Um novo relatório (GWMO 2024) do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) diz que apenas uma redução drástica na geração de resíduos sólidos urbanos garantirá um “futuro habitável” para a humanidade. O estudo estima que o volume de lixo produzido pelo homem tende a aumentar de 2,3 bilhões de toneladas, em 2023, para 3,8 bilhões de toneladas, até 2050.
A análise do PNUMA, que atualiza dados de 2018, diz que, confirmada a tendência de alta, o mundo vai gastar US$ 640 bilhões na gestão de resíduos em 2050. A título de comparação, o gasto em 2020 foi de US$ 252 bilhões. Nesta conta não estão computados impactos financeiros ocultos, com a poluição, e nem despesas com saúde ou a contribuição do acúmulo de lixo no processo de aquecimento global e mudanças climáticas.
Caso o mundo siga no sentido inverso, com mais consciência ambiental e práticas preventivas, poderia estacionar em US$ 270 bilhões os custos anuais líquidos para a gestão de resíduos. Num cenário muito mais positivo, o Planeta poderia “lucrar” até US$ 108 bilhões com o lixo. Para isso será necessário alcançar o desperdício zero, avalia o PNUMA. O caminho até lá inclui consolidar um modelo efetivo e eficaz de economia circular, além de práticas comerciais e de consumo sustentáveis, que contribuam para a correta destinação de resíduos.
Lixo brasileiro
O Brasil é o maior produtor de resíduos urbanos da América Latina e Caribe. Cerca de 40% do que é jogado fora nestas regiões são descartados por brasileiros. A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) estima que a geração anual no país alcançará 100 milhões de toneladas/ano em 2030. Cada brasileiro produz, em média, 343 quilos de lixo por ano. Apenas 4% é reciclado ou reaproveitado.
Combustível do futuro (I)
Nesta semana, o Senado realizou uma audiência pública para cumprir o rito de tramitação de projetos de lei e discutiu uma matéria que regula os combustíveis do futuro, uma iniciativa para reduzir emissões de carbono por veículos à combustão no Brasil. A proposição já aprovada na Câmara dos Deputados abrange incentivos para a produção de biocombustíveis, combustível verde de aviação (SAF), diesel verde, biogás e hidrogênio verde. O texto também estabelece novos limites para a mistura de biocombustíveis ao diesel e de etanol na gasolina. No primeiro caso, o teto passa dos atuais 14% para 20%, em 2030, com a elevação de um ponto percentual por ano. Depois disso, pode ir a 25%. No segundo caso, o patamar varia de 22% a 27%, mas pode alcançar até 35% no futuro.
Combustível do futuro (II)
O projeto de lei estabelece que caberá ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) avaliar a viabilidade das metas de aumento das misturas. A proposição também diz que será possível a adição voluntária de biodiesel em percentual superior ao fixado, mas apenas para atividades como transporte público; transporte ferroviário; navegação interior e marítima; frotas cativas; equipamentos e veículos usados em extração mineral; na geração de energia elétrica; e tratores e maquinários agrícolas. Qualquer iniciativa deve ser comunicada à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Estatuto do Pantanal
Outra matéria que ganhou tração no Senado nesta semana foi o Estatuto do Pantanal. A proposição também foi objeto de uma audiência pública. A ideia é criar um instrumento jurídico próprio para o bioma, que permita disciplinar a conservação, a proteção, a restauração e a exploração sustentável do Pantanal, que é a maior planície alagada do mundo. Houve consenso de que o aquecimento global e as mudanças climáticas exigem uma legislação adequada para a região, mas pesquisadores e representantes do terceiro setor querem aprofundar o debate.
Madeira engenheirada (I)
Em tempos de responsabilidade ambiental pode parecer paradoxal que o uso intensivo de madeira em grandes edificações virou uma tendência global, com prédios de variadas alturas sendo projetados e construídos. Na Suécia, há uma torre de turbina eólica de 105 metros feita de lâminas. A matéria-prima não são as toras retiradas da floresta e sim a madeira engenheirada, produto que deve movimentar US$ 6,3 bilhões até 2027, de acordo com estimativa da consultoria Technavio. A madeira engenheirada é resultado do processamento industrial do pinus, por exemplo.
Madeira engenheirada (II)
O produto final da industrialização da madeira tem resistência suficiente para substituir o cimento e o aço em pilares, vigas, lajes, paredes e painéis estruturais. As três tecnologias mais usadas são: Glue Laminated Timber (Madeira Laminada Colada), Laminated Veneer Lumber (Madeira Microlaminada) e Cross Laminated Timber (Madeira Laminada Colada Cruzada). Além da resistência e leveza, outro benefício é a redução de resíduos da construção, um dos grandes poluidores de centros urbanos.
SAF de etanol
O Brasil responde por metade do comércio global de etanol e deve ser um dos principais fornecedores do produto para a primeira planta comercial de produção de combustível sustentável de aviação (SAF). A unidade foi instalada na Georgia (EUA) e opera em fase experimental, desde janeiro, uma tecnologia chamada ATJ (Alcohol-to-Jet). Os americanos projetam que até 2030 haverá uma demanda de 11 bilhões de litros da bioquerosene. Uma parte será do etanol será derivada da cana e outra parte retirada do milho.
(Foto: Gary Chan/Unsplash)
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