Um estudo realizado por um conjunto de organizações internacionais prevê que os maiores produtores de combustíveis fósseis do mundo continuarão explorando suas reservas em abundância nos próximos anos, colocando em risco a meta de combater o aquecimento global. Segundo o levantamento, a previsão é de que a oferta de petróleo, gás e carvão seja 110% maior do que o recomendável para limitar a elevação da temperatura do planeta em 1,5°C até 2030, na comparação com o nível pré-industrial.
As estimativas foram construídas com base em dados governamentais, que indicam um aumento na produção global – planejada e projetada – de carvão, até 2030, e de petróleo e gás, até pelo menos 2050. Segundo o estudo, há dados que sugerem que a demanda global de carvão, petróleo e gás atingirá o pico nesta década.
O relato aponta que os 20 grandes produtores de combustíveis fósseis mantêm políticas de incentivo e apoio financeiro significativos para a produção de combustíveis fósseis. São eles: Austrália, Brasil, Canadá, China, Colômbia, Alemanha, Índia, Indonésia, Cazaquistão, Kuwait, México, Nigéria, Noruega, Catar, Federação Russa, Arábia Saudita, África do Sul, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e Estados Unidos da América.
Quem assina
O relatório intitulado “Redução ou aumento gradual? Os principais produtores de combustíveis fósseis planejam ainda mais extração, apesar das promessas climáticas” é assinado pelo Instituto Ambiental de Estocolmo (SEI), Climate Analytics, E3G, Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Recomendação
A conclusão dos autores do relatório é de que há muita incerteza em relação à captura e armazenamento de carbono e da remoção de dióxido de carbono, e que, por isso, “os países devem ter como meta a eliminação quase total da produção e do uso de carvão até 2040, e uma redução combinada da produção e do uso de petróleo e gás em três quartos até 2050, no mínimo, em relação aos níveis de 2020”. O secretário-geral da ONU, António Guterres, se manifestou sobre o relatório. “Não podemos enfrentar a catástrofe climática sem atacar sua causa principal: a dependência dos combustíveis fósseis”, afirmou.
Petrobras refina soja (I)
A Petrobras encerrou nesta semana a primeira fase de testes de refino de óleo totalmente vegetal. Do processo saíram insumos petroquímicos e combustíveis renováveis como GLP, combustíveis marítimos, propeno e bioaromáticos (BTX – benzeno, tolueno e xileno), usados nas indústrias da borracha sintética, nylon e PVC, além de uma gasolina de alto desempenho. O processamento de duas mil toneladas de óleo de soja foi realizado na Refinaria Riograndense, unidade que tem como sócios da estatal brasileira a Braskem e o Grupo Ultra.
Petrobras refina soja (II)
O processo para refino de óleo vegetal bruto em escala industrial foi desenvolvido pelo Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Petrobras (Cenpes), que detém a patente da tecnologia que vai um passo além da produção de biocombustíveis. Com a efetividade do primeiro teste, outro já foi programado para junho de 2024, com o coprocessamento de carga mineral e bio-óleo (biomassa não alimentar) para a produção de propeno, gasolina e diesel, que poderão ser classificados como combustíveis verdes. A companhia também está prospectando a bioquerosene de aviação.
Mais combustível verde
O Grupo Brasil BioFules (BBF) escolheu o óleo de palma para inovar na produção de combustíveis verdes. A empresa faz um investimento de R$ 2,2 bilhões em Manaus para abrir uma refinaria que promete entregar 500 milhões de litros por ano de combustível sustentável de aviação (SAF) e diesel verde. A palma (ou dendê) tem uma constituição bioquímica que gera, no mesmo espaço de plantio, dez vezes mais óleo do que a soja.
Diesel R
Outra novidade relacionada a combustíveis de nova geração é um contrato firmado entre a Petrobras e a rede de postos SIM, que opera no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, para a entrega de diesel R. É a primeira vez que o produto vai chegar ao varejo para abastecer caminhões e outros veículos movidos a diesel. O combustível é resultado do coprocessamento de petróleo e matérias-primas renováveis, como o óleo de soja, e, de acordo com a Petrobras, tem um nível de emissões 60% menor que o diesel mineral. A refinaria de Araucária será responsável pelo fornecimento. A decisão de oferecer o diesel R faz parte das práticas ESG que a rede SIM está adotando.
Clima de perdas
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) divulgou um estudo que mostra que os desastres naturais provocados pelas mudanças climáticas geraram perdas de US$ 3,8 trilhões na produção agrícola global entre 1991 e 2021. Nos cálculos da entidade, isso representa um prejuízo anual de 5% do PIB agrícola mundial. O número de eventos extremos com reflexos na produção agropecuária aumentou de 100 ao ano, na década de 1970, para 400 ao ano, na média das últimas duas décadas.
(Foto: Zbynek Burival/Unsplash)
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