Uns dos elementos mais abundantes da Terra, o hidrogênio é considerado o combustível do futuro e uma das principais armas para descarbonizar o planeta. A onda do H2 verde já movimenta bilhões de dólares pelo mundo, e o Brasil tem os predicados necessários para ser um dos maiores polos mundiais de produção do gás.
Mas, nem bem a infraestrutura necessária para tornar viável o uso comercial da inovação saiu do papel, já surge um concorrente “novo” no mercado. É o hidrogênio branco – ou natural. Prospecções feitas na França estão avaliando como explorar as reservas existentes. Diferente do H2v, que é separado com um processo de eletrólise intensivo em energia de fontes renováveis, o combustível “in natura” dispensa este processo, o que o torna ainda mais limpo e barato.
As primeiras estimativas indicam que o custo de produção de um quilo de hidrogênio branco é de US$ 1,00, enquanto o hidrogênio verde exigiria US$ 6,00.
O hidrogênio branco é gerado continuamente pela natureza quando a água aquecida encontra rochas ricas em ferro. Especialistas envolvidos na pesquisa de viabilidade de exploração do gás consideram que pequenos depósitos seriam suficientes para fornecer energia limpa por centenas de anos.
Reservas de H2 branco
Neste ano, um grande depósito de hidrogênio natural foi descoberto na região de Lorena, na França. Os geólogos acreditam, contudo, que as maiores reservas devem estar em locais de difícil acesso, principalmente em alto mar, o que pode tornar muitas operações comercialmente inviáveis. Outros países que já identificaram a existência do gás são a Austrália, França, Omã, Espanha, Mali e EUA, além da Europa Oriental.
H2 em cores
Além do verde e do branco, o hidrogênio é classificado em outras cores, de acordo com o modo de produção e origem da matéria-prima. O cinza é obtido a partir de gás natural ou metano; o azul surge da reforma de gás natural, com captura de carbono; o turquesa é resultado da pirólise do metano; o laranja sai do processamento de resíduos; e o rosa resulta da eletrólise da água, mas com eletricidade nuclear.
Dinheiro verde (I)
A cadeia produtiva do hidrogênio verde é um dos setores que devem receber aportes públicos e financiamentos do Estado brasileiro. A União prevê liberar R$ 540 bilhões em investimentos na transição energética e uma das ações incluídas neste programa é a criação de um plano nacional para produção de hidrogênio limpo. Neste caso, o dinheiro deve ser aplicado, prioritariamente, em infraestrutura portuária para o armazenamento e escoamento do gás.
Dinheiro verde (II)
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) firmou parcerias com o Bando Mundial (BIRD) e com o Banco Europeu de Investimentos (BEI) para financiar plantas industriais de combustíveis não poluentes no Brasil. No total, os acordos comerciais permitirão aportar R$ 6,5 bilhões para estimular empreendimentos de geração de energia limpa, principalmente o hidrogênio verde, que deve ter grande demanda na Europa no médio prazo.
Declaração fóssil
O jornal britânico The Guardian publicou uma declaração do sultão Al Jaber, que comanda a COP28, na qual ele diz que “não há nenhuma ciência por aí, ou nenhum cenário por aí” que comprove que a redução do uso de combustíveis fósseis vai frear o aquecimento global, evitando que a temperatura da terra atinja 1,5º C a mais em relação à era pré-industrial. A opinião foi manifestada em 21 de novembro, em uma reunião online preparatória para a Conferência do Clima de Dubai. Jaber é o principal executivo da petrolífera ADNOC, dos Emirados Árabes Unidos. De acordo com a ciência, a queima de petróleo, gás e carvão está entre as principais causas do efeito estufa.
Lobby do petróleo
A organização ambientalista Kick Big Polluters Out (KBPO), que reúne representantes de todo o mundo, e é radicalmente contra a presença de grandes poluidores nas negociações sobre medidas para mitigar as mudanças climáticas, divulgou um relatório que informa que 2.456 pessoas ligadas aos negócios de combustíveis fósseis foram inscritas para a COP28. A entidade chama estes participantes de lobistas do petróleo. O número de integrantes deste grupo só perde para a delegação brasileira, que tem 3.081 pessoas, e para os 4.409 nativos dos Emirados Árabes Unidos, que sedia a conferência.
Brasil + Opep (I)
O Brasil foi convidado a se associar à Opep+, que é um grupo satélite da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), formada pela Arábia Saudita, Irã, Kuwait, Venezuela, Iraque, Argélia, Equador, Gabão, Indonésia, Líbia, Nigéria, Catar e Emirados Árabes Unidos. Atualmente, a produção brasileira fica atrás de apenas dois membros originais do cartel que controla o preço do petróleo no mundo: Arábia Saudita e Iraque.
Brasil + Opep (II)
Entre janeiro e outubro, a extração de petróleo no Brasil foi, em média, de 3,3 milhões de barris/dia. Deste total, 76% são explorados nos campos do pré-sal. De acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o volume de petróleo e gás que sai das bacias brasileiras chega a 4,5 milhões de barris equivalentes/dia. A reserva brasileira soma 11 bilhões de barris e é a nona maior do mundo.
(Foto: Scott Webb/Unsplash)
Leia outras colunas do Silvio Lohmann aqui.