como a previsibilidade das imagens digitais pode enfraquecer a espontaneidade e a profundidade emocional capturadas no filme.
Além disso, o retorno da fotografia analógica reflete um desejo crescente por experiências mais táteis e significativas. O ato de carregar um rolo de filme, ajustar manualmente a câmera e revelar as imagens em um laboratório resgata uma conexão física com o processo fotográfico, algo cada vez mais raro na era digital. Segundo a pesquisadora e curadora Charlotte Cotton, autora de The Photograph as Contemporary Art, “a fotografia analógica se tornou um ato de resistência ao consumo rápido de imagens, um convite a um engajamento mais profundo com o mundo visual”.
Seja pela nostalgia ou pelo desejo de desacelerar, o renascimento da fotografia analógica nos lembra que a beleza da imagem não está apenas no resultado final, mas também na jornada de criação. Em tempos de pressa e excesso de informações, resgatar essa prática pode ser uma forma de reencontrar o encanto do olhar e a magia da fotografia.
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