A vida acontece em instantes fugazes, e a fotografia é nossa tentativa de segurá-los antes que escapem. Na era digital, onde um clique resulta em infinitas repetições, há algo de mágico na Polaroid: a fotografia única, irrepetível, marcada pelo tempo e pela química.
Andy Warhol, ícone da pop art, eternizou sua fascinação pelas Polaroids ao capturar personalidades e autorretratos com a mesma espontaneidade com que um artista espalha tinta na tela. “Uma foto significa que eu sei onde estava cada minuto. Por isso tiro tantas”, dizia ele. Para Warhol, a fotografia instantânea não era apenas um registro, mas uma afirmação de presença.
A estética da Polaroid tem um quê de sonho, um desfoque suave, cores saturadas e aquela borda branca que emoldura um momento. Roland Barthes, no clássico A Câmara Clara, escreveu sobre a fotografia como um fragmento de tempo capturado, um vestígio daquilo que foi. Na Polaroid, esse vestígio se revela aos poucos, em um jogo de espera que contrasta com a urgência do mundo moderno. “Fotografar é apropriar-se da coisa fotografada”, afirmou Susan Sontag, e talvez seja por isso que a Polaroid nos parece tão íntima — ela nos dá a posse imediata do instante.
A fotografia instantânea também tem seus alquimistas contemporâneos. Nobuyoshi Araki usa a Polaroid para capturar a intensidade do desejo e da efemeridade, enquanto David Hockney explorou a técnica para criar colagens que desconstroem a linearidade do tempo. Mais do que um simples clique, a Polaroid se transforma em um objeto de arte, um vestígio tátil da memória.
Há um ritual envolvido na Polaroid: a escolha do momento, o som do obturador, o tempo de revelação em que a imagem surge como um espectro se tornando realidade. Diferente da fotografia digital, onde o apagar e refazer são constantes, a Polaroid ensina a aceitar a imperfeição, a celebrar o acaso. “A beleza está na imperfeição”, diria Daido Moriyama, fotógrafo que viu no borrado e no inesperado uma nova forma de expressão.
Na velocidade das telas, a Polaroid nos convida a desacelerar, a contemplar a textura da imagem, a tangibilidade da lembrança. Cada foto é única, insubstituível, como a própria vida. E talvez, no fim das contas, seja esse o seu verdadeiro encanto: lembrar-nos de que o instante, uma vez capturado, já se tornou memória.
(Imagem: Andy Warhol – Polaroids 1971-1986 – Mary MacGill)
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