“Woke” é um termo usado nos Estados Unidos para classificar pessoas que acreditam que são moralmente superiores e querem impor suas ideias progressistas sobre os demais. A palavra caiu nas graças do governador da Flórida, Ron DeSantis, um líder conservador que trava uma batalha contra o movimento ESG, e transformou esta pauta em bandeira política. Para ele, quem está engajado ao ESG são aproveitadores e ambientalistas “woke”.
DeSantis anunciou um pacote de leis anti-ESG. Assim, a máquina pública está impedida de contratar empresas que operam em linha com as práticas ESG e o Estado está proibido de fazer investimentos em ativos atrelados à sigla. Outra das decisões foi retirar US$ 2 bilhões que estavam em fundos da BlackRock, gigante dos investimentos que fomenta aplicações em negócios que têm compromissos com as questões ambientais, sociais e de governança.
Para DeSantis, a onda ESG prejudica os americanos. “Aplicar métricas financeiras ESG arbitrárias não serve a ninguém, exceto às empresas que as criaram. As elites estão contornando as urnas para implementar uma agenda ideológica radical. Por meio dessa legislação, protegemos os investimentos de quem vive na Flórida e a capacidade dos nossos habitantes de participar da economia”, afirmou.
DeSantis tem como principal ambição política disputar a presidência dos Estados Unidos pelo partido Republicano, uma vez que a candidatura de Donald Trump não deverá prosperar. Suas atitudes, portanto, se contrapõem às medidas adotadas por Joe Biden, democrata que pretende transformar o País em uma economia mais “verde”.
Agenda anti-ESG
O governador da Flórida não está sozinho na empreitada anti-ESG. Há dezenas de projetos legislativos patrocinados por republicanos tentando restringir ou regular o que é identificado como ESG. Historicamente, o partido se posiciona contra a regulação ambiental e seus reflexos sobre o mercado de capitais. Estados como Texas, Missouri e West Virgínia também promovem o que se pode chamar de “caça às bruxas”, boicotando bancos e financeiras que promovem ativos ESG.
De novo, as métricas (I)
O governador Flórida e seus colegas de partido parecem estar remando contra a maré. O fato é que a agenda ESG está disseminada e internalizada nas grandes corporações, além de ser uma exigência de boa parte dos consumidores pelo mundo afora. Contudo, é difícil discordar do questionamento feito por DeSantis sobre as formas de medir os impactos da agenda ESG e como estabelecer valor a isso.
De novo, as métricas (II)
A verdade é que ainda faltam métricas e metodologistas mais robustas para dimensionar os ganhos financeiros com a adoção das três letrinhas. Mesmo nos principais centros financeiros do planeta os parâmetros utilizados ainda são confusos, e muitas vezes servem mais como instrumento de propaganda do que ao interesse do investidor que quer auferir algum lucro com o dinheiro aplicado.
Estica e puxa
As ações do partido Republicanos já tiveram pelo menos um efeito. A Vanguard, a maior administradora de fundos mútuos do mundo, deixou de participar da Net Zero Asset Managers (NZAM), um fórum de investidores que atua para estimular a redução das emissões líquidas de CO2 por corporações americanas. Mesmo com este movimento, e com os cortes de postos de trabalho pelos grandes bancos, as posições que lidam com ESG no mercado financeiro dos EUA estão preservadas. Aliás, a procura por especialistas na área segue bastante alta.
Tamanho do ESG
Apesar da queda de braço político-ideológica americana, uma pesquisa da Bloomberg estima que ativos que levam o carimbo ESG vão movimentar US$ 53 trilhões em investimentos até 2025. O número indica uma tendência global, na qual muita gente está decidindo colocar dinheiro em negócios com retorno de mais longo prazo, que contribuam com a sustentabilidade, sem ficar concentrado somente nos gráficos de desempenho financeiro das companhias.
ESG no Brasil
O avanço na agenda ESG no Brasil é notável. De acordo com um estudo da consultoria Grant Thornton, das 255 empresas brasileiras ouvidas, 54% disseram que vão investir em projetos ESG. Segundo Scarlett Rodrigues, coordenadora de projetos em Direitos Humanos do Instituto Ethos, há um avanço das empresas na compreensão da pauta ESG. Os próprios números do Ethos mostram a evolução do comprometimento empresarial com o desenvolvimento sustentável. A organização, que tinha 58 associados em 1998, hoje conta com 455 empresas participantes.
Índice de transição energética
Muitos especialistas avaliam que a transição energética é o maior programa de investimentos desde o início da industrialização. A troca dos combustíveis fósseis por fontes sustentáveis é um desafio para o mundo. Para medir o processo, a Siemens Energy e a consultoria de gestão internacional Roland Berger criaram o Índice Global de Prontidão para a Transição Energética. Em uma escala de 0 a 100% o estudo indica qual a situação rumo às emissões zero. A pesquisa mostra que a América do Norte chegou ao patamar de 34%, enquanto a Europa alcançou 33%. Na Ásia-Pacífico, a taxa está em 25% e na América Latina em 22%.
Petrobras e CO2
A Petrobras anunciou um novo recorde de captura, uso e armazenamento geológico de CO2 em 2022. Ao aplicar uma tecnologia conhecida pela sigla CCUS (Carbon Capture, Utilization and Storage), a companhia chegou na marca de 10,6 milhões de toneladas reinjetadas, e informa que este volume corresponde a quase 25% do total de CO2 injetado pela indústria global no ano passado. As 21 plataformas da empresa que operam o pré-sal na bacia de Santos incorporam a técnica que consiste em usar o gás para aumentar a eficiência da produção e reduzir a intensidade de emissões de gases de efeito estufa (GEE).
(foto: Valentino Funghi/Unsplash)
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