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Cúpula de mudanças climáticas começa em clima de ceticismo

30/11/2023

A Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28) começa neste dia 30 de novembro e vai até 12 de dezembro. Neste período, Dubai vai se tornar o centro do mundo. São várias pautas em negociação para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e reduzir os impactos do aquecimento global. Mas o clima prévio é de ceticismo sobre os resultados efetivos da cúpula global, que deverá reunir 170 chefes de estado e de governo.

 

Uma das agendas é a discussão do relatório da ONU que mostra que as emissões de gases de efeito estufa continuam crescendo, e atingiram os níveis mais altos de todos os tempos, quando deveriam estar diminuindo. A probabilidade que o aquecimento da terra fique abaixo da meta de 1,5°C é de apenas 14%. A maior parte dos compromissos do Acordo de Paris ficaram pelo caminho.

 

Outro tema relevante é a operacionalização do Fundo de Perdas e Danos para compensar países mais pobres que são afetados pela poluição gerada pelos mais ricos. Aprovado na COP27, o fundo de US$ 100 bilhões não saiu do papel ainda. Segundo a ONU, só os prejuízos relacionados a eventos climáticos severos devem somar US$ 300 bilhões por ano até 2030 em regiões menos desenvolvidas.

 

Por fim, há a questão da produção e consumo de combustíveis fósseis, que deve gerar muita discussão. Uma das grandes cobranças de organizações ambientalistas, e de alguns blocos de países que já avançaram nesta pauta, será por um plano global para eliminar gradualmente derivados do petróleo.

 

Papa na COP28

O Papa Francisco estará na COP28 e deverá repetir os apelos que vem fazendo insistentemente aos líderes mundiais para que adotem soluções concretas para reduzir as emissões de gases de efeitos estufa e desacelerar as mudanças climáticas. Ele prega a redução urgente do uso de combustíveis fósseis e escreveu, em 2015, que o mundo estava se tornando uma imensa pilha de sujeira. Naquele ano foi assinado o Acordo de Paris, mas o Vaticano só aderiu aos compromissos da convenção em 2022. Além da situação do clima, o Papa deve cobrar medidas sobre o conflito em Gaza e sobre a guerra na Ucrânia.

 

COP28 e negócios fósseis (I)

Às vésperas da COP28, a rede BBC divulgou partes de documentos que indicariam a intenção de empresas petrolíferas do Oriente Médio de aproveitar a cúpula do clima para negociar com outros países projetos para expandir a produção de combustíveis fósseis. A reportagem cita que a ADNOC – companhia dos Emirados Árabes Unidos – preparou reuniões com representantes da China para tratar da exploração conjunta de gás natural em Moçambique, Canadá e Austrália.

 

COP28 e negócios fósseis (II)

A petroleira árabe também teria interesse em negociar investimentos na Colômbia e em outros 13 países. A BBC diz que as informações foram obtidas por jornalistas independentes da organização sem fins lucrativos Center for Climate Reporting. Os organizadores da COP28, que é dirigida pelo sultão Al Jaber, que também comanda a ADNOC, e representantes de empresas de petróleo negam que haverá negociações sobre a exploração de combustíveis fósseis com qualquer outra nação.

 

Roupa limpa (I)

A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo, responsável por 8% dos gases do efeito estufa, por 20% do desperdício de água e descarte impróprio. Para reduzir o impacto climático das suas operações, a gigante de fast fashion H&M, que faturou 20 bilhões de euros em 2022, lançou um programa de empréstimos verdes para atender sua cadeia de valor. Além de dinheiro mais barato, os fornecedores receberão suporte técnico para produzir “roupas limpas” – do ponto de vista ambiental. A iniciativa, que não teve números divulgados, é uma parceria com a financeira DBS, de Singapura. A medida faz parte da estratégia ESG da marca sueca, que já confirmou a chegada ao Brasil em 2025, com lojas físicas e e-commerce.

 

Roupa limpa (II)

O Grupo H&M tem cinco mil lojas em todas as regiões do planeta e estabeleceu objetivos de emissões líquidas zero até 2040, com fases intermediárias de redução dos escopos 1 (emissões diretas), 2 (emissões indiretas, como uso de energia) e 3 (emissões de terceiros na cadeia produtiva) em 56% até 2030. Como acontece no mercado varejista, o escopo 3 representa quase 99% das emissões. Deste percentual, mais de 60% derivam da produção de tecidos, fabricação de vestuário, outras matérias-primas e transporte.

 

Carbono concreto

A captura direta de carbono do ar (DAC, em inglês), apesar de caro, já tem vários experimentos promissores. O CO2 sugado da atmosfera por grandes aspiradores pode se transformar em diamante ou combustível sintético. A empresa norte-americana Heirloom inseriu uma nova tecnologia no processo, com a utilização de calcário superaquecido para prender o dióxido de carbono, que depois de um processo químico é fixado no concreto usado para a construção. Uma planta foi instalada na Califórnia, com a meta de capturar 1.000 toneladas de CO2 por ano, o que é quase nada. Mas a companhia quer chegar a 1 bilhão de toneladas até 2035. Atualmente, os créditos de carbono gerados pela empresa são comercializados com grandes companhias americanas, entre elas a Microsoft.

 

Paradoxo americano

Tecnologias de remoção de carbono têm recebido altos investimentos nos Estados Unidos. Startups ligadas ao processo de redução e captura de CO2 captaram US$ 7,6 bilhões neste ano. No caso do DAC, o método está incluído no programa de incentivos do governo americano, que liberou US$ 4 bilhões para esta e outras iniciativas que contribuam com a descarbonização do País. O estímulo ao reflorestamento ganhou US$ 1 bilhão. Paradoxalmente, os Estados Unidos continuam a liderar a expansão da produção e consumo de combustíveis fósseis.

 

(Foto: Mathias Reding/Unsplash)

 

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