O último relatório sobre Riscos Globais do Fórum Econômico Mundial (WEF) diz que o mundo está enfrentando um conjunto de ameaças que “parecem totalmente novas” e outras “estranhamente familiares”, e que elas convergem para “moldar uma década única, incerta e turbulenta”.
As conhecidas são a inflação, a crise de custo de vida, guerras comerciais, saídas de capital de mercados emergentes, agitação social generalizada e confrontos geopolíticos. Aliado a isso, o sinal de alerta está ligado em relação aos níveis das dívidas, a probabilidade de baixo crescimento global e desglobalização. O fórum cita também os problemas relacionados à rápida disseminação de tecnologias de dupla aplicação (civil e militar) e coloca um holofote sobre as questões ambientais.
Entre os 10 maiores riscos identificados para a próxima década, seis tratam do meio ambiente, com destaque para as dificuldades para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas, perda de biodiversidade, colapso de ecossistemas e crise de recursos naturais.
O relatório de Riscos Globais desenha uma nova era econômica que pode trazer “crescente divergência entre países ricos e pobres”, e “o primeiro retrocesso no desenvolvimento humano em décadas”.
Nova energia global (I)
O Índice de Transição Energética (ETI) do Fórum Econômico Mundial (WEF), que avalia 120 países em relação à mudança e modernização das fontes de energia, mostra que 113 tiveram avanços desde 2014, quando a medição começou a ser feita. O relatório de 2023 revela que somente 41 países fizeram progressos constantes em uma década e apenas 55 avançaram mais de 10 pontos na avaliação sobre o desenvolvimento de energias limpas e sustentáveis.
Nova energia global (II)
O relatório do WEF indica que a Suécia lidera o ranking global de transição energética, seguida pela Dinamarca e Noruega. Entre as 10 maiores economias do mundo, apenas a França aparece no top 10. O Brasil está na 14ª. posição, atrás da Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido. O Fórum destaca as performances da China, Índia e Indonésia que “notavelmente, tiveram fortes melhorias”.
Valor dos valores (I)
“Neste momento, grande parte do mundo dos negócios está dando valor zero à sustentabilidade, quando nada poderia estar mais longe da verdade. Por que isso acontece? A primeira e mais importante razão é que a maioria do valor da sustentabilidade está submerso – escondido da vista. Para aflorar, temos que ver as coisas de forma diferente”. A frase é do autor do livro Valor dos Valores (The value of values), Daniel Aronson. Para exemplificar sua teoria, ele fala que uma medida empresarial mais sustentável pode vir da decisão de racionalizar a compra de insumos e reduzir o volume de resíduos e desperdícios.
Valor dos valores (II)
Aronson sustenta que estas atitudes por si só já seriam sustentáveis, mas não geram impacto significativo às finanças porque faltam outras mensurações. Para ele, é preciso contabilizar economias como a redução da burocracia de compra, de pagamentos, de transporte e de armazenagem. “Nenhum desses benefícios é intangível ou fofo”, argumenta. O especialista afirma que não é necessário só “fazer a coisa certa porque é a coisa certa a fazer” e que a sustentabilidade tem a ver com ganhos comerciais. “Ao aflorá-los e quantificá-los, os profissionais de sustentabilidade podem ajudar empresas a realmente enxergar o valor dos valores”, aconselha.
Europeus elétricos (I)
A ACC (Automotive Cells Company) captou US$ 4,7 bilhões em linhas de créditos chamadas de verdes para a construção de três novas gigafábricas que vão produzir baterias para veículos elétricos. As unidades serão instaladas na França, Alemanha e Itália. A companhia foi criada em 2020 pelo conglomerado de marcas Stellantis e a TotalEnergies, e a Mercedes-Benz entrou no negócio no ano seguinte. A primeira planta do consórcio foi inaugurada no ano passado em território francês.
Europeus elétricos (II)
O anúncio da captação bilionária da ACC é uma das respostas dos europeus ao protagonismo chinês na produção de baterias para veículos elétricos. Em janeiro, a fabricante sueca Northvolt, que já opera uma gigafábrica de baterias nas proximidades do pólo ártico, informou que fechou um acordo com 23 instituições financeiras para acessar um “empréstimo verde” de US$ 5 bilhões para expandir sua operação e instalar uma grande unidade de reciclagem. A Europa quer encerrar a produção de veículos à combustão até 2035. Hoje, o mercado automotivo do continente gira em torno de 15 milhões de unidades por ano.
Descarbonização aérea
A Embraer se associou ao United Airlines Ventures (UAV), um fundo de investimentos que já captou US$ 200 milhões para pesquisa e desenvolvimento do combustível de aviação sustentável (SAF). Também fazem parte da iniciativa da aérea americana empresas como a Aircastle, Air New Zealand, Google, HIS, Natixis Corporate e Investment Banking, Safran Corporate Ventures e Technip Energies. Os aviões são responsáveis por cerca de 3% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) e a indústria investe para tentar descarbonizar suas operações.
Biodiversidade britânica
O Reino Unido colocou em vigor uma legislação para forçar que projetos de construções habitacionais, empresariais e de infraestrutura contribuam para restaurar a biodiversidade. Seja nos locais de execução ou fora deles, os empreendimentos terão que recuperar 10% a mais do que o impacto que causarem à fauna e à flora. É o chamado Ganho Líquido de Biodiversidade (GNB, na sigla em inglês).
(Foto: Markus Spiske/Unsplash)
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