A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023 (COP28) não estabeleceu um prazo para o fim do uso de combustíveis fósseis. O acordo assinado por 198 países apela a todos a enfrentar o aquecimento global de forma rápida e estimula a transição energética. Contudo, é vago a respeito de um período específico para a eliminação do petróleo, gás e carvão como fontes de energia. Aliás, termos como redução ou eliminação nem foram usados no documento.
O comunicado oficial, emitido pela presidência da COP28, sob a liderança do sultão Ahmed Al Jaber, diz que o acordo é uma “referência sem precedentes à transição de todos os combustíveis fósseis para permitir que o mundo alcance zero emissões líquidas até 2050”. Também sublinha a criação de “uma nova meta específica para triplicar as energias renováveis e duplicar a eficiência energética até 2030”.
Na linguagem diplomática, apelar é a mais fraca de todas as expressões para exigir que algo seja feito concretamente pelos envolvidos. É um convite e não uma imposição. Embora mais forte do que os rascunhos iniciais, inclusive por citar os combustíveis fósseis, o texto aprovado deixa dúvidas se a urgente agenda de redução de emissões e de combate ao aquecimento global realmente será colocada em prática no mundo. Assim, a humanidade segue na dúvida se será possível evitar que a temperatura global aumente além de 1,5º C em relação à era pré-industrial.
Verde, mas com lucro (I)
Os chamados ativos financeiros verdes, criados para financiar projetos e ações que ajudem na descarbonização do planeta, perderam fôlego. O tema foi discutido na COP28 e o bilionário Ray Dalio, dono do fundo de investimentos Bridgewater Associates, foi claro e direto a respeito do contexto. Só haverá dinheiro para aplicação em soluções climáticas se houver retorno financeiro para os investidores. Ou seja, os ativos têm que gerar lucro.
Verde, mas com lucro (II)
Ray Dalio não foi o único banqueiro a defender esta linha. “Você precisa de disponibilidade de projetos. Pode haver US$ 130 trilhões ou mais de capital, mas é um capital em busca de retorno, então você precisa de investimentos viáveis que forneçam risco e retorno apropriados. É isso que todos estamos procurando”, disse Ramaswamy Variankaval, do JPMorgan, em uma entrevista em Dubai que foi reproduzida pela plataforma de notícias Bloomberg.
COP no Brasil
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) será no Brasil e Belém, capital do Pará, vai sediar o encontro que está agendado para o período de 20 a 21 de novembro. A escolha foi oficialmente confirmada, por unanimidade, em uma plenária antes do encerramento da COP28, em Dubai. Em 2024, a COP29 será no Azerbaijão, país que fica entre a Ásia e a Europa.
Política e biocombustíveis
Políticos da comunidade europeia estão criando normas para estimular o uso de combustíveis limpos na cadeia de transportes da Europa. A vontade política, no entanto, não encontra suporte na infraestrutura de produção e armazenagem de biocombustíveis. O Tribunal de Contas Europeu (TCE) publicou um relatório que informa que a capacidade de produção de biocombustíveis no bloco europeu não atinge nem um décimo do volume necessário para substituir o petróleo usado atualmente para mover caminhões, trens e aviões.
CO2 sem crédito
A demanda por crédito de carbono no mercado voluntário, que vinha aumentando após a COP 26, em Glasgow, caiu substancialmente. Naquele encontro, diversas empresas assumiram compromissos de zerar emissões e o setor financeiro prometeu bilhões de dólares para promover ações de descarbonização da economia. No caminho inverso da queda de ativos, as suspeitas de prática de greenwashing (maquiagem) só aumentam. Além disso, a criação da Agenda Race to Zero das Nações Unidas, que restringe a utilização de créditos em compromissos de net zero, assustou o mercado financeiro.
Caminhão a hidrogênio
A partir de 1º de janeiro, a Califórnia só permitirá que caminhões movidos a combustível limpo acessem terminais portuários. O estado americano criou uma série de exigências com o objetivo de eliminar gradualmente o diesel na cadeia de transporte. Com isso, cresceu a demanda por veículos de carga movidos a hidrogênio, que tem mais autonomia que os caminhões eletrificados. O primeiro roda em média 300 quilômetros com uma carga, enquanto os movidos por H2 podem andar o dobro desta quilometragem.
Caminhão a hidrogênio (II)
A Califórnia conta com a maioria dos 50 postos de abastecimento de hidrogênio instalados nos Estados Unidos – a China tem 250 pontos. Apesar de uma infraestrutura insuficiente, a indústria de transporte americana enxerga que, além de maior autonomia, há outra vantagem no hidrogênio. É tempo de abastecimento, infinitamente menor que os elétricos. Nos EUA, a Nikola lidera a tecnologia de caminhões a hidrogênio, mas começa a ser perseguida por gigantes como Kenworth, Hyundai e Volvo.
Sem concessão
O Conselho do Programa de Parceria de Investimentos (CPPI) publicou uma resolução recomendando que 19 unidades federais de conservação sejam retiradas do Programa Nacional de Desestatização (PND) e do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI). Entre os parques que não devem ser concedidos à iniciativa privada estão alguns bastante conhecidos e divulgados, como os Lençóis Maranhenses (MA), São Joaquim (SC), Serra da Canastra e Serra do Cipó (MG).
(Foto: Christopher Pike/COP28)
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