No dicionário de Oxford:
Tecer verbo
1.transitivo direto
Entrelaçar metodicamente (fios, palha, vime etc.).
“t. a lã, um tapete, um cesto”
2.Transitivo direto e intransitivo
Produzir (tecido), manipulando fios pela urdidura e a trama.
“Ela tece (belos panos de lã no tear)”
Ela, no caso, seria a mineira Zélia Scholz, nascida em Jacutinga, no sul de Minas Gerais, artesã desde os 12 anos de idade. Mulher sorridente e disponível, foi responsável pela primeira barraca da feirinha de domingo (Feira de Artesanato do Largo da Ordem aqui em Curitiba), instalada, ainda hoje, no mesmo local, em frente ao prédio da Fundação Cultural de Curitiba.
Conheci a Zélia nos meus tempos de Centro de Criatividade de Curitiba, onde ela ministrava aulas de tecelagem nos teares rústico e de pente. Com ela aprendi que uma roca (já conhecida pelas mãos da “Bela Adormecida”) serve para formar, magicamente, um fio. Na época, usávamos a lã de carneiro. Ela nos ensinou a cardar e fiar para depois tingir e tecer a lã. Eu gostava da lã da ovelha negra (haha!), que, aliás, era marrom.
Adquiri os dois teares de um fabricante, cuja casa ficava “na curva” da Mateus Leme, a algumas quadras acima do Centro de Criatividade e, com infinita paciência, teci para a casa nova, duas poltronas de armação de metal cromado, com os novelos de fios de lã de carneiro orgulhosamente cardados, fiados e tingidos por mim. Lembro também, com muito carinho, do meu primeiro prêmio de artes plásticas, ainda como aluna da Belas Artes, apresentando uma peça tecida com fios de seda sobre uma urdidura de sisal em suporte de alumínio. Os fios dessa obra tinham vindo de Minas, presenteados à minha mãe pela minha avó paterna, Vovó Zulmira.
Bem mais tarde, nos anos 90, já trabalhando com crianças na minha escola, o Pró-Criar, convidei Zélia para ensinar as crianças. Ela, como não podia deixar se ser, atendeu prontamente ao meu convite. Mandamos fazer pequenos teares rústicos, um para cada criança e, para a nossa surpresa, com seus pequenos dedos, encantadas e focadas no trabalho, as crianças produziram lindas e criativas tecelagens.
Continuando o legado deixado por Zélia Scholz (falecida aos 89 anos), seu filho René, também tecelão, é diretor do Pequeno Museu da Tecelagem e professor do sistema penal do estado. Trabalha com jovens e adultos como professor de arte no currículo básico, utilizando-se, eventualmente, do tear. René também tem viajado pelo Brasil ministrando cursos de tecelagem e semeando, por esse imenso país, a arte dos fios, que o ser humano vem desenvolvendo, magistralmente, desde que descobriu suas imensas possibilidades.
Esse é um assunto impossível de se abordar em sua totalidade, tão presente na essência dos povos das mais diversas origens. Encerro aqui minha singela homenagem, com um pequeno poema, de imensa delicadeza, que ofereço aos meus colegas de coluna, que se expressam pela palavra.
“O poeta fia o mundo
no casulo da linguagem
Qual bicho-da-seda
se alimenta
de palavras”.
(Luiz Otávio Oliani)
Leia outras colunas da Elizabeth Titton aqui.
2 Comentários
Gostei do artigo. Obrigado
Que encanto esta matéria, percebesse a sensibilidade e encantamento nas suas palavras, tudo o que precisamos leveza, um presente enorme para todos os leitores.🙏