A Organização das Nações Unidas (ONU) tem alertado insistentemente de que é preciso acelerar o passo se quisermos cumprir os compromissos de evitar que a temperatura da terra alcance níveis ainda mais severos do que os observados atualmente. Sem mudanças de rumos, as mudanças climáticas atingirão a todos, democraticamente. Isso inclui as pessoas, a fauna e a flora do Planeta. Os desastres naturais vistos nestes tempos são a prova de que os efeitos do aquecimento global não escolhem vítimas, apesar de penalizar mais as nações empobrecidas. Em um relatório recente, a ONU demonstra que a temperatura média global, entre 2013 e 2022, ficou 1,15°C acima da era pré-industrial (1850-1900). Para 2023, as estimativas fechadas em junho indicam um aumento para 1,18°C. Nesta conta, 1,14°C do calor adicional é atribuído à ação humana. Para as Nações Unidas, ainda faltam iniciativas práticas para reduzir emissões e cumprir o Acordo de Paris, que é não deixar a temperatura subir acima de 1,5°C até 2030, no comparativo com o período pré-industrial. Para que isso aconteça, as emissões globais de gases de efeito estufa deveriam cair até 45% nos próximos anos. Estamos longe dessa meta, como demonstram os dados.
Terra quente
De 2019 a junho de 2023, a maioria das áreas do mundo foi mais quente do que a média registrada entre 1991 e 2020. Sobram manifestações de boa vontade e faltam iniciativas práticas de grande impacto, sejam elas de governos, empresas ou de pessoas, para combater o aquecimento global. Assim como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), as metas do Acordo de Paris, de 2015, dificilmente serão alcançadas em 2030.
A ciência é clara
“A ciência é clara: o planeta está longe de cumprir suas metas climáticas. Isso prejudica os esforços globais para combater a fome, a pobreza e os problemas de saúde, melhorar o acesso à água potável e à energia e muitos outros aspectos do desenvolvimento sustentável”. Esse é o resumo do relatório United in Science 2023 divulgado em setembro pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), que é vinculada à ONU. O estudo revela que algumas mudanças futuras no clima são “potencialmente irreversíveis”. Assim, são necessárias “ações ambiciosas de mitigação e adaptação” para reduzir perdas e danos.
Desenvolvimento insustentável
O mesmo relatório informa que entre 1970 e 2021, foram registrados 11.778 desastres atribuídos a extremos climáticos. Os eventos causaram mais de dois milhões de mortes e US$ 4,3 trilhões em perdas físicas. Cerca de 90% das mortes e 60% dos prejuízos foram registrados em países pobres. Para a ONU, os impactos dos desastres naturais ficarão cada vez mais graves. Isso vai aumentar a pobreza e a desigualdade, ampliar a insegurança alimentar e hídrica, desencadear novas ondas de instabilidade econômica. Em última análise, no atual ritmo caminhamos para o desenvolvimento insustentável.
Limites ultrapassados (I)
Em outra frente de diagnóstico sobre o futuro da humanidade, 29 cientistas de diversos países desenvolveram um sistema para analisar as interações que permitem o funcionamento do planeta. Publicado no site Science Advances, o estudo diz que em seis das nove métricas criadas para estabelecer níveis suportáveis pela Terra já foram ultrapassadas. A ação do homem provocou a grande concentração de carbono, a perda da integridade da biosfera, o uso exagerado da terra e da água e a elevada aplicação de elementos sintéticos e químicos no meio ambiente.
Limites ultrapassados (II)
O estudo explica como os sistemas que fazem a máquina terrestre funcionar estão interligados. A metáfora para explicar a situação atual é que a pressão arterial da Terra está muito elevada e um colapso do organismo é bastante possível. A conclusão óbvia é de mudanças drásticas são necessárias para permitir que a humanidade possa continuar habitando o Planeta. Isso significa rever costumes e práticas em relação à alimentação, energia e consumo de bens.
Verde, de verdade
O Parlamento Europeu e o Conselho Europeu definiram parâmetros para obrigar as empresas a demonstrar efetivamente que seus produtos podem ser classificados como ecológicos, verdes ou sustentáveis. A norma ainda precisa ser votada, mas a ideia é que entre em vigor em 2026. A utilização de créditos de carbono, por exemplo, não servirá como métrica de impacto neutro. A iniciativa tem como foco orientar o consumidor e protegê-lo de práticas de greenwashing – uma maquiagem comum na promoção que as empresas fazem para vender mais.
Navio a metanol
O primeiro navio movido a metanol verde começou a navegar e fará rotas do norte da Europa para o Mar Báltico, com paradas para reabastecimento em Roterdã. A embarcação pertence à multinacional Maersk e faz parte de uma encomenda de 25 unidades semelhantes feitas pela companhia para a Hyundai com o objetivo de reduzir anualmente a emissão de 2,75 milhões de toneladas de carbono. O combustível sustentável é derivado de hidrogênio verde produzido a partir de biogás gerado por esterco. Para segurança da operação, o motor também funciona com diesel.
(Foto: Markus Spiske/Unsplash)
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