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18/04/2024



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O Livro das Horas

 O Livro das Horas

Este artigo foi feito em parceria com o jornalista e escritor André Molina, autor dos livros “O Divã do Rock Brasileiro: a Música Jovem da Década de 80” e “Música Urbana: o início de uma legião”, já resenhado nesta coluna Frente Fria. Nosso assunto é o lançamento paulatino do “Livro das Horas”: o novo álbum da FINIS AFRICAE.

Finis Africae é considerada a banda melhor sucedida da segunda geração do rock oitentista brasiliense. Após fazer parte da coletânea Rumores (1985) e lançar um EP, foi contratada pela gravadora EMI por indicação do Renato Russo, líder da Legião Urbana, e gravou um LP.

Ao emplacar sucessos como “Armadilha”, “Ética”, “Van Gogh”, “Deus Ateu” e “Mentiras” a banda realizou turnês e shows pelo Brasil e participou de programas de auditório como o Cassino do Chacrinha e o Perdidos na Noite.

Cultuada no meio underground e pelo público fiel do rock nacional, o Finis Africae continua em atividade. Lançou o novo álbum com singles como “Santa Júlia” e “Abrolhos”, já disponíveis desde 2021 no Youtube. E acabaram de gravar a música “Mundo Moderno”. Além de se apresentar recentemente no Circo Voador, no Rio de Janeiro, abrindo o show de 40 anos do IRA! Sobre este evento, leia o texto de Paulo Schwin, do portal Rock Press:

 

 

“Em show enérgico no lendário Circo Voador, O IRA! provou com sobras sua relevância para o rock nacional. A apresentação fez parte da tour de aniversário de 40 anos da banda que segue pelo Brasil. A noite ainda contou com outros dois veteranos da geração anos 1980, a banda brasiliense Finis Africae e o DJ José Roberto Mahr. Saiba mais na matéria que segue.

Do lado de fora do Circo, a agitação era boa, muita gente na fila na probabilidade de testemunhar uma noite que se anunciava histórica. Já dentro do Circo, muitos amigos se encontrando e falando das expectativas para os shows de Ira! e Finis Africae.

No palco, a noite começou com um excelente show da banda brasiliense ‘Finis Africae’, que tocou por cerca de uma hora. Com uma banda afiadíssima, formada pelos guitarristas Cesar Ninne, que foi do lendário grupo Coquetel Molotov (ele inclusive estava usando uma camiseta dessa banda), e Nelsinho Cerqueira, o baixista Tony Miranda, o baterista Robson Riva e o vocalista original do grupo, Eduardo de Moraes, último a entrar no palco, com a banda já mandando ver em “Pretérito”, canção de 1987, ano de lançamento do primeiro disco da banda. “Mentiras”, “Armadilha”, (uma das mais festejadas), “Máquinas”, “Vícios”, e o single “Santa Julia”, além do mais recente lançamento, a ótima faixa “Mundo Moderno”, o set, ainda prestou homenagem a David Bowie com “The Man Who Sold The World” e teve seu encerramento com a crítica “Deus Ateu”. Com esse repertorio, o Finis Africae formou um show preciso e muito bom, que tornou a espera pelo Ira! muito leve e divertida.”

No ano passado, Eduardo de Moraes, o vocalista e compositor do Finis concedeu esta entrevista inédita para o jornalista André Molina, em que dispõe sobre a nova formação e a longa história da banda, além de falar sobre a parceria com a banda curitibana Estacas, que conta com músicos, poetas e escritores do rock paranaense. Afinal, Eduardo de Moraes mora em Curitiba há uns quatro anos, já podendo ser considerado um cidadão da terra das araucárias.

Atualmente o Finis Africae tem você como membro da formação dos Anos 80. Como foi o trabalho de reestruturação da banda e como você optou pela nova formação? Poderia falar sobre os integrantes mais novos?
É interessante falar sobre isso. Não faço parte da formação original do grupo. Havia outro vocalista. Convidaram-me para fazer parte do grupo um ano após o surgimento e já havia gravado um disco, uma coletânea chamada “Rumores” com mais 03 bandas de Brasília. Quando entrei para o grupo era acompanhado por Neto Pavanelli (baixo), José Flores (guitarra) e Ronaldo Pereira (bateria). Na segunda formação já no Rio de Janeiro, contávamos com Roberto Medeiros (baixo), César Ninne (guitarra) e Mac Gregor (teclado). Negrete, ex-Legião Urbana substituiu o Roberto por quase um ano. O tecladista se desligou do grupo e no baixo entrou Wlad Pinto, seguido de Olmar Lopes (hoje também morando em Curitiba) e finalmente Tony Miranda. Atualmente contamos com Robson Riva na bateria no lugar do Ronaldo, Nelson Milesi na guitarra junto com o Cesar Ninne, Tony Miranda no baixo e eu.

