A morte do Papa Francisco ressuscitou a discussão sobre o papel que ele desempenhou na defesa do meio ambiente e no combate às mudanças climáticas. O portal Vatican News, por exemplo, resgata a importância da encíclica Laudato si’, que trata da questão ambiental e foi considerada “a peça mais importante da crítica intelectual em nosso tempo”.
No texto, escrito em 2015, Francisco afirma que a mudança climática é real e resulta da atividade humana. A encíclica carrega frases marcantes, como: “Nunca ferimos e maltratamos tanto nossa casa comum como nos últimos duzentos anos”; “Reduzir os gases de efeito estufa requer honestidade, coragem e responsabilidade”; “A Terra, nossa casa, está começando a parecer cada vez mais uma imensa pilha de sujeira”.
A publicação do Vaticano destaca que a encíclica é anterior ao Acordo de Paris e aponta que ela pode ter inspirado líderes globais “a construir um consenso no período que antecedeu a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2015, em Paris, na qual 196 países assinaram um tratado comprometendo-se a manter o aquecimento global abaixo de 2°C”.
O alerta de Francisco, escrito há uma década, reconhece que os problemas do mundo “são grandes e urgentes”, mas, à época, ele ainda via esperança: “A humanidade ainda tem a capacidade de trabalhar em conjunto na construção de nossa casa comum… Verdadeiramente, muito pode ser feito!”.
Apesar da esperança, o Papa não viu avanços significativos na resposta à crise climática. Ele voltou ao tema em 2023, no documento Laudate Deum. A mensagem afirma: “Com o passar do tempo, percebi que nossas respostas não foram adequadas, enquanto o mundo em que vivemos está entrando em colapso e pode estar se aproximando do ponto de ruptura”.
Etanol de sorgo (I)
O sorgo entrou de vez na cadeia produtiva de etanol. O cereal tornou-se mais uma opção de matéria-prima para ampliar a oferta do biocombustível, ao lado da cana-de-açúcar e do milho. A Inpasa, líder na produção de etanol de milho no Brasil, já adaptou suas usinas para também processar o sorgo. As modificações são mínimas. Com essa iniciativa, a empresa pretende estruturar a oferta do produto, que ainda é pouco explorado no país. Enquanto o milho rende 120 milhões de toneladas por ano, o sorgo não passa de 4 milhões.
Etanol de sorgo (II)
O sorgo tem alto valor nutricional, contribui para a segurança alimentar e é um alimento bastante utilizado na África e na Ásia. No Brasil, é mais usado para consumo animal do que humano, sendo empregado principalmente como silagem, pastejo e na produção de rações. A Inpasa enxerga nessa característica uma nova fonte de renda: a produção de etanol gera um subproduto conhecido como DDGS, rico em proteína e fibras. Um experimento com esse produto mostrou que o tempo para ganho de peso do gado pode cair pela metade, e as emissões de metano (arroto do boi) são drasticamente reduzidas.
The Oscar goes to…
Três pesquisadores latino-americanos receberam, no final de abril, o Oscar Verde — prêmio concedido pela Whitley Fund for Nature (WFN), do Reino Unido, a iniciativas de conservação da natureza. Os projetos premiados são liderados por Yara Barros (Brasil), Andrés Link (Colômbia) e Federico Kacoliris (Argentina). A brasileira dirige o Projeto Onças do Iguaçu, criado para proteger os felinos no Parque Nacional do Iguaçu. Link atua na preservação do macaco-aranha, e Kacoliris trabalha com duas espécies de anfíbios ameaçados de extinção. Uma reportagem da BBC News ressalta que “os três não apenas protegem espécies ameaçadas, mas também constroem ecossistemas resilientes e futuros sustentáveis para as comunidades”.
Moda reciclada
A Syre, empresa apoiada pela H&M — uma das maiores marcas globais de fast fashion — assinou um acordo com a província de Binh Dinh, no Vietnã, para instalar uma usina de reciclagem de produtos têxteis. O país asiático foi escolhido por sua posição estratégica na cadeia de suprimentos da indústria do vestuário. A Syre pretende atuar em outras regiões do mundo para criar uma solução de reciclagem e economia circular, reaproveitando matérias-primas utilizadas na produção de roupas. A indústria da moda é responsável por 8% das emissões de gases que provocam o aquecimento global.
HSBC sob pressão (I)
Segundo o portal americano ESGToday, um grupo de 30 investidores institucionais, que aplicam US$ 1,6 trilhão no HSBC, está pressionando o banco a reafirmar seus compromissos de zerar as emissões líquidas de suas operações até 2030. Em fevereiro, a instituição anunciou a intenção de adiar suas metas climáticas para 2050, alegando “o ritmo mais lento da transição em toda a economia real”. Em novembro de 2024, o HSBC perdeu sua diretora de Sustentabilidade, e a área foi excluída do Comitê Executivo do grupo.
HSBC sob pressão (II)
“Este grupo de investidores está pedindo ao banco que afirme urgentemente que continuará a desenvolver seu progresso climático existente, em vez de retroceder, e que empreenda esse processo em diálogo com os acionistas”, informa um comunicado da ShareAction, organização britânica que lidera o manifesto. A entidade é focada na promoção de investimentos responsáveis, no enfrentamento das mudanças climáticas e na defesa da agenda ESG.
(Foto: Ashwin Vaswani/Unsplash)
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