Nascido na cidade do Porto, Portugal, em 1923, faleceu em Paty do Alferes, Rio de Janeiro, em 2012. Veio para o Brasil aos nove anos de idade. Iniciou suas atividades artísticas no Liceu de Artes e Ofícios, na então capital do Brasil. Iniciou com desenho e continuou sob a orientação de Carlos Oswald na gravura, que foi por toda a sua vida sua maior paixão. Foi também professor, autor e crítico de arte.
Conheci Orlando em uma tarde, quando montava minha primeira pequena exposição individual na Sala de Pedra da sede da Fundação Cultural de Curitiba, na época, situada à praça do Relógio, sob a direção executiva da saudosa Lucia Camargo. A partir daí, tivemos oportunidade de nos conhecer melhor. Ministrou palestra no Pró-Criar e comercializei suas obras por algum tempo. Não sou nem a pessoa mais próxima, nem aquela que melhor conheceu sua obra, sou apenas grata e admiradora de sua trajetória tão importante para a arte da gravura no Brasil e especialmente para Curitiba.
Para comemorar essa data, gostaria de falar um pouquinho sobre um de seus livros, aquele que fala de coleção – como colecionar gravuras. Essa obra, chamada “Decolecionismo”, foi produzida em Curitiba, com o apoio do governo do estado, em 1990. Diz o mestre sobre o assunto:
“Colecionar é guardar determinados objetos com uma certa ordem. Uma coleção é retrato íntimo de seu possuidor, crescendo às vezes tanto, que este retrato toma uma amplidão tal que reflete um país, uma época. Diz dos anseios, costumes, histórias de um povo. Há coleções públicas, em que vários colaboram, mas mesmo estas, partem sempre da ideia de um indivíduo”.
Sendo a gravura seu objetivo principal nessa obra e, sendo ela a arte da reprodução, o autor nos fala de assuntos importantes como a assinatura, o papel, a originalidade da impressão e sua numeração e da edição e mercado – questões, hoje, não muito conhecidas e/ou respeitadas pelos criadores ou colecionadores. Comenta que colecionismo é um jogo entre a vida e a morte “a negação desta e a possível eternização daquela”. Não se coleciona coisas vivas, pois uma coleção dever ser perpetuada indefinidamente, muito além da vida de seu criador e, nesse caso, menciona a coleção de insetos e de plantas também. No entanto, acrescenta que a coleção, em si, é uma coisa viva, que nasce, cresce e se modifica continuamente. Continua expondo dificuldades do colecionador tais como o espaço para armazená-la e as condições e de sua conservação.
Antes de entrar no assunto mais específico, o da gravura e suas técnicas, mas ainda ponderando sobre coleção, Orlando nos fala sobre a morte da coleção: “Até aqui tenho tentado transmitir que a coleção é um organismo vivo que, quando esfacelada, deixa de existir. Cada uma de suas peças não tem vida própria. Mas há um caso à parte na obra de Arte. Nele, cada peça (se é Arte) guarda um momento de vida (doada pelo Artista) que nunca abdica. Assim a obra de Arte mesmo encerrada na série, continua tendo vida independente das características desta […] nenhuma tentativa do colecionador pode descaracterizar a individualidade da obra de Arte em si. Ela é porque é.”
Com esse elogio à arte, deixo aqui um gostinho do pensamento desse artista, na intenção de que você possa, em sua busca pessoal, vir a conhecer mais profundamente esse assunto tão cativante e importante na história do ser humano. Nessa breve homenagem, espero ter trazido à luz um pequenino momento da obra e do pensamento do mestre Orlando DaSilva, que tanto contribuiu para o desenvolvimento da arte em nossa cidade.
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