Hoje, não há uma única pessoa minimamente informada que não se sinta impactada e sensibilizada com a tragédia climática que varreu boa parte do Rio Grande do Sul, causando muita destruição e, lamentavelmente, dezenas de mortes. A proporção do desastre que atingiu os gaúchos ampliou a visibilidade sobre aquilo que a natureza em fúria é capaz de fazer.
Este evento se soma a outros dramas brasileiros recentes relacionados ao clima, como as ocorrências na região serrana do Rio de Janeiro e no litoral paulista, além de fenômenos extraordinários no norte do País. No ano passado, a bacia do rio Amazonas conviveu com a maior seca em 120 anos, e em 2024 o Acre teve a segunda maior inundação da história.
Episódios naturais extremos ocorrem de tempos em tempos, mas é inegável que os períodos estão ficando mais curtos e os impactos mais severos. A aceleração, por óbvio, tem relação com as mudanças climáticas. Os alertas sobre seus efeitos vêm sendo divulgados há décadas, mas de concreto poucas coisas foram feitas no Brasil e no mundo.
A lição que fica da tragédia gaúcha não é sobre formas de prevenir os desastres, porque este tempo já passou e teremos que conviver com as calamidades, e sim sobre como recuperar os estragos rapidamente para minimizar o sofrimento das pessoas. Os planos de contingência não dão mais conta da grandeza das desgraças. Do poder público, é preciso ter menos burocracia, mais recursos e um sistema de informação eficaz. Do lado da sociedade, mais consciência ambiental.
Negócios e sustentabilidade (I)
Uma pesquisa da consultoria EY (Ernest & Young) com 1.200 executivos, em 21 países, informa que o assunto sustentabilidade ganhou algum fôlego dentro das empresas nos últimos 12 meses. Para 54% dos entrevistados o tema subiu na escala de prioridades corporativas, enquanto 23% disseram que a questão foi despriorizada. O levantamento também ouviu 300 investidores institucionais (normalmente ligados ao mercado financeiro) e apenas 28% relataram que a sustentabilidade é uma prioridade maior do que há um ano. Para 35% deste público a prioridade ficou menor do que era.
Negócios e sustentabilidade (II)
A grande maioria dos executivos (73%) entende que os investidores estão mais preocupados com os resultados financeiros de curto prazo do que com as métricas de desempenho de longo prazo, que envolvem práticas ligadas à sustentabilidade. Neste cenário, apenas 16% disseram que a descarbonização dos modelos de negócios está no top-3 das prioridades estratégicas para os próximos 12 meses. Neste espaço de tempo, a premência é por investimentos em Inteligência Artificial e melhoria da produtividade.
Negócios e sustentabilidade (III)
Entre as concordâncias dos dois grupos pesquisados pela EY está o entendimento de que muitas empresas estão praticando o greenhushing, uma política menos publicitária e mais rigorosa para divulgação de relatórios ambientais, e que isso decorre do cerco ao greenwashing, que é a maquiagem de dados. Executivos (74%) e investidores (73%) também concordaram que o comportamento dos consumidores ainda não leva em conta aspectos mais profundos ligados à sustentabilidade.
Mais ativos sustentáveis
Apesar do relativo descrédito com a questão da sustentabilidade, o mercado financeiro viu crescer as aplicações em ativos sustentáveis. No primeiro trimestre deste ano, os investimentos globais em títulos verdes subiram 36% em relação ao mesmo período de 2023, chegando a US$ 281 bilhões. O movimento foi relatado pela Moody’s Investors Service, que prevê para este ano um movimento de US$ 950 bilhões em aplicações sustentáveis.
Cadeia poluente
A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos fez uma projeção que aponta que as cadeias de suprimentos são, geralmente, responsáveis por mais de 90% das emissões de gases de efeito estufa de uma organização. São emissões indiretas (Escopo 3), mas que acabam impactando o balanço de sustentabilidade de muitas empresas. Uma parte significativa da poluição está na logística e no transporte da matéria-prima e do produto final. Mas em relação a este problema, apenas 27% dos embarcadores americanos dizem que estão atualizando suas estratégias para cumprir metas ambientais sustentáveis.
Normas e padrões (I)
O universo corporativo segue perseguindo normas e padrões universais para a elaboração de relatórios de sustentabilidade que atendam aos requisitos da International Sustainability Standards Board (ISSB) e outras exigências governamentais. Na Europa, o processo segue avançando e a Fundação IFRS e o European Financial Reporting Advisory Group elaboraram um guia ilustrativo para corporações que são obrigadas a relatar os impactos das suas atividades ou queiram fazer divulgações voluntárias.
Normas e padrões (II)
Segundo as duas organizações, a ideia do guia é diminuir a complexidade na elaboração de relatórios, evitar a fragmentação e a duplicação de dados, além de permitir que as empresas “coletem, governem e controlem” dados que sejam realmente úteis para orientar suas decisões. A expectativa é que a publicação facilite a vida de “dezenas de milhares” de empresas nos próximos anos.
Água e esgoto
Maringá (PR), São José do Rio Preto (SP) e Campinas (SP) são as únicas cidades brasileiras que atingiram a meta estabelecida no marco legal do saneamento, de 2020, de oferecer 99% de acesso à água tratada e 90% de coleta e tratamento de esgoto. A informação é do 16º Ranking do Saneamento do Instituto Trata Brasil (ITB), que analisa a situação dos 100 municípios mais populosos do País, com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).
(Foto: Kelly Sikkema/Unsplash)
Leia outras colunas do Silvio Lohmann aqui.