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TITTON-CABECA-COLUNA

A cerâmica

22/10/2024

Vivemos no planeta Terra e costumávamos pisar na terra, antes dos calçados e das calçadas. Foi quando modelei argila, como adulta, pela primeira vez, que me descobri escultora. Criar a partir da massa disforme e plástica é emocionante! Fazer surgir algo de onde nada havia é divino. Por isso, talvez, o homem tenha começado tão cedo a se utilizar da terra/argila para criar objetos. Segundo consta, primeiramente figuras relacionadas às suas crenças e, em seguida, os utilitários que, diga-se de passagem, são de beleza extraordinária.

“Passadas”, Maria Helena Saparolli - 1997 – 86x84x1,5cm – Cerâmica e ferro .
“Passadas”, Maria Helena Saparolli – 1997 – 86x84x1,5cm – Cerâmica e ferro .

Joaquim Chavarria, ceramista, escultor e professor em Barcelona, na obra “A Cerâmica”, da Coleção Arte e Ofícios da Editorial Estampa (1997) diz: “Quando o homem pré-histórico descobre o fogo e sua capacidade para endurecer o barro, todo um mundo de possibilidades se abre perante ele. Mas será apenas no Neolítico, quando o homem se sedentariza e se dedica pela primeira vez à agricultura e ao pastoreio que a cerâmica se vai desenvolver e difundir”.

Por todo o mundo, diferentes processos e escolas de como se trabalhar a cerâmica foram se espalhando e criando uma riqueza imensa – que o digam os museus repletos de maravilhas. Em nosso dia-a-dia ela está presente, desde o filtro de água, pratos e canecas até as que chamamos de obras de arte e salvamos em lugares especiais em nossas casas, nem sempre a salvo de uma eventual aventura infantil.

da série “Amebas”, Glauco Menta - 2013 – cerâmica esmaltada – coleção particular – Foto : Gilson Camargo.
da série “Amebas”, Glauco Menta – 2013 – cerâmica esmaltada – coleção particular – Foto : Gilson Camargo

Dentre os salões nacionais de artes plásticas promovidos pelo Estado do Paraná, onde artistas de todo o Brasil e de países vizinhos puderam participar mostrando sua produção, destacou-se o Salão de Cerâmica, realizado por muitos anos pelo Museu Casa Alfredo Andersen, que mantinha, e ainda mantém, uma escola pública para ensinar as técnicas e a arte da cerâmica. Graças a esses eventos, criou-se uma geração de artistas que ainda hoje brilha no cenário nacional. Muitos surgiram também da oficina do Centro de Criatividade de Curitiba e outros ateliers públicos e particulares bem como da Escola de Música e Belas Artes do Paraná.

“intrusão 5”, Ligia Borba – 2021/2022 - 40x16x35 – queima 1230 graus – Foto: Gilson Camargo.
“intrusão 5”, Ligia Borba – 2021/2022 – 40x16x35 – queima 1230 graus – Foto: Gilson Camargo.

Para citar apenas alguns desses nomes, peguei aqui, nos meus alfarrábios, o catálogo do 10° Salão Paranaense de Cerâmica, realizado de 3 de outubro a 3 de novembro de 1991, no Museu Casa Alfredo Andersen. O júri foi composto por Helena Montenegro, do Rio de Janeiro, Lizete Szczepanski, de Campo Largo-PR, e João Carlos Goldberg, também do Rio, todos com vasto currículo na área. Nessa mostra foram premiados Alice Yamamura (já não mais entre nós, artista e pessoa admirável, que homenageio aqui), Licinio Lima e eu – por isso tenho aqui o catálogo em mãos. Porém, participaram ilustres ceramistas como Marilia Diaz, Maria Helena Saparolli, Marly Willer, todas, mestres ceramistas que além de produzir arte inédita de grande qualidade, ensinaram e dividiram conosco os seus saberes, sempre com muito empenho e paixão. Não posso deixar de citar aqui Glauco Menta, cuja arte admiro, e Lígia Borba, grande ceramista e professora, cujo estímulo me levou a enveredar pelos caminhos do tridimensional.

Hoje, a arte da cerâmica está muito desenvolvida em nossa cidade e são inúmeros os artistas e os espaços de ensino de arte de qualidade. Temos a Sada e a Casa do Ceramista, para citar dois lojistas que batalham com seriedade para oferecer os materiais de que precisam os artistas para realizar suas criações. São hoje muito mais sofisticadas do que nos primórdios, o que não quer dizer que a maravilhosa arte indígena e de tantos grupos de produção artesanal por todo o Brasil, que utilizam desde a simples queima na fogueira até a famosa Cerâmica Marajoara, sejam, de forma alguma, arte menor.

O fogo que queima a terra e a endurece é o mesmo fogo da paixão que leva o homem a buscar colocar suas impressões e personalidade, suas culturas de infinita beleza à disposição do mundo, seja nos museus, ou nas nossas casas, para suavizar os nossos corações.

Ilustração de abertura: da série “Oi, coração”, Alice Yamamura – 2001 – dimensões variadas – do livro “Presença de Alice” – foto: Gerson Marçal (detalhe).

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