Lá se vão quase 20 anos desde que a sigla ESG (ambiental, social e governança) começou a circular no meio corporativo. Ela apareceu em uma provocação da ONU para que grandes empresas adotassem práticas mais responsáveis em seus negócios e seguissem os preceitos do Pacto Global instituído no início deste século. O fato é que a coisa ficou hibernando e só ganhou impulso nos últimos cinco anos, quando ficaram mais evidentes as reações da natureza aos estragos causados pelo homem ao ambiente. Hoje, é uma agenda internacional, ancorada nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e que norteia movimentos de ativos graúdos no mercado financeiro e que tem capacidade de construir ou destruir reputações. Apesar da importância que o assunto ganhou, muitas empresas brasileiras ainda não sabem como lidar internamente com o tema ESG. Segundo um levantamento da consultoria Vertico, 61% das companhias questionadas dizem ter pelo menos um líder encarregado de conduzir as iniciativas. Quando perguntado em que área ele atua, aparece o tamanho da dispersão: 40% informaram que estão no RH, 17% que têm área própria e 16% disseram que é uma atribuição do principal executivo ou do proprietário. O restante se divide em áreas como: Comunicação, Jurídico, Financeiro, Relações Institucionais, Risco/Compliance, entre outras. A pesquisa ouviu 200 profissionais de diversos setores da economia.
Impacto ESG
De acordo com o estudo da Vertico, dentre as empresas que possuem área dedicada às práticas ESG, 86% estão na categoria enterprise. São grandes corporações que precisam responder com mais agilidade às exigências mercadológicas e econômicas internacionais. A pesquisa também mostra que para 52% dos 200 entrevistados as ações da empresa em temas ESG têm impacto direto no seu trabalho diário, enquanto 40% não veem esse efeito e 8% não souberam o que dizer.
Prêmio duvidoso
Consultores e auditores consideram fundamental que o bônus pago para executivos de grandes companhias inclua metas para ações ESG. Até aí, tudo bem. É uma forma de estimular medidas responsáveis em questões ambientais, sociais e de governança. O problema está na métrica e o caso da companhia aérea americana Southwestern virou exemplo. A empresa teve quase 17 mil voos cancelados em 2022, causando transtornos a milhares de passageiros. Mesmo assim, o CEO Robert Jordan recebeu um prêmio de US$ 5,3 milhões. A justificativa é que cumpriu os compromissos com equidade, diversidade, inclusão e sustentabilidade estabelecidos pela companhia.
Clima europeu
Uma pesquisa patrocinada pela Comissão Europeia, organismo responsável por propor leis para os 26 países que formam a União Europeia, revela que 93% dos habitantes do bloco consideram que as alterações climáticas são um problema global grave. Apesar disso, apenas 35% se consideram responsáveis pela solução. A maior parte acredita que o combate às mudanças no clima é atribuição dos governos nacionais e das empresas. Foram ouvidas 26 mil pessoas e dois terços entendem que o governo do seu país não faz o suficiente em relação à emergência climática. Apenas os finlandeses reconhecem efetividade nas medidas adotadas pelo Estado.
Bateria longa vida (I)
Estimativas apontam que uma bateria de carro elétrico dure de oito a 10 anos. E depois disso, o que acontece? Apesar de muitas montadoras já pesquisarem uma destinação adequada, pipocam leis para regulamentar a questão. Uma legislação recém aprovada na União Europeia, que passa a vigorar gradualmente a partir de 2025, estabelece critérios rígidos para uso de componentes nocivos na fabricação das baterias e também normas de logística reversa. Basicamente, passam a valer como lei os conceitos de sustentabilidade ambiental – baixa pegada de carbono – da economia circular: recolher, reciclar e reutilizar.
Bateria longa vida (II)
No Brasil, o assunto também está tramitando no Congresso Nacional. No final de agosto, a Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado aprovou uma proposição que altera a lei que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. A mudança estabelece critérios da logística reversa para baterias de veículos elétricos. A determinação também é no sentido de priorizar a reciclagem e reaproveitamento de componentes das baterias.
Bateria longa vida (III)
Em relação ao reaproveitamento de baterias de íon de lítio – as mais usadas em smartphones e células de veículos elétricos – o Brasil já tem uma solução. Desde 2021, a Energy Source faz o reprocessamento do componente para garantir uma segunda vida às baterias. O produto reaproveitável é utilizado para armazenar energia em sistemas de geração de energia eólica ou solar ou, ainda, em estações de reabastecimento de carros eletrificados. A empresa brasileira informa que já reciclou 500 toneladas de baterias de lítio.
Petrobras compensa CO2
A Petrobras fez a sua primeira aquisição de créditos de carbono no chamado mercado voluntário. A compra é equivalente a 175 mil toneladas de gases de efeito estufa e envolveu o Projeto Envira Amazônia, criado para promover a preservação da floresta. A empresa não revelou o valor pago, mas informou que o negócio vai proteger uma área de 570 hectares – ou 800 campos de futebol. A estatal estuda vários meios para descarbonizar seus processos e promete investir US$ 120 milhões em créditos de carbono até 2027.
(Foto: Elisa Ventur/Unsplash)
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