Na fotografia não existem sombras que não possam ser iluminadas.
(August Sander)
Na intersecção da luz e das sombras, a fotografia emergiu e capturou não só momentos, mas também conquistou o coração de incontáveis indivíduos – incluindo o meu! – ao redor do mundo. Mas a arte também enfrenta transtornos, e a fotografia tradicional passa de uma forma ansiosa por um momento de grande depressão.
Na era da instantaneidade digital, onde cada momento é capturado e compartilhado em questão de segundos, a fotografia como conhecíamos está passando por uma metamorfose radical. Com a democratização da fotografia, qualquer pessoa com um smartphone se tornou um potencial fotógrafo, contribuindo para uma inflação de imagens que inunda as redes sociais diariamente.
No entanto, enquanto a produção de imagens floresce, a indústria fotográfica tradicional enfrenta desafios. O declínio acentuado na venda de câmeras fotográficas é um sintoma visível dessa mudança de paradigma. A CIPA, Camera & Imaging Products Association, publicou um novo relatório que indica uma queda de 24% nas vendas em 2018, e uma impressionante diminuição de 85% nos últimos dez anos.
Mesmo em meio a essa mudança de paradigma, algo ainda é fato, a fotografia continua a ser uma forma de arte poderosa e influente. Desde a sua invenção, há quase dois séculos, ela tem desafiado conceitos de autoria, reprodução e representação. Afinal, o olhar por trás das lentes – e as memórias em frente a elas, não podemos esquecer delas, não é mesmo? – é o que carrega o real valor de cada imagem capturada.
Mas afinal, o que eu quis dizer com esse título “A depressão fotográfica”? Conforme reflete Joan Fontcuberta, a fotografia é um agente que mata “a vida das coisas”. Segundo ele, “através do visor, qualquer parte do mundo se transfigura necessariamente em uma natureza-morta, um retalho de natureza inquietantemente parada, inerte” (2010, p. 48). Desta vez, o medo que parte é dos próprios profissionais da área. Pairando no ar está o anseio de sua arte fotográfica – mas ela na forma mais tradicional e não atrelada a um aparelho portátil –, acabe por ser apenas esse retrato parado, eternizado apenas pelo tempo em que a sua materialidade durar. No final, a tarefa aqui é simples, não esqueçam onde tudo começou!
Gostei muito do texto, em pensar que agora com a facilidade de tirar fotos com os celulares que possuem uma qualidade muito boa por sinal, também auxilia nesse paradigma das vendas. Eu sou da época que comprava bastante maquinas descartáveis para as fotos, hoje em dia a camera está ao alcance das mãos … Isso realmente impacta todo um circuito de trabalho que envolve a foto. Mas acredito que seja a evolução das coisas e teremos que nos adaptar a essa mudança.
Parabéns Jaine. Voe e você alto. Você é inspiradora.