Há uma analogia frequentemente utilizada para demonstrar que uma coisa se move mas não sai do lugar. É a história do cachorro correndo atrás do rabo. As conclusões da Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP27), realizada no Egito, remetem a esta imagem. Apesar das grandes expectativas, houve pouco avanço. Uma das decisões positivas é a criação de um fundo internacional para compensar perdas e danos causadas às nações mais pobres pelos desastres naturais provocados pelas mudanças climáticas. Com esta decisão, os ricos reconhecem a responsabilidade pelo caos ambiental, mas querem dividir a conta com os países em desenvolvimento. Assim, faltou definir de onde virá o dinheiro do fundo.
Elefante na sala
Usando outra simbologia, é possível afirmar que o “elefante continua na sala”, pois também não houve evolução sobre medidas para desacelerar o volume de emissões de gases de efeito estufa e, assim, evitar que que a temperatura global ultrapasse a marca de 1,5ºC acima da era pré-industrial. Na visão de diversos ambientalistas, houve efetivo reconhecimento dos governos em relação à crise energética global, mas faltou uma ação concreta na COP27 sobre a questão dos combustíveis fósseis. “Como nos informa a ciência do clima, cada fração de aumento da temperatura importa. Precisamos de um ritmo de implementação do Acordo de Paris (assinado por 195 países) muito mais forte”, afirmou Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa.
Resistência fóssil (I)
Os corredores da COP27, no Egito, não foram frequentados apenas por quem defende medidas para a mitigação das agressões ao ambiente e políticos responsáveis pelos acordos multilaterais que permitam colocar em prática a agenda de preservação e proteção do Planeta. A indústria dos combustíveis fósseis marcou forte presença na conferência da ONU sobre o clima com 636 representantes das maiores companhias de petróleo do mundo.
Resistência fóssil (II)
O número de executivos de petroleiras na COP27 foi 25% maior do que na cúpula anterior, realizada em Glasgow. O batalhão foi classificado pela imprensa como um grupo de lobistas. A preocupação obviamente não era o impacto da queima de combustíveis fósseis, e sim a evolução da transição energética para fontes limpas, que ameaça os negócios do petróleo, gás e carvão. O setor impõe resistências e ganha tempo. A conferência do Egito manteve o texto das metas aprovadas na Escócia, com o termo “reduzir” ao invés de “eliminar” drasticamente o uso de combustíveis fósseis nos próximos anos.
ESG alavanca o agro (I)
Em entrevista para o site PresenteRural, Rodrigo Esteves, CEO da Tarken, empresa que fornece soluções digitais para o setor agrícola, afirmou que a adoção da agenda ESG é fundamental para alavancar negócios no campo. “A pauta ESG entrou de vez no agro do Brasil”, considera ele. “O produtor sabe que isso melhora a qualidade da produção, melhora a terra, melhora o ambiente, a propriedade de uma forma geral”.
ESG alavanca o agro (II)
“Quando são levantados os dados das práticas ESG, a ideia é que o produtor rural que consegue seguir uma série destes critérios tenha mais vantagens quando recorre ao crédito, e as razões são simples: para a entidade que fornece o crédito, o produtor rural que adota as práticas de sustentabilidade tem no longo prazo um fluxo de caixa melhor, uma maior probabilidade de superar as variações e dificuldades climáticas, vai ter menos problemas no setor jurídico, e vai ser capaz de produzir mais e com maior qualidade e maior retorno sem precisar gastar mais”, afirmou Esteves.
Energia solar cresce 59%
Em 2022, a produção de energia solar no Brasil cresceu 59,4%, chegando a uma potência instalada de 22 gigawatts, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). A projeção para o próximo é agregar mais 1,2 gigawatts ao volume atual. Segundo o relatório Renewables 2022 Global Status Report – REN21 – GSR 2022 o País ficou entre os cinco maiores produtores mundiais de energia solar em 2021, com a geração de 13 gigawatts, atrás da China, Estados Unidos, Índia e Japão.
Incentivo solar
O crescimento acelerado da energia solar no Brasil pode ser explicado pela legislação em vigor, que concede subsídios para quem instalar sistemas até o final do próximo mês de janeiro. A regra diz que projetos registrados até o início de 2023 ficam isentos dos encargos sobre o uso da rede de distribuição de energia no País até 2045. Instalações feitas depois deste prazo, começam a pagar a taxa imediatamente, mas de forma escalonada, até atingir 100% do valor em 2029.
Foto: Joshua Rawson-Harris/Unsplash