 

E como foi a passagem do ex-baixista da Legião Urbana, Renato Rocha (Negrete) no Finis Africae?
Foi entre o ano de 2000 e 2001. A primeira vez eu estava passeando com a família e me cumprimentou um rapaz de boné e óculos escuros. Não reconheci e me questionou se não havia reconhecido e respondi que não. Aí ele disse quem era. Eu não o encontrava há muitos anos. Foi em Pedra de Guaratiba. Em seguida falei com o nosso produtor que tinha encontrado o Negrete. E uma semana depois os jornais publicaram que o Finis realizaria um show com o ex-baixista da Legião Urbana e nem tinha comentado nada sobre isto com o Negrete. Aí voltei para Pedras de Guaratiba para desfazer a confusão, argumentando que se tratava de uma interpretação errada de um jornalista. Aí ele topou, disse que não precisava fazer este barulho e foi no estúdio ensaiar. Estávamos com o Fred Nascimento (Tantra e guitarrista de apoio de turnês da Legião Urbana) e pintou a MTV no ensaio. Entrevistou o Negrete e foi embora (risos). Pelo menos divulgaram o show e foi super bom, com canções do Finis e da Legião. Inclusive o Finis gravou “Eu Sei” e “Conexão Amazônica” da Legião Urbana. E foi rolando. Começamos a fazer shows. Em 2001 nosso baixista na época resolveu sair para morar em Nova Iorque. Em 2001, o Negrete foi oficializado na banda. Neste disco, que foi produzido pela Fundação Cultural de Brasília, o Negrete gravou os baixos. Fizemos shows em Brasília. Abrimos para o Capital Inicial. Ele ficou uma boa temporada, com shows no Rio de Janeiro. Agora não lembro bem quando começou e quando terminou. Antes do Finis Africae é bom lembrar que toquei com o Negrete em um trio, com Manoel Antônio Fragoso.

 

Mesmo com este crítico período da pandemia do Coronavírus que atinge principalmente a área cultural, o Finis Africae vem produzindo bastante. Recentemente lançou os singles “Santa Júlia” e “Abrolhos”. Poderia falar sobre estas novas composições? Você acha que seguem o estilo tradicional da banda?
É diferente. Você vai envelhecendo e as coisas mudam. Mantemos algumas características que fazem parte da personalidade de cada um. Fizemos uma proposta de criar um disco que se chama “O Livro das Horas” e desenvolvemos repertório, além de gravar ideias. A ideia era lançar em 2020 nas plataformas musicais uma música por mês até o fim do ano. Veio a pandemia e não deu. Terminamos pelo computador e de forma remota.

 

Recentemente o Finis participou do “Caxias Music Festival” de maneira remota por meio de live. Como você avalia esta nova experiência?
Tivemos alguns problemas na produção. Concentramo-nos para fazer um show enxuto e ensaiamos. O som não foi o mesmo que tivemos no estúdio. E nos deu um sentimento grande de insegurança. Mais do que olhar as cadeiras vazias do teatro. O Ronaldo Pereira nos deu uma ajuda muito grande na produção e deu tudo certo.

 

Sendo contemporâneo de bandas como Legião Urbana e Capital Inicial, como você avalia o Finis Africae na história do rock nacional?
Um grupo que mostrou ser possível pertencer a um movimento cultural mantendo uma identidade própria e abrindo outras perspectivas dentro do mesmo universo. Ou seja, a prova da possibilidade da existência de diferentes vertentes concomitantes.

 

Você poderia recordar o período inicial do Finis. Como ingressou na banda? Antes do Finis você passou por outros grupos?
Passei por diversos grupos: Objetos Oblíquos, Liberdade Condicional, Hosbond Cama, Virgens, entre outros. Algumas experiências foram breves aventuras, dos citados o mais duradouro foi Virgens, com Loro Jones (primeiro guitarrista do Capital Inicial).

 

Como você entrou na turma de Brasília?
Cheguei a Brasília em 1979 e morei até 1980. Nesse período não conhecia o pessoal da turma e me dediquei à escola, estudar violão clássico e fazer ginástica. Em 1981 fui estudar Agronomia em Viçosa e fiquei até 1982. Em 1983 voltei a Brasília para dar continuidade ao curso de Engenharia Agronômica na UnB. Nessa época reencontrei um primo, filho de diplomata e que me apresentou ao pessoal, aí as coisas foram rolando.

