Deu boi na linha. A Procuradora-Geral de Nova York Letitia James entrou com um processo contra a JBS USA alegando que a companhia “engana o público” na divulgação do impacto ambiental de suas operações.
O Estado americano sustenta que a empresa usou de “greenwashing” e “declarações falsas” na campanha “Net Zero by 2040” para explorar a preferência dos consumidores por marcas amigáveis ao meio ambiente, e pede que a JBS devolva todo o lucro com as práticas recentes. A companhia se defendeu informando que mantém as metas de sustentabilidade e redução de emissões de CO2, mesmo com planos de ampliar a produção de carne, o que, em tese, aumenta a pegada de carbono.
O caso da JBS EUA coloca mais luz sobre a regularidade das informações divulgadas pelas companhias em relação às práticas ambientais sustentáveis. A vigilância não abrange apenas o interesse dos consumidores. Uma pesquisa feita pela PwC no ano passado com 340 grandes investidores globais revela que 94% dos entrevistados desconfiam de relatórios corporativos de sustentabilidade, em razão de dados não comprovados. No Brasil, 98% têm dúvidas sobre as informações reportadas.
“Os investidores dependem de informações de diversas fontes, incluindo empresas e terceiros, para tomar decisões de investimento. Mas eles fazem isso em um ambiente de confiança diminuída”, avalia da PwC.
Padrões de informação
A consultoria PwC sugere que “para atender às demandas dos investidores por melhores informações, as empresas devem se comprometer novamente a construir confiança no que importa”. Por isso, aconselha as companhias interessadas em atrair investimentos a adotar em relatórios de gestão os requisitos estabelecidos pela Diretiva de Relatório de Sustentabilidade Corporativa (CSRD), da União Europeia, e normas do International Sustainability Standards Board (ISSB), organização da Fundação IRFS (International Financial Reporting Standards), que é responsável pelos padrões de contabilidade utilizados globalmente.
Exemplos de greenwashing (I)
A suspeita que recai sobre a propaganda da JBS é apenas um caso entre milhares de situações de desconfiança sobre comunicados de corporações globais que dizem aderir à agenda verde. A Apple, por exemplo, ganhou aplausos ao divulgar em vídeo o seu relatório de sustentabilidade no lançamento do Iphone 15, mas recebeu críticas por não falar sobre a destinação dos milhões de aparelhos obsoletos da marca.
Exemplos de greenwashing (II)
Uma campanha publicitária “verde” da Lufthansa foi proibida no Reino Unido e sua subsidiária, a Australian Airlines, foi condenada por anúncio que levava o público a entender que a empresa era “amiga do clima” em razão do uso do combustível sustentável de aviação (SAF) em algumas linhas. Petronas, Shell, Repsol e outras companhias do setor de petróleo respondem questionamentos de órgãos reguladores e consumidores sobre a divulgação de operações limpas. Coca-Cola, Pepsi, Danone têm que explicar o uso de garrafas plásticas “100% recicláveis”.
Cerco à maquiagem
O policiamento ao greenwashing aumentou desde o ano passado com a aprovação de novas leis na Europa e na Ásia, que impõem critérios mais rígidos para a rotulagem de produtos apresentados como sustentáveis e para coibir a utilização de mensagens ambientais enganosas. A União Europeia, por exemplo, exigirá comprovação sempre que alguma empresa usar em sua publicidade termos como “amigo do ambiente”, “natural”, “biodegradável”, “neutro em termos climáticos” ou “ecológico”. O uso de selos de sustentabilidade será regulamentado, com a exigência de certificação por órgãos oficiais.
Greenhushing
Enquanto muitas companhias exageram na maquiagem de dados em produtos e em relatórios de gestão (greenwashing), o mercado identificou uma outra prática numa parcela de empresas que adotam medidas sustentáveis nas suas operações. É o greenhushing. Neste caso, os negócios implantam soluções para atender a agenda ESG, mas evitam divulgar resultados por temer avaliações mais críticas em razão da falta de indicadores de desempenho (KPI – Key Performance Indicator).
Eletricidade nacional (I)
A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) divulgou um balanço onde mostra que a participação desta fonte na matriz elétrica nacional subiu de 11,6%, em fevereiro de 2023, para 17% no mesmo mês de 2024. Em 12 meses, o setor ganhou cerca de 14 GW de potência instalada, chegando a 39 GW de capacidade operacional. As usinas eólicas respondem por 12,9% da matriz energética do Brasil, enquanto 48,7% ficam com as hidrelétricas.
Eletricidade nacional (II)
No ano passado, a geração própria de energia, a partir de placas fotovoltaicas instaladas em telhados ou terrenos, chegou a 24,4 GW de capacidade instalada, representando cerca de 11% da geração de energia elétrica no país, conforme o Ministério de Minas e Energia. No total, o parque gerador brasileiro somou 196 GW em 2023. As fontes de energia renovável – hidrelétricas, eólicas, fotovoltaicas e térmicas a biomassa – responderam por 83,6% da geração.
Eletricidade nacional (II)
A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) estimou o consumo médio nacional em 2023 em 69,3 GWh, com picos chegando a 101 GWh. Os dados revelam que houve mais oferta que demanda. Mesmo assim, várias partes do País apresentaram instabilidade no fornecimento. Os problemas são atribuídos aos sistemas de transmissão de alta voltagem e de distribuição aos consumidores.
(Foto: Romina Farias/Unsplash)
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