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TITTON-CABECA-COLUNA

A água

11/02/2025
a água

Tudo que interessa ao homem interessa à arte e aos artistas. Do nascimento à morte, passando por alegrias e tristezas, nosso planeta e o universo do qual faz parte, bem como a água de que somos compostos e que cobre grande parte da superfície da terra são temas recorrentes. Os dois átomos de Hidrogênio com um de Oxigênio que formam as moléculas desse elemento, incolor e inodoro, que denominamos de água, são, em última análise, a razão de existirmos e, portanto, não poderiam deixar de ser percebidos pelo olhar inquiridor e o fazer criativo do artista.

Caídas do céu, em formato de chuvas tropicais que experimentamos nos verões, que, numa natureza sem a presença dos homens, tais águas torrenciais, seriam apenas acontecimentos “normais” gerando transformações “normais”, com a nossa presença na terra, muitas vezes tornam-se catastróficas e destruidoras dos ambientes que criamos artificialmente. Atentos a esses fatos e ocorrências, imagens desses momentos aterrorizantes são, por nós, gravadas em filmes, escritos, fotografias, pinturas e outras formas de arte.

 

"Tempestade no mar da Galiléia" Rembrandt-1633-óleo sobre tela- 160x128cm -localização desconhecida.
“Tempestade no mar da Galiléia” Rembrandt-1633-óleo sobre tela- 160x128cm – localização desconhecida.

As tempestades geram controvérsias: há quem as ache lindas e emocionantes e há aqueles que as temem. Cada um registra as águas revoltas conforme a sua percepção. O óleo de Rembrandt, ”Tempestade no mar da Galiléia” de 1633, roubada do museu onde era exposta, em 1990 e nunca recuperada, foi a única obra do autor que retrata o mar. Já William Turner, artista inglês (1775-1851), pintor, gravurista e aquarelista romântico, considerado um dos precursores do modernismo, com suas dinâmicas e coloridas obras de mares revoltos, nos apresenta a assustadora pintura a óleo sobre tela que descreve um momento do “ Navio a vapor numa tempestade de neve” (1842).

Num outro país, com clima e imaginários muito diferentes as tempestades são de outra esfera: as da paixão, quando as águas correm junto com o lamento do ser apaixonado. Os compositores Ary Machado e Pedro de Sá, criaram o grande clássico sertanejo interpretado por Tonico e Tinoco (período de atuação: 1935-1994) que conta as desventuras de um amor perdido em que o enamorado chama a morena cheirosa para voltar e beber das águas da fonte que se levanta no meio do chão a cantar:

…“E a fonte a cantar chuá, chuá
E a água a correr chuê, chuê
Parece que alguém tão cheio de mágoa
Deixasse quem há de dizer a saudade
No meio das águas rolando também”…

As águas, nem sempre revoltas ou tristes, encontram-se calmas nos lagos ou geladas quando sevem ao lazer nas românticas piruetas da patinação, ou em seu perpétuo movimento quando formam ondas gigantes que atraem, de distantes lugares do mundo, os surfistas ousados. Há, também, aquelas que quebram nas pedras ou nas areias das praias onde as crianças montam seus castelos, desafiando a espuma que os ameaça derrubar.

 

"Sem título"- Paulo Dias- 2001- óleo sobre tela- 70x50cm- Graciosa Country Club-Curitiba.
“Sem título”- Paulo Dias- 2001- óleo sobre tela- 70x50cm- Graciosa Country Club-Curitiba.

Águas, de todos os tipos, tem servido de metáfora para explicar conceitos filosóficos às crianças, como em “Ondas à procura do mar” de Pierre Weil (AGIR Editora-1987):

“Era uma vez…alíás sempre houve e sempre haverá uma extensão incomensurável, um espaço azul, luminoso, brilhante, de uma beleza indescritível.

Ele está lá, com toda a sua serenidade.

Uma paz infinita o inunda e o impregna.

É o grande Oceano, o Grande Todo, esse grande Ser sem forma, que forma as ondas de sua felicidade, verdadeiras ondas de luz. Esta plenitude, ele a vive constantemente graças ao grande arrepio de alegria que o percorre a intervalos regulares.”…

Assim tem início a história criada pelo renomado psicólogo, cuja obra mais conhecida, entre nós, é ”O Corpo Fala”. “Ondas à Procura do Mar”, falando do oceano, tenta responder questões essenciais da existência humana. Vale a pena conhecer, sobretudo para os jovens.

 

"Mostra Fractal" Marcos Bento-acrílica sobre tela- 160x180cm.
“Mostra Fractal” Marcos Bento-acrílica sobre tela- 160x180cm.

Encerramos aqui com a imagem da pintura em acrílico de Marcos Bento (catarinense residente em Curitiba), datada de 2017, que apresenta sua visão, quase abstrata, das águas do mar batendo contra as pedras da praia. Abstratas, figurativas, filosóficas, emocionantes ou simplesmente alegres são as histórias que a arte nos conta sobre esse elemento primordial à nossa existência que é a água.

(Ilustração de abertura:”Tempestade de neve”- J.M.W Turner-1842 -óleo sobre tela-91x122cm-Tate Galary – Londres.)

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2 comentários em “A água”

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