A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29) deve estabelecer uma regra geral para o mercado global de créditos de carbono, apesar de posições controversas. A ideia é regular as negociações entre empresas e também acordos bilaterais, entre países.
O mecanismo existe desde a adoção do Acordo de Paris, em 2015, e permite compensações de emissões de gases de efeito estufa (GEE) por meio de projetos ambientais. Agora, a regulamentação deverá estabelecer garantias, transparência e eficácia nas trocas de créditos de carbono entre as nações. No contexto privado – ou mercado voluntário -, os negócios passam a ter uma supervisão da ONU.
Apesar de ser um avanço fundamental para o controle do aquecimento global, a implementação de disposições internacionais não tira da tela as preocupações sobre o “greenwashing”. ONGs e ambientalistas sustentam que o sistema permite que se reivindique neutralidade de carbono simplesmente financiando projetos compensatórios, sem reduzir emissões.
Para o Greenpeace, o mercado de carbono representa uma brecha a ser explorada por empresas poluidoras. Em relação aos acordos bilaterais, os críticos argumentam que o mecanismo, mesmo regulado, pode encorajar alguns países, em especial os produtores de petróleo, a comprar créditos para compensar emissões, sem reduzi-las diretamente.
Com a regulação internacional, todos os países terão que alinhar as legislações nacionais de crédito de carbono com os padrões da ONU. Até o fechamento desta coluna, o Senado Federal ainda discutia o projeto de lei 182/24, que institui o mercado regulado no Brasil. As discussões indicavam para a aprovação da matéria.
Suicídio planetário (I)
O climatologista brasileiro Carlos Nobre, uma das maiores autoridades mundiais sobre mudanças climáticas, considera insuficientes as primeiras propostas para reduzir o aquecimento global apresentadas na 29ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29), realizada em Baku (Azerbaijão). Na visão dele, mantido o ritmo atual, até 2050 o aumento da temperatura do mundo chegará em 2,5°C.
Suicídio planetário (II)
De acordo com Carlos Nobre, o mundo experimenta há 16 meses consecutivos temperaturas acima de 1,5°C, que foi a meta estabelecida no Acordo de Paris em 2015. “Existe um enorme risco de não conseguirmos reduzir isso. Se ficarmos mais três anos com esse aumento, a temperatura não baixará mais”, afirmou Nobre, acrescentando que isso “representaria um verdadeiro suicídio planetário”
Alarme Pnuma
O alarme sobre a aceleração do aquecimento global também foi ativado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Para a organização, o planeta pode aquecer até 3,1°C até o final do século. A estimativa é baseada no volume atual de emissões globais de gases de efeito estufa (GEE). Em 2023, foram 57,1 gigatoneladas de CO2 e o volume precisaria cair drasticamente até 2030 para evitar novas ondas de calor extremo.
Floresta bioeconômica (I)
Pedro Medrado Krainovic, Jean Paul Metzger, Nathália C. Nascimento, Ricardo Ribeiro Rodrigues e Pedro H. S. Brancalion, do Instituto de Estudos Avançados (IEA/USP), assinam um artigo no site Springer Nature sobre restauração bioeconômica florestal. Eles defendem que a recomposição de florestas tropicais, para a exploração de madeira plantada ou produtos não madeireiros, pode gerar uma renda até dez vezes maior do que o plantio de soja ou de pastagens, que são as culturas que mais promovem o desmatamento. A renda viria de créditos de carbono e produtos biotecnológicos para fármacos e cosméticos, além de sementes, polpa de fruta, óleos e essências.
Floresta bioeconômica (II)
Os autores utilizam os seguintes números: o lucro por hectare de pastagem fica entre US$ 60 e US$ 120 por ano, enquanto o cultivo de soja alcança picos entre US$ 104 e US$ 135. De outra parte, a colheita de árvores plantadas ou do manejo de produtos florestais não madeireiros (PFNM) pode gerar uma renda anual que vai de US$ 300 a US$ 650 por hectare. Segundo o estudo, o investimento para restaurar terras degradadas varia entre US$ 2.500 e US$ 7.000 por hectare, na Amazônia, e os períodos de retorno vão de 2 a 13 anos, com ganhos de 10% a 111%.
H2v do Ceará (I)
O Conselho Nacional das Zonas de Processamento de Exportação (CZPE) aprovou e o governo brasileiro liberou, no final de outubro, o início da primeira fase do projeto industrial para a produção de hidrogênio verde (H2v) da empresa australiana Fortescue. A planta será instalada na ZPE do Complexo de Pecém, no Ceará. O investimento total estimado pela multinacional é de R$ 20 bilhões para a geração de até 500 toneladas diárias de H2v. A companhia ainda está finalizando os projetos de engenharia do empreendimento, que consumirá 1,2 MW de energia renovável.
H2v do Ceará (II)
O objetivo do Ceará é se transformar no principal hub de exportação de hidrogênio verde do Brasil. Segundo o governo cearense, o Estado já assinou 39 memorandos de entendimento para atrair capital privado para a produção do combustível, e tem seis pré-contratos firmados com empresas interessadas em se instalar no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP). O parque tem entre seus sócios o Porto de Roterdã, que é o principal terminal portuário da Europa.
ESG público
Mais uma organização pública anunciou a adesão aos pilares ESG. Desta vez é a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que deu início ao programa de implantação da agenda. De acordo com o comunicado do órgão, o objetivo é incorporar na cultura organizacional a pauta ESG de forma estrutural, “garantindo que as concessões, os transportes, os processos regulatórios e processuais atendam aos padrões mais elevados de responsabilidade ambiental, social e de governança”.
(Foto: Peter Werkman/Unsplash)
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