 

Para quem não tem muita afinidade com o Finis, gostaria de citar algum álbum da banda?
Foi o nosso primeiro gravado de forma independente. O álbum verde, que rompeu barreiras e afirmou o grupo que estava numa fase adolescente, criando a identidade. Gravado em um formato que ninguém fazia na época, com seis faixas em 45 rotações. A qualidade do som obtida foi muito superior. Gravado em 30 horas: 24 de gravação e 06 de mixagem, em um estúdio que existe em São Paulo até hoje, o Bemol. Ao contrário do “Rumores”, o disco verde conseguiu entrar no mainstream. O Marcelo Mansur que era programador da Transamérica colocou a canção “Armadilha” em nível nacional. Foi gravado pela Sebo do Disco, de Taguatinga. Foi o disco que nos impulsionou e nos fez ter coragem para partir para o Rio de Janeiro. Nesta época eu não tinha nem onde morar. Fizemos vários bares grandes de São Paulo também.

 

E o álbum lançado pela EMI?
Quando entramos para gravar em uma grande gravadora como EMI acho que perdemos um pouco em naturalidade e espontaneidade. Nossa relação com o produtor Mairton Bahia foi excelente, mas a forma de se trabalhar em uma grande gravadora segue padrões e estruturas pré-moldadas. Não interferiram muito no nosso som, mas se levava muito tempo para gravar. Perdia-se o impulso inicial que é importante. Acho o som do álbum verde mais brilhante. O disco da EMI ficou meio abafado. Um disco que tinha uma expectativa enorme. Quando isso acontece é grande o risco de decepção. Porém, o apelo de público foi maior devido à visibilidade. Nunca atingimos um público na proporção que foi atingido quando saiu este disco. Gravamos Chacrinha, Fantástico, Programa da Xuxa, rádio, shows promocionais.

 

A presença de bandas de Brasília como Legião Urbana e Plebe Rude na EMI contribui para abrir as portas ao Finis Africae?
Teve influência. Principalmente do Renato Russo que estava no auge, quando a Legião gravou o álbum “Dois” (1986). Ele possuía muita influência e indicava as bandas, como “Arte no Escuro”. Ele deu força.

 

Atualmente, além do Finis, você tem parceria com músicos e poetas de Curitiba (cidade onde reside atualmente) no projeto “Estacas”. Como está este novo trabalho? Já foram lançados três singles.
Foi o trabalho mais espontâneo e bonito que poderia acontecer quando me mudei para Curitiba. Por intermédio do amigo Kadu Lambach (paranaense e primeiro guitarrista da Legião Urbana), que me apresentou estes poetas e músicos da capital paranaense. De uma mesa de bar fomos para a casa de quem morava mais perto e com violão, voz e papel começamos a fazer música. Vai ficar um trabalho pandêmico. Já gravamos três canções e o trabalho ficou tão satisfatório que decidimos estabelecer uma parceria e incluir estas canções no novo álbum do Finis, com a participação do Estacas. O Estacas surgiu no Bar da Tetê, na região do Alto da XV, e conta com o Ferreira, da banda Beijo AA Força e Maxixe Machine, o poeta Sergio Viralobos que foi da Contrabanda, grupo seminal do punk curitibano, o Kadu Lambach, curitibano que participou da fundação da Legião Urbana e o jornalista e escritor André Molina.

 

Você que já teve experiência trabalhando com uma grande gravadora (EMI), como analisa atualmente a indústria da música?
Tradicionalmente atrasada e colonialista. Encontra-se perdida sem saber exatamente como atuar dentro desse novo cenário tecnológico que afetou profundamente a economia, dando grande espaço para artistas independentes chegar ao seu público sem intermediários ou com outros menos avaros. Houve um abalo que estremeceu o cartel fonográfico. Existe atitude mais desesperada que impedir a divulgação de Lives via Youtube?

 

Não é difícil perceber que muitos músicos consagrados estão um pouco perdidos com a nova forma de consumir música.
Certamente, a novidade é para todos. Meu filho de 18 anos quase nunca ouve uma música até o fim. Esse bombardeio de informações gerou uma juventude extremamente ansiosa. Quando eu tinha a idade dele, deitava no chão do quarto e depois de ouvir o Lado A me levantava só para trocar de lado o disco e ouvia até a última música. Era um ritual que tinha o seu próprio tempo. O artista que vivenciou esse tempo tem que estudar o novo comportamento do público e tentar se adequar.

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