Em um mundo com absoluta dependência da internet, potencializada pelo avanço da Inteligência Artificial (IA), da mineração de criptomoedas e da mudança para a computação em nuvem, há dúvidas sobre a capacidade global de geração de energia limpa para fazer funcionar os grandes centros de processamento de dados que sustentam a revolução tecnológica contemporânea.
A estimativa é de que o universo da computação responde atualmente por 2,5% da demanda global por eletricidade e o consumo só cresce com a chegada da Inteligência Artificial. A tecnologia transformou em corrida de obstáculos a busca pela eficiência energética e, ao mesmo tempo, colocou uma interrogação sobre o processo de descarbonização da geração elétrica.
Um metro quadrado de um data center dedicado a IA pode consumir a mesma eletricidade de 15 casas, e produz calor equivalente. Além do gasto para manter máquinas ligadas, há poderosos sistemas de resfriamento dos equipamentos. Para esta estrutura não há outra opção de escala de trabalho diferente de 7 x 0, com operação nas 24 horas do dia, no ano inteiro.
Um estudo recente da consultoria americana Gartner INC estima que 40% dos data centers sofrerão restrições de abastecimento de energia nos próximos anos, principalmente de fontes limpas. Na avaliação da consultoria, haverá crescimento nas emissões de CO2 para gerar a energia necessária no curto prazo para atender grandes servidores, comprometendo metas de sustentabilidade anunciadas pelas próprias empresas do setor.
A Gartner avalia que a demanda para operar servidores otimizados para IA vai chegar a 500 terawatts-hora (TWh) em 2027. É uma estimativa conservadora se comparada às da Agência Internacional de Energia (AIE), que aponta o uso de 620 TWh a 1.050 TWh até 2026 para o funcionamento de centros de processamento de dados. A BloombergNEF, por sua vez, considera que o consumo global de energia por data centers atingirá 1.580 TWh até 2034. O volume é 50% maior que o atual consumo anual de um país como o Japão.
O caso da Irlanda
A Irlanda é um país menor que grande parte dos estados brasileiros e se transformou em um polo de tecnologia que abriga 82 data centers. Nos próximos três anos, este segmento poderá consumir até um terço da energia gerada no País, com a instalação de mais 54 centros. Atualmente, a demanda do setor é de 21% da energia produzida, contra 18% do consumo residencial. A Irlanda é autossuficiente em energia e dados de 2022 indicam que a geração se equilibrava entre fósseis (58%) e renováveis (42%).
Do G20 para a COP29
Líderes das maiores economias do mundo renovaram na reunião do G20, no Rio de Janeiro, as boas intenções para combater a crise climática. Apesar do documento final não jogar luz sobre a eliminação dos combustíveis fósseis, os governantes indicaram que vão apoiar a definição de um mecanismo de financiamento climático, principal tema da COP29, de Baku. Há ciência de que a conta passou da casa dos bilhões para a de vários trilhões.
Lobistas na COP (I)
A ONG Kick Big Polluters Out (Expulse os Grandes Poluidores, em tradução livre) contabilizou 1.773 representantes da indústria fóssil entre os credenciados para a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP29) de Baku, no Azerbaijão. Segundo a entidade, o encontro teve a participação de mais “lobistas” do que a soma dos delegados de dez países que mais sofrem com a mudança do clima: Chade, Ilhas Salomão, Níger, Micronésia, Guiné-Bissau, Somália, Tonga, Eritreia, Sudão e Mali.
Lobistas na COP (II)
No ano passado, em Dubai, a organização disse que as companhias de petróleo, gás e carvão credenciaram 2.456 participantes na COP28. A queda é explicada porque naquela conferência circularam 97.372 pessoas, enquanto na atual são 52.305 presentes. Uma das declarações que marcou o encontro em Baku veio do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, que disse que as reservas de combustíveis fósseis são “presentes de Deus” e que os países não deveriam ser culpados por utilizá-los.
Brasil reduz emissões
O Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa, do Observatório do Clima, indicou que Brasil emitiu 2,3 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (GtCO2e) em 2023. O valor representa uma redução de 12% sobre 2022, quando o país emitiu 2,6 bilhões de toneladas. É a maior queda percentual nas emissões desde 2009, quando o país registrou a menor emissão da série histórica iniciada em 1990. Os dados revelam que o desmatamento diminuiu na Amazônia e isso produziu o efeito da queda nas emissões. O Observatório do Clima diz que o levantamento “põe o Brasil mais perto de cumprir suas metas climáticas para 2025”.
Hidrogênio de etanol
A Universidade de São Paulo (USP) desenvolveu um sistema para transformar etanol em hidrogênio verde (H2v). O combustível será usado para mover três ônibus dentro da própria instituição e um automóvel cedido pela Toyota. A universidade informa que esta é a primeira estação de abastecimento de hidrogênio renovável do mundo com a tecnologia que aquece o etanol e água a 750ºC, quebra as moléculas e gera hidrogênio e CO₂ biogênico. A produção inicial será de 100 quilos por dia. Segundo a USP, com a conversão de seus 18 ônibus para o novo combustível será possível reduzir suas emissões em 3 mil toneladas de CO2 por ano. A agência Fapesp, informa que a experiência vai avaliar a eficiência e o impacto ambiental do hidrogênio no transporte urbano.
(Foto: Taylor Vick/Unsplash)
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